Diz a sabedoria popular que “em casa onde falta o pão todo mundo grita e ninguém tem razão”. Nos últimos dias, assistimos a alguns embates entre o chefe do Executivo (Bolsonaro) e o presidente da Câmara (Rodrigo Maia). Rodrigo Maia critica a articulação política fraca do governo e diz que é preciso descer do palanque e começar a governar. Bolsonaro por sua vez acusou de tentarem retornar com a velha política do “toma lá dá cá” que tanto tem criticado.
O pior é que nessa dura batalha ninguém tem razão, e o fato claramente afeta a tramitação da reforma da Previdência, seja na demora de ser colocada em votação ou pela má vontade demonstrada por alguns políticos. Apesar de ter feito mea culpa de ter votado contra a reforma da Previdência em outras ocasiões, o presidente mostra ambiguidade (algumas vezes), não defendendo a reforma como a principal bandeira de seu governo.
Nesse meio de caminho controverso entre Executivo e Legislativo, ainda temos outros lances que enfraquecem a reforma. O líder do PSL criticou abertamente a reforma da Previdência dos militares. E o próprio presidente nomeado para a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) adiou a escolha do relator, o que só será feito depois que o ministro Paulo Guedes, artífice da reforma, for até a comissão para dialogar e explicar aos membros, fato que vai ocorrer em 26 de março.
Ainda nessas controvérsias podemos citar as atividades dos filhos do presidente usando a técnica do “bate e assopra”. Encontro Carlos Bolsonaro detona o presidente da Câmara, seu irmão dá declarações de que Rodrigo Maia é essencial na articulação política da reforma. O que só gera instabilidade e os investidores estão dando conta disso. Os juros sobem, principalmente nos títulos mais longos, o dólar voltou para a casa de R$ 3,90 e a Bovespa perdeu na semana que passou 5,45%, indo rapidamente do céu ao inferno, já que na semana passada bateu recorde de pontuação acima de 100.400 pontos, encerrando em 93.735 pontos.
O presidente Bolsonaro precisa acatar que negociar com partidos políticos faz parte da democracia e o entendimento entre os poderes é absolutamente fundamental. Isso acontece em todo o mundo. Basta, por exemplo, citar o exemplo do Brexit onde Theresa May tem que negociar não só com a oposição, mas com sua base de apoio. Outro exemplo pode ficar por conta do muro que Donald Trump quer construir na fronteira com o México e há posições contrárias dentro do próprio partido Republicano.
Portanto, negociar com partidos políticos ou acatar indicações de parlamentares para cargos de segundo e terceiro escalões não significa dar asas para a velha política ou corrupção, mas tão somente exercitar a democracia. As críticas ficam mais por conta de tirar o foco total da reforma da Previdência por coisas mais comezinhas como segurança pública, porte de armas e outras. O foco total deve estar centrado na Previdência que será a base de todo o resto e de o governo manter a credibilidade e capital político para outras reformas igualmente essenciais.
Já o presidente da Câmara não tem que se sensibilizar com uma ou outra declaração mais contundente. Rodrigo Maia, mais do que ninguém, sabe que aprovar uma boa Previdência de forma rápida será fundamental para o equilíbrio entre os três poderes e acomodação dos ânimos na sociedade brasileira. Porém, é preciso explicar para a sociedade a necessidade. Seria conveniente a adesão de todos. A oposição certamente seguiria fazendo barulho, mas não encontraria eco na sociedade.
Fiquemos com palavras sábias de Bernard Shaw: “O homem sensato se adapta ao mundo. O insensato persiste em tentar adaptar o mundo a si”.