sementes?
A expedição Soja Brasil teve início, o objetivo é percorrer mais de 40 mil quilômetros pelas lavouras de soja brasileiras, falando com produtores, mostrando os problemas individuais e regionais, produzindo inúmeras matérias com casos de sucesso e também relatando problemas pontuais. O início foi em Vilhena-RO e depois entrou em Mato Grosso de onde segue para Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na segunda etapa em Janeiro, ainda serão visitados municípios do MAPITOBA, Minas Gerais e São Paulo.
Acompanhei os primeiros dias da expedição e continuarei fazendo minha participação semanal com o intuito de ter uma ideia geral da real situação do país. E para isso, o contato com os produtores é fundamental, pois vamos fazendo um Raio-X das demandas locais. Além disso, é feito um trabalho de extensão rural importantíssimo através da mídia, em que os produtores podem tirar suas dúvidas com os técnicos e especialistas que acompanham a expedição. E sem dúvida, a importância desse projeto está aí, em traçar esse panorama da safra e realizar um trabalho de extensão.
Pude identificar como um dos principais problemas nesta safra a qualidade da semente, desde Vilhena fomos relatando casos de má qualidade, atraso na entrega e a não entrega das sementes. Em campo, identificamos o que a enquete no site da APROSOJA-MT já mostrava: 37,56% dos participantes indicaram atraso na entrega da semente e 15,74% que não vão receber a semente, índices que preocupam. E na última reunião da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, todos os estados apontaram quadro semelhante.
O atraso na entrega da semente acarreta um dano direto ao produtor, já que fatalmente haverá atraso no plantio, perda de produtividade e maior exposição a doenças. Mas a não entrega é muito mais grave, pois como o produtor fará para conseguir semente em cima da hora e a que preço? Para piorar, ainda há o agravante da qualidade da semente que está deixando a desejar e pode afetar significativamente a produtividade individual de produtores em todo o Brasil.
Outro ponto muito levantado na expedição foi o custo de produção. É notória a preocupação dos produtores com os custos que subiram muito. Os preços de fertilizantes e defensivos ficaram altos demais casando preocupação, afinal com os preços da soja muito abaixo comparado a safra anterior, os produtores ficam muito prejudicados em sua rentabilidade. Segundo o último boletim do IMEA para soja, o custo dos fertilizantes cresceu 20% em relação à safra passada, enquanto os defensivos aumentaram 22%.
Por outro lado, embora as sementes tenham um peso menor nos custos de produção de soja, houve um aumento no preço fora do normal, 43% nesta safra. Em média, a semente ficou mais cara 33%, cálculos da APROSOJA-BR com base em dados da Conab. Ou seja, deve ter havido um aumento grande na procura ou perdas na produção de semente, reduzindo a oferta, ou uma combinação dos dois. Como temos visto atrasos na entrega, ou a não entrega e uma germinação muito abaixo do prometido, acredito mais na redução da oferta por problemas na produção de sementes.
Além dos problemas de aumento de custos, para todos os produtores entrevistados em Mato Grosso, um dos agravantes da safra será a logística. Produtores reclamam da atual situação das estradas estaduais e federais, dizem que as estradas estaduais estão esquecidas e que está onerando em muito o custo do escoamento. Sobre a BR 163, nem precisamos dizer que o caos se instalou. Semana passada, um estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostrou que o trecho da Rodovia de Cuiabá até o norte do estado está entre os piores para se trafegar no Brasil. Ou seja, acabamos de iniciar o plantio e já vemos que os problemas de escoamento se agravaram.
E é claro, com todos os produtores que falamos a preocupação com pragas e doenças é enorme, afinal, a ferrugem da soja e a helicoverpa já tiraram bilhões dos produtores. A ferrugem fez com que a maioria dos produtores adiantasse o plantio nesta safra. E é grande a preocupação com a entrega de produtos por parte das empresas que também está lento e atrasado. Se os prejuízos da ferrugem e a Helicoverpa já assustam, imaginem sem produtos para combater na fazenda?
Como não haveria de ser diferente, neste momento a preocupação principal é com o clima, e que está estranho na opinião dos produtores. As chuvas estão esparsas, pouco constantes e apesar de não prejudicar até agora, atrasou o plantio de alguns produtores. Mas nós sabemos para o clima não existe remédio a não ser rezar muito. Rezar agora para chover e rezar na colheita para parar de chover.
Um dos pontos que observei em minha conversa com os produtores durante o trajeto que acompanhei, foi que em todos os municípios existe uma grande preocupação com nossa representação política. O que é normal, afinal vem uma eleição por aí e eu tenho dito a todos a importância de nos mobilizarmos e darmos nossa contrapartida e também cobrar, identificar os candidatos alinhados conosco. Mas sinceramente vejo pouca ação neste sentido, e se continuar assim, com o setor produtivo desarticulado, colheremos frutos amargos à frente. Fiquem atentos.