A tensão comercial entre China e Estados Unidos continua, sem deixar pistas do quão perto ou distantes estão de um possível acordo. Aqueles que aguardaram já se cansaram de esperar. A safra brasileira já foi toda colhida. As expectativas de altas de preços dado a quebra de safra não ocorreu como esperado. Nem os prêmios nos portos brasileiros, nem Chicago, tiveram grandes saltos.
Como alertado por mim em palestras e artigos, os chineses teriam três safras ao mesmo tempo para comprar. A americana, em estoque, a brasileira, recém-colhida, e a da Argentina. Quem pagou caro ano passado, dado quebras de safra (sobretudo na Argentina e no sul do Brasil), e pela guerra tarifária, este ano, está compensando nos preços.
Nem mesmo altas valorizações do dólar sobre a moeda brasileira modificaram este quadro. Mesmo a cotação encostando os R$ 4,00 no spot.
A esperança ainda reside nos preços em Chicago, como se o acordo fosse beneficiar a cotação na bolsa.
Ora, os EUA continuam com grande estoques, dado que perderam seu principal comprador, a China. E, mais importante, já começam a plantar uma nova safra. Os noticiários tendenciosos de furacões nos EUA que causariam um crash logístico, também não ajudaram muito.
Os preços caíram!
Dado a queda do preço, a análise da distribuição das opções de soja, call e put, para vários vencimentos, se faz necessária, para se entender comportamentos e expectativas, tanto de curto como de longo prazo.
O tema é complexo. Para dar um pequeno entendimento e facilitar a interpretação, call é um direito de compra e put, é um direito de venda. Quem investiu em put tinha expectativas de queda e vice-versa.
O primeiro dado do artigo é a distribuição de contratos de opções por strike (pelo preço), para vários vencimentos somados (de Junho 2019 até Junho de 2020). O fato de somá-los traz uma noção consolidada das expectativas de preços, e como o mercado está posicionado.
Todas as opções de soja em andamento (contratos abertos) estão dispostas nesse gráfico. Na parte superior do gráfico, o número de contratos abertos, e na parte inferior, o volume financeiro. Basicamente, nota-se que os números de contratos e volumes de puts (tons alaranjados) sao maiores do que os números de contratos volumes de call (tons azulados).
A maior barra do gráfico, indica que o stirke 800 cents por bushel é o preço-alvo em que se está mais posicionado. E de forma bem discrepante sobre os demais strikes. É o grande limite de preços do mercado. É o preço mínima, em último caso aceitável pelo mercado, daí o fato de haver tanta procura por este preço.
Abaixo dele, com metade dos contratos, aproximadamente, tem-se o strike 760, com a mesma lógica.
Acima dos 800 c / bu, os outros preços alvo com mais posições em andamento, são, 820 , 840 , 860 , 900 e 920. Um dado interessante, todas essas posições estão, a depender do contrato futuro, dentro do dinheiro, são posições lucrativas.
Fica a interrogação, a ser explorado no final do texto: essas posições serão liquidadas, para "embolsar lucros" ?
As calls, que são os apostas na alta do contrato da cotação do contrato futuro da soja, estão, praticamente, todas "fora do dinheiro", sem lucro. As maiores barras indicam strikes de 900 , 920 , 940 , 960 , 1000 , 1020 ,1040, 1100. Ou seja, os apostadores não estão em posições lucrativas, mas estão posicionados visando lucros em uma virada do mercado.
No gráfico inferior entende-se que o volume financeiro esta concentrado nas puts. Injetou-se dinheiro na queda dos preços.
Com dados mais precisos, discriminando cada vencimento.
Detalhando as siglas: ITM (in the money) signiica posições / operações com lucro garantido, ATM (At the money) significa posições / operações no limite entre entrar em zona lucrativa ou não, a depender do comportamento das cotações dos contratos futuros, e OTM (Out the money) posições / perações longe de zonas de lucro, e OI (posições em andamento)
O primeiro dado que chama a atenção é, está grifado em amarelo, a porcentagem de opções puts que estão lucrando é alta, no somatório 33%. E 60% dos contratos abertos em Março 2020. Para os meses mais próximos, 42% em Junho, 35% em Julho, 28% em Agosto e 47% em Novembro.
O número de contratos de puts total é superior ao de calls, 265.838 versus 197.051.
O mercado está apostando na queda há mais tempo, comprando mais quantidade de contratos visando queda, e investindo mais na queda (pagando mais prêmio pela queda).
Na última parte da tabela, tem-se o dado: P/C , que é a razão entre put e calls. Essa relação quando acima e 1.00 mostra que existem mais puts do que call. Quando a relação é menor do que 1.00, mostra que existem mais call do que put.
Então, no resumo atual, a somatório da dos vencimentos trás uma relação de 1.35, evidenciando posições vendidas. A maioria dos vencimentos é acima de 1.00. Quando somados somente os vencimentos de 2019 a relação é 1.36.
Essa relação é mais próxima a zero, ou seja, tem mais calls do que put, nos vencimentos para 2020. Janeiro, ainda é mais vendido, 1.11, e Março, já é mais comprado, com P/C 0.90. A partir daí a relação passa a ser de 0.28 Maio, e 0.4 Junho.
Traduzindo, é aposta na queda é para curto prazo, de forma bem intensa. E a aposta de alta, fica para o longo prazo. Claro que conforme o tempo caminha os agentes vão se reposicionado, e reforçando posições.
Sobre a interrogação lá de trás: e se as posições em put começassem a virar dinheiro no bolso ?
Olhando os dados da tabela, 7 dias atrás e 30 dias atrás, de forma tímida, já começaram a haver uma maior redução de vendas sobre as compras. A relação para quase os vencimentos era maior 7 dias e 30 dias atrás. Embora, de forma tímida.
Não pode passar despercebido: o número de contratos de opções total (call e put) aumentou consideravelmente, atualmente, tem -se 462.889 contratos, ante 421.406 há 7 dias atrás e 317.720 há 30 dias atrás.
Esse ganho de liquidez mostra que indefinição no mercado, ainda existem muitas novas posições vendedoras (a relação P / C caiu pouco mesmo com todo esse volume), e existem novas posições para alta (essas ainda sem lucros nenhum).
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Enquanto isso, os agricultores, e comerciantes do setor agrícola planejam a próxima safra.
E os norte americanos plantando a próxima safra.