Se você me acompanha semanalmente neste espaço, já deve ter notado o meu apreço por promoções.
Sou tão engajado com o assunto que há quase dois meses já escrevia aqui sobre a tão aguardada Black Friday...
De lá para cá, tenho feito a minha lição de casa antes de ir às compras.
Entre pesquisas de campo e pela internet, já levantei minha relação de compras para esta semana.
Cético como sou, também não pude deixar de registrar devidamente os preços dos produtos nesse ínterim.
Tudo isso para não cair novamente no conto da “metade do dobro” (sim, eu já caí!).
Mas também porque sou um “sujeito seguro” (na ausência de um termo melhor para qualificar uma pessoa econômica).
De qualquer forma, assim como buscamos fazer a lição de casa procurando as promoções dos produtos do nosso interesse, deveríamos fazer o mesmo quando o objetivo é investir o nosso dinheiro.
Afinal, o ato de investir não foge – ou não deveria fugir – muito da lógica que utilizamos para as tomadas de decisões do nosso dia a dia.
Contudo, assim como ocorre com as promoções esporádicas que temos por aí, comprar ativos bons e baratos também exige muita pesquisa e paciência, pois nem tudo que é bom está barato, e nem tudo que está barato é bom.
Conhecer muito bem as opções no mercado é essencial para identificar boas oportunidades, mas saber por onde começar a procurá-las é tão importante quanto.
Começar a procurar onde ainda há bons descontos é um bom pontapé inicial, pois economiza tempo.
Falando nisso, tenho visto há algum tempo um caso entre os FIIs que me chama a atenção.
Tijolo versus papel
Os Fundos Imobiliários vêm se recuperando muito bem desde o auge da pandemia nos mercados.
Embora o IFIX esteja caindo 12,5 por cento em 2020, o índice já subiu quase 29 por cento desde o seu momento mais crítico do ano.
Mas, assim como ocorre com a economia e os demais ativos de risco, essa recuperação não vem ocorrendo de maneira homogênea.
Elaborados pelo Banco Inter (SA:BIDI4), o índice IFI-E (SA:IFIE11) (indicador com os principais fundos de tijolo do mercado) apresentou uma recuperação superior a 30 por cento desde março, enquanto o IFI-D (índice com os principais fundos de CRIs) se recuperou menos, em torno de 24 por cento no mesmo período.
Por que os fundos de tijolos se recuperaram muito mais do que os fundos de CRI?
É verdade que parte significativa da recuperação dos fundos de tijolo (IFI-E) no período é atribuída ao belo desempenho dos Fundos de Logística, os grandes vencedores do ano entre os FIIs.
Mas os Fundos de shoppings e de lajes possuem, juntos, um peso muito superior sobre o IFI-E, e os dois segmentos não vêm obtendo performances tão boas assim…
O que me faz olhar o outro lado da moeda:
Por que os fundos de CRI se recuperaram muito menos do que os fundos de tijolos desde março?
Parte do resultado pode ser justificada pela baixa performance do KNCR11 (SA:KNCR11).
O fundo de recebíveis da Kinea possui grande exposição à Selic/CDI (94 por cento da carteira), o que vem pressionando os seus rendimentos e, por sua vez, o preço da sua cota de mercado.
Como o fundo possui um peso importante sobre o IFI-D (16 por cento), ele acaba contribuindo para o desempenho mais tímido do indicador de fundos de papel.
Entretanto, mesmo quando levamos esse aspecto em conta, ele também não é o bastante para justificar a performance relativa inferior dos fundos de papel nos últimos meses.
Eu não sei qual é exatamente a racionalidade utilizada pelo Sr. Mercado.
Mas me parece que os fundos de CRIs estão, no agregado, mais em conta do que os de tijolo neste momento.
O que se confirma também quando olhamos o prêmio muito superior que o IFI-D está negociando em relação ao cupom do título Tesouro IPCA+ de 5 anos, quando comparado ao IFI-E.
Comparação entre o rendimento do IFI-E (índice de fundos de tijolos) e IFI-D (índice de fundos de papel) com o cupom do Tesouro IPCA+
Compre Fundos de Papel
Além do desconto, muitos fundos de papel vêm apresentando belos rendimentos mensais nos últimos meses frente a outros segmentos, mesmo quando desconsideramos o impacto temporário do IGP-M em alguns dos participantes da categoria.
O desconto frente a muitos fundos de tijolo, a boa distribuição de proventos e a resiliência de muitos FIIs de CRI ao longo do ano vêm mostrando que essa categoria possui um belo custo benefício para o investidor que está em busca de promoções em um mercado que já não está mais uma barganha.
Mas cuidado. Não é todo fundo de papel que está nessa posição favorável.
Assim como as falsas promoções que encontramos na Black Friday, há atualmente casos de fundos de CRI caríssimos, que possuem baixo potencial de ganho ou, ainda, aqueles com créditos mais problemáticos.
Portanto, é preciso saber escolhê-los muito bem. Afinal, lembre-se de que estamos falando do seu suado dinheiro.
Diversifique
Por fim, não é porque essa categoria está com um bom custo benefício no momento que você deve concentrar seus investimentos apenas nela.
Lembre-se que, no início do ano, quando ninguém sabia o que era a Covid-19, a bola da vez eram os FIIs de shoppings.
Não preciso dizer o que aconteceu com a carteira dos investidores que concentraram seus recursos no segmento naquele época, preciso?
Um abraço e até a próxima