Publicado originalmente em inglês em 24/02/2021
A Lei de Newton diz que tudo o que sobe uma hora cai. Os investidores do petróleo não querem ouvir isso, evidentemente.
Como o gato proverbial de várias vidas, o rali no petróleo tem sobrevivido a uma sequência de testes fatais.
O ritmo longe do desejado das campanhas de vacinação contra a Covid-19 e a fragilidade da recuperação nos EUA são dois exemplos de fatores que não intimidaram os investidores do petróleo.
O mais notável é a sua indiferença mostrada à anêmica demanda de gasolina, combustível de aviação e frações mais pesadas de petróleo, enquanto o mundo continua fazendo menos viagens de carro, avião e navios em comparação com o ano passado.
As atenções desses investidores parecem estar voltadas às reduções semanais de estoques petrolíferos nos EUA desde o fim de janeiro. Os declínios nos estoques de petróleo se devem à maior atividade de refino em antecipação ao aumento de demanda nos próximos meses, com base nas metas de imunização do governo Biden e outras administrações.
Exceto no caso da China – e, por extensão, da Índia –, o resto do mundo, principalmente os Estados Unidos, estão registrando uma demanda mais implícita das refinarias do que propriamente uma demanda concreta dos usuários finais de combustíveis. Mesmo assim, os preços de ambas as referências do petróleo e derivados, como gasolina, estão sendo negociados nas máximas pré-pandemia.
Isso não quer dizer que os investidores do petróleo tenham ignorado completamente os pontos negativos do mercado.
Na última sexta-feira, os preços de referência registraram sua maior queda em um dia desde meados de janeiro, com o barril americano de West Texas Intermediate desvalorizando-se 2% e o barril de Brent caindo 1,6% em Londres por causa dos distúrbios na produção do Texas ocasionados pela onda de frio intenso que fechou refinarias e aumentou os estoques de petróleo.
Mas esses declínios de preço estão muito aquém dos enormes ganhos que fizeram os preços do WTI e do Brent saltarem pelo menos 70% desde o fim de outubro.
A cada correção, um rali ainda maior
Qualquer derrapada considerável nos preços é geralmente seguida de um rali ainda maior nos pregões seguintes. A liquidação de sexta-feira, por exemplo, foi eclipsada pelo salto de 4% na segunda no WTI por conta do otimismo com o pacote de auxílio emergencial de US$ 1,9 trilhão proposto por Biden.
De fato, as expectativas com esse estímulo, combinadas com a euforia nas ações e os juros a quase zero fixados pelo Federal Reserve desde o início da pandemia criaram uma inundação de dinheiro fácil nos mercados. O resultado foi um rali superturbinado das ações às commodities, graças às compras generalizadas de investidores de todos os perfis, desde day traders até hedge funds e gestores financeiros institucionais.
Como o lucro fácil é o que está mantendo o ímpeto do rali nas commodities, é bastante provável que essa corrida sofra algum revés quando o fluxo de dinheiro para os mercados atingir algum tipo de pico temporário nas mentes dos investidores.
Em termos práticos, uma correção no petróleo pode ocorrer assim que a janela de estímulo de Biden se fechar com sua aprovação no Congresso. Ou pior, se o pacote enfrentar obstáculos por alguma razão no Senado, onde os democratas que apoiam o presidente têm uma maioria simples de apenas um voto. Até lá, é relativamente seguro afirmar que não haverá uma queda significativa ou prolongada no petróleo.
Biden tem direcionado todas as suas atenções ao auxílio emergencial, que é a sua maior prioridade nos 100 primeiros dias de governo, além da vacinação do número máximo de americanos. Apesar da forte correção do Nasdaq nos últimos dois dias, as commodities e Wall Street apostam todas as suas fichas no presidente.
Prazo até meados de março para o estímulo pode ser chave para o petróleo
O líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, estabeleceu a data de 14 de março como prazo final para aprovação do pacote de Biden contra a Covid-19. Esse também pode ser o prazo final para o rali no petróleo atingir seu pico temporário, seguido de uma considerável correção.
Evidentemente, nada disso é imutável, e os preços de energia podem seguir em qualquer direção nas próximas três semanas. O Bank of America Merrill Lynch considera que o Brent subirá até US$ 70 até o fim do primeiro trimestre. Já o Goldman Sachs acredita que a referência mundial do petróleo alcançará US$ 75 até o terceiro trimestre.
Os possíveis acúmulos de petróleo nas próximas semanas podem pesar sobre os preços, principalmente se as refinarias do Texas levarem mais tempo do que o previsto para se recuperar da pior nevasca em três décadas a atingir a região mais importante de energia nos EUA.
Também há a grande questão quanto a um eventual acordo entre EUA e Irã nas próximas semanas para que a nação persa volte a exportar petróleo novamente ao mundo sem as sanções da era Trump.
Claro que o grande “se” de tudo isso é a disposição da república islâmica em primeiro atender à exigência de Biden para interromper seus esforços de enriquecimento de urânio – isto é, construção de uma bomba nuclear – para que as negociações avancem com a Casa Branca.
Em seu auge, o Irã produziu 4 milhões de barris por dia e exportou cerca de metade disso antes das ações impostas por Trump em 2018.
Mas muitos analistas, inclusive o Goldman Sachs, estão minimizando o potencial impacto do retorno do Irã ao mercado de exportação de petróleo. Em uma nota emitida no fim de semana, o banco de Wall Street afirma:
“Em particular, a recuperação das exportações iranianas deve levar meses e se acomodar em nossa previsão de aumento agressivo na produção da Opep+ neste verão”.
“Isso aumenta nossa convicção em um mercado restrito neste verão, quando esperamos uma normalização dos estoques na OCDE", concluiu a instituição.
Novo acordo da Opep+ e efeito do petróleo a US$ 65 no shale americano
A produção da Opep+ indicada pelo Goldman Sachs corrobora as observações feitas no início desta semana por meu colega Geoffrey Smith sobre um rali aparentemente sem fim no petróleo.
Seu artigo registra que a Rússia já está pressionando por um grande aumento de produção na revisão mensal do pacto de produção na Opep+, na próxima semana.
Quando o bloco se reunir em abril para definir os níveis de produção, a Arábia Saudita quer inevitavelmente reverter o corte unilateral de 1 milhão de barris por dia que o reino realizou para preservar a unidade fragilizada do grupo há um mês.
Para contexto, a Arábia Saudita e a Rússia conseguiram manter sua rivalidade sob controle e mantiveram sua promessa de restringir a oferta. Ao todo, a Opep+ ainda mantém mais de 6 milhões de barris por dia em capacidade de produção em reserva. Com isso, os estoques mundiais, que atingiram níveis recordes com a derrocada da demanda em meados do ano passado, devem retornar à sua média de cinco anos até meados deste ano, de acordo com o último relatório mensal da Agência Internacional de Energia.
As elevações da Opep+ podem estimular os produtores de shale oil americanos a aumentar pela primeira vez sua oferta em um ano, que tem caído desde que atingiu o recorde de 13,1 mbpd em março de 2020. Se bem que os produtores de shale ainda estejam em modo de preservação de caixa, o fato de o WTI e Brent estarem sendo negociados a cerca de US$ 65 definitivamente pode servir de estímulo para a adição de barris, observou Smith.
Caso o petróleo entre em fase de correção, até onde pode ir tecnicamente?
Sunil Kumar Dixit, de Kolkata, Índia, dá algumas pistas, definindo os alvos de US$ 51,60 e 58,30, para o WTI e o Brent, respectivamente. Segundo o analista, o movimento de ambos já está superestendido há meses.
Dixit disse ainda:
“Um rompimento da mínima de 19 de fevereiro do WTI a US$ 58,57 coincidirá com o meio da Banda de Bollinger no gráfico diário e a média móvel simples de 20 dias”.
“Em seguida temos a mínima de 12 de fevereiro a US$ 57,39, que pode desencadear uma cadeia de ciclo corretivo, fazendo o WTI atingir a média móvel exponencial de 10 semanas a US$ 55,10 e a média de 50 dias a US$ 54,77. O sell off pode se estender até a área de suporte horizontal a US$ 53,77-51,60.”
No Brent, o analista afirma que os sinais de fraqueza começam “com um rompimento para baixo de US$ 62,30 e um teste da média de 200 semanas a US$ 58,30”.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. Como analista do Investing.com, ele apresenta visões distintas e variantes divergentes de mercado.
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