Recentemente li uma carta aberta do gestor John Huber, da Saber Capital, aos seus acionistas. Na época, 30 de novembro de 2018, Huber levantou os pontos e justificou seu mais novo investimento: Facebook.
A magnitude de sua base de usuários e a relevância que seus produtos possuem na vida das pessoas fazem da empresa de Mark Zuckerberg, CEO e fundador da mesma, uma das mais valiosas do mundo. Por conta da recorrência, suas margens altas, escala, forte crescimento e alto retorno sobre capital tangível.
Pausa para falarmos um pouco sobre esta última métrica, uma de minhas favoritas. O retorno sobre capital tangível é calculado pela divisão do Lucro Operacional sobre os seguintes itens: (Imobilizado + Contas a receber + Estoques – Contas a pagar).
Empresas com alto retorno sobre capital tangível conseguem crescer organicamente, sem precisar se financiar com capital próprio ou de terceiros. Isso ocorre pois são consideradas “Asset Light (SA:LIGT3)” e não precisam de investimentos massivos – comparados ao lucro operacional - em ativos circulantes e não circulantes.
Mas, voltando ao Facebook... Apesar do serviço ser grátis, a empresa ganha dinheiro graças ao extenso banco de dados, com informações que seus usuários compartilharam em suas diversas plataformas. Eles permitem a construção de algoritmos de customização de conteúdo e representam ativos intangíveis preciosíssimos para a companhia.
Os usuários fornecem à plataforma uma infinidade de informações pessoais, o que auxilia na personalização e na eficiência do marketing. Com isso, a empresa consegue direcionar conteúdos e propagandas customizados para cada pessoa
A maior parte da receita do Facebook é, portanto, proveniente de anúncios e propagandas que são visualizados em suas redes sociais. Empresas conseguem, ao utilizar seu serviço, atingir seus consumidores de forma mais precisa, barata e escalável.
Voltando à carta de Huber e seus ensinamentos: na época em que foi publicada, as ações do Facebook passavam por uma grande desvalorização. Um pensamento especial de Warren Buffett que sempre abordo nos meus textos foi mais uma vez validado: “seja ganancioso quando os outros estiverem com medo”.
O medo generalizado na época fez com que as ações depreciassem em mais de 30%, chegando a US$ 140. Patamar em que uma empresa que gera bilhões de fluxo de caixa livre, altos retornos ao acionista e que aumentou em 49% a receita em comparação com 2017, era negociada a 18 vezes o lucro.
A escalabilidade global e barata e a quantidade abismal de usuários na plataforma criam um efeito de rede extremamente valioso para a empresa, o que se configura como uma vantagem competitiva.
O valor do vasto efeito de rede se intensifica à medida em que mais pessoas entram nela. Segundo John Malone, “é difícil e doloroso sair de um lugar que todos os seus amigos, conhecidos e familiares fazem parte. Pelo mesmo motivo, é complicado para empresas sair de um lugar onde todos são clientes estão. A força do efeito de rede aumenta exponencialmente à medida em que ela cresce”.
Essa vantagem representa uma grande barreira a entrada para novos entrantes – novas mídias sociais. Suponha que eu lance amanhã a XPTO, concorrente direta do Facebook. Primeiramente, eu teria – não sei como – que investir bilhões de dólares na plataforma.
Em segundo lugar, por que você iria se cadastrar na minha rede social? Todos os seus amigos, conhecidos e familiares estão no Face. Como e com quem você irá interagir – a verdadeira função da rede social – em um lugar sem pessoas?
Para atrair você, eu teria que me diferenciar, atender um nicho de mercado específico ou oferecer produtos/serviços de maior valor. Mas o que impede o Facebook de me adquirir ou simplesmente copiar o meu produto/serviço?
Foi essa a estratégia adotada por Zuckerberg em relação ao seu concorrente Snapchat. Esta crescia cada vez mais por se diferenciar oferecendo os stories, e se tornou uma ameaça para o Face. Ele ofereceu US$ 3 bilhões pela empresa, que não aceitou. O que fez então? Adicionou o conceito de stories em todas as suas redes sociais, acabando com a diferenciação do Snap (NYSE:SNAP).
A margem bruta de 85% permite que o Facebook invista pesadamente em novos engenheiros, tecnologias, pesquisa e desenvolvimento, data centers, pague dividendos, recompre ações e realize ocasionais aquisições.
Mesmo com massivos investimentos, a empresa acumula cerca de US$ 40 bilhões em caixa. O impressionante é que ela ainda consegue reinvestir seus lucros a altas taxas incrementais de retorno, característica muito difícil de se encontrar em qualquer companhia global.
No entanto, segundo John, mesmo que a rede social já tenho crescido muito, ainda há muito espaço para aumentar de tamanho.
A justificativa para tal avaliação é o fato de que, segundo uma pesquisa da Benedict Evans, empresas gastam cerca de US$ 1 trilhão ao ano tentando atingir seus consumidores, que se perguntam: o que eu devo comprar?
Além do mais, também é esperado que o preço do serviço oferecido pelo Facebook aumente. Primeiro, pela simples lei de oferta e demanda e, segundo, porque muitos acreditam que seu serviço é extremamente barato ao comparado com o valor gerado. Ambos os fatos fazem muitos acreditarem que a receita atual por ads (anúncios) poderia ser o dobro do que é hoje.
Por fim, o Facebook é o dono do WhatsApp, plataforma com 1 bilhão de usuários e que – ainda - não é monetizada. Espera-se que ela gere, no futuro, receita por publicidade.
Além do mais, as três plataformas – Facebook, WhatsApp e Instagram -, devido às suas relevâncias e quantidade de usuários, podem diversificar fontes de receitas criando novas formas de ganhar dinheiro. Como através de pagamento pelo celular, conteúdo de vídeo, assinaturas, comissões/taxas de uso pagas por empresas que originaram vendas nessas plataformas. Ou até por modelos de negócios futurísticos, que não conseguimos imaginar hoje.
Sendo assim, o modelo de negócios e a qualidade da gestão e seus funcionários fazem do Facebook uma das melhores empresas do mundo. A meu ver, ela, Amazon (NASDAQ:AMZN), Apple (NASDAQ:AAPL) e Google (NASDAQ:GOOGL) compõem um seleto grupo que todo investidor deveria possuir em sua carteira, desde que negociadas a um preço interessante.