Publicado originalmente em inglês em 03/03/2021
Os aposentados não estão vivendo um ambiente fácil neste momento. Várias empresas da velha economia, que costumavam distribuir uma renda fixa confiável, estão enfrentando dificuldades durante a pandemia.
Além disso, as taxas de juros em programas de renda garantida estão oferecendo praticamente nenhum retorno, deixando muito pouco espaço para os portfólios gerarem fluxos de caixa.
Embora o mercado acionário tenha se recuperado da derrocada de março do ano passado, os dividendos continuam deprimidos, enquanto as empresas buscam preservar caixa para lidar com a incerteza econômica. De acordo com dados da consultoria Janus Henderson, os dividendos globais pagos aos investidores caíram 12,2%, para US$ 1,26 trilhão, em 2020 devido à pandemia.
Mesmo com esse cenário lúgubre, os dividendos continuam sendo uma parte integrante de qualquer portfólio focado na aposentadoria. Com o avanço das campanhas de vacinação e a possibilidade de uma total reabertura da economia, este é um bom momento para buscar pechinchas no segmento de dividendos e garantir uma rentabilidade maior no futuro. Hoje vamos falar sobre duas das melhores empresas americanas em distribuição de dividendos e analisaremos se os seus pagamentos continuam seguros. Vamos dar uma olhada mais de perto em cada uma delas.
Exxon Mobil
Depois de um ano extremamente difícil em 2020, quando a demanda de petróleo colapsou, a gigante do óleo e gás Exxon Mobil (NYSE:XOM) (SA:EXXO34) está ganhando terreno rapidamente. O preço das suas ações subiu mais de 38% neste ano, após afundar mais de 40% durante o ano passado.
Essa virada se deve principalmente à recuperação dos mercados de petróleo, que melhorou a perspectiva para as empresas globais de energia que sofreram grandes perdas nos últimos quatro trimestres. A texana Exxon apurou um prejuízo de US$ 22 bilhões no ano, seu primeiro prejuízo anual nas últimas três décadas. O barril de Brent era negociado a cerca de US$ 64 na terça-feira, após ter caído abaixo de US$ 20 em abril do ano passado.
Apesar de enfrentar o ano mais desafiador da sua história, a Exxon conseguiu manter intacto seu dividendo trimestral de US$ 0,87 por ação através de empréstimos no mercado. Os analistas agora acreditam que o pior já passou para a empresa e seus papéis, que rendem atraentes 6,4% por ano. Isso oferece ótimo valor para quem busca renda no longo prazo.
Phil Gresh, analista do J.P. Morgan, citou a melhora na perspectiva dessa gigante de energia e um valuation mais razoável em nota recente aos clientes. O analista escreveu:
“Pela primeira vez em sete anos de cobertura de petrolíferas integradas desde o pico do setor em 2014, atualizamos a recomendação da Exxon Mobil para overweight (acima da média)”.
“Na situação em que estamos, acreditamos que as dificuldades estão menores, a execução pode finalmente melhorar, o consenso para 2021 está muito baixo (mesmo a US$50 por barril de Brent), o dividend yield de > 7% é mais seguro e o valuation é mais razoável. Talvez o mais importante seja a melhora na disciplina de capital, com um orçamento de capex [entre US$ 20 e 25 bilhões] autoimposto para preservar os dividendos e o balanço”.
O CEO Darren Woods está tentando conquistar os investidores ao direcionar as despesas de capital a ativos mais vantajosos com maior potencial de valor futuro, como desenvolvimentos na Guiana e na Bacia do Permiano, exploração direcionada no Brasil e projetos químicos para aumentar a oferta de produtos de performance de alto valor.
AT&T
A AT&T (NYSE:T) (SA:ATTB34), maior operadora de telecomunicações dos EUA, é outra ação pagadora de dividendos que está atraindo cada vez mais interesse nos últimos dias. Negociados a US$ 28,31, os papéis da AT&T rendem bons 7,4%, pagando US$ 0,52 por ação em dividendos trimestrais.
Embora a ação pareça bastante atraente, principalmente se considerarmos que a empresa não corta seus proventos há 25 anos, há muitos riscos associados a esse excelente retorno.
Primeiro, a companhia está tentando recuperar seus negócios após empreitadas malsucedidas na última década. A provedora de internet sem fio anunciou, na semana passada, que irá segregar a DirecTV e sua oferta de TV paga nos EUA em outra empresa que terá uma participação de 70% da AT&T e 30% da empresa de private equity TPG Capital. A transação avalia que o negócio será fechado a US$ 16,25 bilhões, incluindo dívidas, uma fração dos US$ 67 bilhões que a AT&T pagou pela DirecTV em 2015.
A conexão sem fio da AT&T, de outro lado, caiu para o terceiro lugar neste ano, depois que a T-Mobile (NASDAQ:TMUS) (SA:T1MU34) adquiriu a Sprint Corp. Seu serviço de streaming de vídeo, HBO, está enfrentando uma acirrada concorrência de novos entrantes, como Disney+, da Walt Disney Company (NYSE:DIS) (SA:DISB34).
Ao destacar essas ameaças em nota, o Wells Fargo aconselhou seus investidores a não comprar a ação:
“Em nossa visão, a T está em uma difícil posição enquanto luta para equilibrar o investimento em seus segmentos centrais (wireless, fibra), se desalavancar e pagar bons dividendos. Esse malabarismo ficou mais difícil diante das quedas persistentes em segmentos legados e o impacto da Covid-19 em seus negócios da WarnerMedia, que continuam enfrentando ventos contrários em 2021”.
Resumo
Tanto a Exxon quanto a AT&T são apostas arriscadas para investidores que buscam renda, em razão das rápidas mudanças nas indústrias em que operam. Mas o atual ambiente parece mais favorável à Exxon, diante da perspectiva de melhora nos preços do petróleo e reabertura da economia mundial, o que deve impulsionar a demanda de energia.
A AT&T, por outro lado, está tentando se recuperar com seu novo CEO, John Stankey, ajustando seu portfólio para extrair valor para os investidores. Com uma grande carga de dívidas e um cenário de competição acirrada, a AT&T, em nossa visão, oferece mais riscos do que a Exxon.