Os mercados fecharam esta semana meio que ignorando os vários rebaixamentos ocorridos na sexta-feira anterior nos rating soberanos de vários países da zona do euro. Além da França, foram rebaixados Espanha, Portugal, Itália, Áustria, só nos mais importantes. Isto torna a capacidade de rolagem de dívida destes países cada vez mais complicada. Portugal, por exemplo, teve seus títulos rebaixados a junkbonds, e a Itália perdeu dois degraus, mesmo que ainda acima do rating do Brasil.
No entanto, ao longo da semana, nas rolagens de títulos realizadas por Portugal, Espanha e França, só para ficarmos nos mais importantes, a demanda foi forte e as taxas negociadas melhores do que o esperado. Como explicar isto ? Acreditamos que os investidores já haviam precificado estes rebaixamentos, não sendo surpresa para ninguém, o que fez com que as bolsas de valores atravessassem a semana ignorando este acontecimento. A França com uma dívida de 86% do PIB, e um déficit de 5,8% do PIB, já era considerada a bola da vez para ser rebaixada. Sendo assim, a perda do triple A para AA+, portanto, fazia todo sentido. A próxima a rebaixar deve ser a Fitch.
Sobre a situação fiscal da zona do euro, o que se tem é um cenário ainda muito delicado. O possível consenso dos 17 países membros da zona do euro, em torno da busca de uma convergência nos indicadores fiscais, pode ser um bom sinal, mas será que a Grécia consegue atingir as metas fiscais negociadas? É possível que o tal pacto fiscal seja fechado até fins de março. Nas negociações dos gregos com os credores, o que se tem é o pedido de deságios acima de 50%, podendo chegar a 70% sobre o que é devido aos credores privados. Em resumo, os bancos credores terão que arcar com pesados prejuízos neste processo.
Para piorar, Nicholas Sarkozy se confronta com uma eleição neste ano, e a possibilidade de derrota cresce depois deste rebaixamento. Neste contexto, com a zona do euro com situações fiscais tão diferenciadas, as taxas de juros locais e o custo de captação acaba tornando cada vez mais difícil qualquer convergência macro, ainda mais nos regimes fiscais diferenciados. A seguir, tentemos entender o que são estes ratings, como eles são avaliados e o que isto causa para os mercados.
O que significa o rating ?
O "rating" é uma opinião sobre a capacidade de um país ou uma empresa se manter solvente, ou seja, arcando com suas dívidas. Esta avaliação é feita por empresas especializadas, as agências de classificação de risco, que emitem notas, expressas na forma de letras e sinais aritméticos, que apontam para o maior ou menor risco de ocorrência de um default.
Para publicar uma nota de risco de crédito, os especialistas dessas agências avaliam além da situação financeira de um país, as condições do mercado mundial e a opinião de especialistas da iniciativa privada, fontes oficiais e acadêmicas.
O COFACE, multinacional nesta área de avaliação de rating, usa os seguintes critérios para avaliar o risco soberano dos países. Segundo esta empresa, a análise de Risco-País é uma análise com indicadores que classificam o nível de risco de transações realizadas por empresas em um determinado país.
Estes indicadores medem como os negócios são influenciados pelas perspectivas econômicas, financeiras e políticas externas de um país, em um ambiente corporativo.
Esta análise se baseia em três módulos: (1) Perspectiva econômica, política e financeira do país (ex.: enfraquecimento do desenvolvimento geopolítico, vulnerabilidade econômica, risco de crise de liquidez do câmbio, inadimplência de dívida externa, vulnerabilidade financeira do Estado e fragilidade do setor bancário); (2) Clima empresarial; e (3) Histórico de pagamento de uma empresa.
O "rating" é sempre aplicado a títulos de dívida de algum emissor. Se uma empresa quer captar recursos no mercado e oferece papéis que rendem juros a investidores, a agência prepara o "rating" desses títulos para que os potenciais compradores avaliem os riscos.
As agências, portanto, classificam debêntures, "medium-term notes", títulos de dívida conversível, mas não ações. A França perdeu a sua nota máxima de classificação de risco soberano, o famoso "AAA", na última sexta-feira, após a influente agência Standard & Poor's (S&P) ter considerado insuficientes as iniciativas tomadas por autoridades para tratar de riscos sistêmicos na Europa.
O país é a segunda maior economia da zona do euro depois da Alemanha, e agora se junta à lista dos países com "AA+" em que os Estados Unidos já se encontram desde agosto do ano passado. Para as outras duas grandes agências de risco, Moody's e Fitch, o risco soberano francês continua "AAA".
Quais são os países que continuam com grau de confiança máximo quanto ao pagamento de seus compromissos financeiros?
As nações que se mantêm no triple A, a nota "AAA", de acordo com cada uma das três principais agências de risco.
Grau de investimento
A nota de países é preparada a partir da iniciativa do emissor ou da empresa de "rating". As empresas de classificação de risco alegam que, mesmo sob encomenda, o "rating" é uma avaliação independente, porque também há preocupação com a credibilidade da própria agência.
O chamado "rating" global de um país, por exemplo, é sempre a avaliação que uma determinada agência tem sobre o risco dessa nação não pagar os títulos, de longo prazo, que lançou no mercado internacional.
Esses países também são encaixados em categorias. Se a agência considera um país como "bom pagador", ele é "grau de investimento". Se é visto apenas como um pagador de risco razoável, fica na categoria "grau especulativo", que também inclui nações que declararam moratória de suas dívidas.
As agências monitoram constantemente os países ou empresas. Dessa forma, quando lançam um "rating", também avisam quais as chances dessa nota ser revisada no curto prazo.
Se o panorama é positivo significa que a nota tem maiores chances de ser melhorada. Se é negativo, as maiores chances são de que haja um "downgrade" (seja revisada para baixo, uma nota pior). Se é estável, há poucas chances de que seja mudada nos dois anos seguintes.
As principais agências de rating
As três agências de classificação de risco de maior visibilidade são a Standard & Poor's, a Moody's e a Fitch Ratings.
As agências usam praticamente o mesmo sistema de letras e sinais. Assim, a melhor classificação que um país pode obter é Aaa (Moody's) ou AAA (Standard & Poor's) que, conceitualmente, significam capacidade extremamente forte de atender compromissos financeiros. Na ponta oposta, um título classificado como "C", para a S&P ou a Moody's, tem altíssimo risco de não ser pago.