O CRI a que nos referimos no título pode não ser o que você está pensando sobre o lançamento de Certificado de Recebíveis Imobiliário. O CRI que queremos abordar é uma corruptela disso e se refere à necessidade de o governo fazer um CRI, aí sim uma Campanha de Recuperação de Imagem.
Na semana passada, o governo saiu com um discurso de que o mundo estava mal informado sobre o que estava acontecendo por aqui, diante da má vontade externa sobre nosso país, claramente detectada pelos recursos negados anteriormente ao país pela Alemanha e países escandinavos, que cortaram verbas alegando fraco controle e “descaso” com a preservação do meio ambiente, e mais especificamente com a preservação da Amazônia.
Nas últimas semanas, também temos sido manchete internacional, com os fundos que estatutariamente se preocupam com a preservação do meio ambiente negando investimentos no Brasil diante do noticiário dando conta do forte aumento de queimadas na região amazônica e da postura do presidente Bolsonaro de querer criar áreas de exploração mineral em terras indígenas e ter até falado bem das explorações no garimpo de Serra Pelada, no Pará, no início dos anos 1980, para onde se dirigiram milhares de pessoas e que trouxe muita desgraça.
Juntando isso com a pandemia, que obrigou o país a fazer gastos inimagináveis e que deve fazer com que a dívida bruta extrapole 95% do PIB em 2020, ainda tivemos o reflexo da aversão ao risco dos investidores, como detectou o BIS (Bank of International Settlement), o banco central dos bancos centrais, ao confirmar que foram sacados pelos investidores globais dos países emergentes algo como US$ 80 bilhões. Nós nos aventuramos a dizer que a maior parcela foi do Brasil, não só pelos dados de conjuntura frágeis, mas também por conta de nossos segmentos de mercado disporem de maior liquidez, viabilizando saídas estratégicas rápidas
Também é possível ilustrar isso ao lembrar que, nos idos de 2010, os investidores globais tinham 2% dos recursos aplicados no Brasil e, atualmente, essa participação retroagiu para 0,2%. Isso indica que o Brasil, que já foi a “menina dos olhos” dos investidores externos, deixou de figurar no radar internacional e, com o governo quebrado, que o ministro Paulo Guedes diz com todas as letras, estamos completamente dependentes de recursos externos para fazer o país crescer de forma mais acelerada.
O governo diz que o mundo está mal informado sobre nós. Mas será mesmo? Será que nesse mundo onde as notícias circulam em velocidade sideral e abrangente, alguém que tenha minimamente interesse no Brasil estaria mal informado? Certamente não. A realidade é que, por tudo que passamos (Impeachment, políticas econômicas erradas, burocracia, corrupção etc.), acabamos ficando para trás, e agora é uma corrida contra o tempo para fazer a tal campanha de recuperação de imagem de um país desagastado.
Nesse aspecto, principalmente dois ministros terão que mudar radicalmente seus discursos. O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e o das Relações Exteriores Ernesto Araújo. O Brasil se prepara para elaborar uma carta contendo dados que indiquem nossa preocupação com a preservação do meio ambiente e proteção de nossas florestas, mas entre a teoria de tentarmos demonstrar isso e a prática e verborragia reinante existe um enorme fosso. Vai ser difícil!
Outros ministros, como Paulo Guedes e Tarcísio Freitas (Infraestrutura), tentam se esforçar para vender uma imagem de reformas para tornar o Brasil competitivo e sério, com marcos regulatórios amigáveis para diferentes setores e preocupação em ajustar a economia no pós-crise. Mas, às vezes, a sensação que temos é que “pregam no deserto”.
Portanto, já que o presidente Bolsonaro parece estar mudando sua forma de governar, buscando maior harmonia entre os poderes, seria oportuno também que conseguisse domar seus ministros e afinar o discurso com a atualidade global de preservação ao meio ambiente. Isso facilitaria enormemente a atuação de toda a área econômica na atração de investimentos.
Alvaro Bandeira é sócio e economista-chefe do banco digital modalmais