E esta pode ser uma boa notícia para os países emergentes que assim terão um tempo maior para preservar os investimentos estrangeiros, mas que inevitavelmente deverão ser gradualmente reduzidos na medida em que o “tapering” do QE for reduzindo a liquidez do mercado internacional.
E o Brasil estaria incluso neste cenário de não piora pela reversão de capitais estrangeiros locados no país, porém o país tem inúmeros problemas de natureza macroeconômica que acabam por conspirar contra os seus interesses, mesmo quando o sentimento inicial é de que o beneficiaria.
A inflação passou a ser a “grande estrela” das eleições e, cada vez mais emite sinais de aquecimento e percepção por parte da população. O governo que vinha utilizando mais acentuadamente o juro neste enfrentamento, sem grande sucesso embora já tenha subido 375 pontos na taxa SELIC, está agora recorrendo a uma velha tática de induzir à artificialização a taxa da moeda americana colocando-a em linha de depreciação para utilização como coadjuvante ao juro para combater a espiram inflacionária.
Porém, o ambiente predominante não facilita esta prática por parte do BC por ser muito ruins a situação e as perspectivas para o país no setor externo.
Faz-se no momento uma intensa “orquestração” em torno dos fluxos de capitais especulativos para o país, relegando-se para segundo plano nas observações o intenso fluxo de saídas de recursos do país, que ocorre em concomitância.
A divulgação dos números do mercado de câmbio à vista pelo BC ontem, deixou muito evidente um quadro de desconforto com o fluxo cambial liquido, o que poderá prejudicar sobremaneira o propósito da autoridade monetária utilizar a moeda apreciada para combater a inflação.
O fluxo cambial líquido de recursos externos é irrisório para as necessidades do país. Até o dia 4 de abril atingia no todo somente positivos US$ 159,0 M e, especificamente no fluxo financeiro, irrisórios US$ 1,330 Bi. Pouco, aliás, muito pouco para um país que registra uma insuficiência de fluxos da ordem de US$ 18,1 Bi que vem sendo carregada em posições liquidas “vendidas” dos bancos no mercado de câmbio à vista, com baixíssimas perspectivas que venham a ser auto cobertas pelos fluxos advindos do próprio mercado.
E devemos considerar que o contexto do fluxo cambial só não está pior pelo fato de empresas ligadas ao governo terem realizado substantivas captações de recursos no exterior.
Neste ano até 4 de abril ingressou no país o montante de US$ 181,255 Bi e saiu US$ 181,096 Bi, onde se identifica o fluxo cambial liquido até aquela data de US$ 159,0 M.
O BC reluta em realizar leilões de venda de divisas ao mercado à vista e resolver esta questão com a utilização das reservas cambiais, e o vem fazendo com a estratégia temporária de conceder linhas de financiamentos em moeda estrangeira que já representam 3,10% das reservas cambiais para ancorar esta exposição dos bancos. O BC sabe que se realizar leilões de venda acabará criando ruídos em torno da baixa atratividade do país aos capitais estrangeiros, e permitindo que movimentos especulativos em torno do real possam vir a ser desenvolvidos.
O real substantivamente apreciado tende a desestimular o ingresso de capitais especulativos, mas é muito sugestivo de que os montantes já presentes no país e que tenham realizado ganho rápido batam em retirada, pois conseguem agregar também um ganho de variação cambial e com isto remetem mais dólares do que foram ingressados, além naturalmente do lucro.
Desta forma, o país que não atrai capitais estrangeiros de qualidade em grande monta, poderá também deixar de atrair os capitais especulativos face aos riscos de possível reversão do fluxo e apreciação da moeda americana.
O contexto atual do país não permite que se retomem práticas adotadas ao tempo em que o BC era presidido por Henrique Meirelles, visto que o país é “outro país” no que tange ao setor externo, em especial, e no cenário macroeconômico e isto provocou acentuada reversão em relação à atratividade que o país despertava, o que inviabiliza que se busque replicar mesmas formas com utilização do câmbio no combate às pressões inflacionárias.
É possível que ao final tenhamos inflação alta, dólar com preço apreciado e juro SELIC alto, sem, contudo, ter sido alcançada solução para este quadro macroeconômico bastante complexo em que está envolvido o país.
E então, mais uma vez se chegará à conclusão óbvia para resolver o problema da inflação, nem juro alto e nem dólar depreciado, mas o governo gastando menos e com qualidade.
Em perspectiva vemos o fluxo cambial tornando-se negativo, com perda do entusiasmo com o capital especulativo no curto prazo e acentuada saída de recursos do país ao longo do ano, repercutindo na formação do preço da moeda americana que deverá buscar sua realidade com apreciação, já que a estratégia de mantê-lo apreciado para conter a inflação é insustentável no contexto atual.