Ao observarmos o cenário como um todo, fica claro que o mundo inteiro passa por dificuldades, o que torna difícil aos mercados encontrarem os preços justos para os mais diferentes tipos de ativos. Por aqui, não é diferente. O mercado doméstico continua deteriorado, o risco fiscal ainda é muito alto, além do que existe a possibilidade – e grande – de haver recessão global, atingindo também o Brasil.
Essa expectativa de recessão se baseia em diversos fatores como a guerra na Ucrânia, o corte na produção de petróleo anunciado pela OPEP e, principalmente, a política de alta de juros adotada por alguns países importantes. Inclusive, o FED, banco central dos Estados Unidos, tem mantido esse movimento sempre com viés de alta.
A taxa de juros, especificamente, tem influência direta nos resultados dos setores varejista, de construção civil e de tecnologia. O dinheiro fica cada vez mais escasso e as companhias desses segmentos sofrem muito com isso. Não por acaso, o crédito tem sofrido desaceleração, prova de que o nível de consumo está em queda. O ideal é que a taxa de juros do Brasil voltasse a cair. Mas isso tem de acontecer de forma planejada, baseada em argumentos técnicos e não na marra como quer nosso atual presidente. Sabemos que o mercado não funciona na base de broncas ou canetadas.
Pelo contrário. Quanto mais o governo tentar baixar a taxa de juros na marra, mais a inflação tende a aumentar e os juros tendem a permanecer no mesmo lugar. Enfim, temos problemas domésticos que precisam ser resolvidos para podermos pensar realmente em estratégias para fazermos alocações capazes de trazer bons resultados no curto e médio prazos.
Enquanto as soluções não são apresentadas, o que vemos é um mercado de capitais muito instável. Vamos pegar como exemplo a Magazine Luiza (BVMF:MGLU3), que acumula alta de 22,62% no ano, até 05 de abril. Mesmo com esse bom desempenho, no dia 23 de março os papéis da varejista deram um susto em todo mundo ao recuarem, em um único dia, 13,37%. É só um exemplo, poderia usar outros de setores diferentes. Os bancos também estão sofrendo.
O caso da Magazine Luiza não passou de um repique de uma tendência de baixa, que perdura já há alguns meses. Tanto que ele se recuperou nos dias seguintes. Porém, a sobe e desce do mercado financeiro está em um nível que eu diria que o risco é muito, mas muito alto para quem gosta de investimentos de curto e médios prazos. Para quem foca no curtíssimo prazo, diga-se, para quem faz day trade, nada muda. As oportunidades continuam as mesmas.
Dito isso, se alguém me pedisse agora uma sugestão de como o investidor que não gosta de day trade deve se posicionar, eu diria para ele pensar no longo prazo. O problema é que o brasileiro não tem de fato uma visão de longo prazo. A maioria das pessoas veem o mercado de renda variável como uma oportunidade de curto prazo. Para aquele investidor que pensa realmente em 10 anos, o curtíssimo prazo, o dia seguinte, a semana seguinte, o mês seguinte não fazem a menor diferença.
Soma-se a esse costume outra dificuldade do brasileiro que é enxergar qual o perfil dele de investimento. Ter essa definição é essencial para a estratégia de investimentos. Até porque, de tanto ouvir falar, certos investidores, talvez a maioria, até invistam no longo prazo. Mas no primeiro balanço daqui a seis meses ele se assusta e realiza o prejuízo. Para quem ainda não entendeu, longo prazo é algo entre cinco e dez anos.
E, sinceramente, temos vários indicadores na nossa Bolsa hoje que poderiam calcular um preço justo do Ibovespa por volta de uns 120 mil pontos. Só que nada impede de a gente vir para 90 mil pontos, 85 mil pontos antes de atingir os 120 mil. É uma questão comportamental. Acredito que o investidor, antes de mais nada, tem de pensar de fato no que ele quer. Resumindo, o cenário pede cautela para aquele investidor de curto e médio prazo. O investidor de longo prazo tem um cenário de oportunidade pela frente e essa volatilidade é o melhor dos mundos para o day trade.