Comentei um tempo atrás que as coisas pareciam mudar de lugar: EUROPA – DE REPENTE AS COISAS MUDAM DE LUGAR e EUROPA – DE REPENTE AS COISAS MUDAM DE LUGAR 2
Sim estão melhorando na margem na Europa. Nada para comemorar, mas importante notar e não deixar passar. Vejamos alguns pontos disso que estou falando.
Chovendo em Vitória, me prestei a ver um filme italiano, uma comédia pastelão. Não sou muito dado a esse tipo de filme, mas ok gosto de filmes estrangeiros e o tema tinha uma conexão com a realidade atual da Itália, a troca de presidente. O nome é “Benvenuto Presidente” no qual o parlamento corrupto faz uma eleição para o novo presidente e escolhe um nome aleatório Giuseppe Garibaldi para votar, mas não é que existe um bibliotecário/pescador do interior que tem esse nome?! Ele então passa a ser o presidente da Itália!
Não estou aqui recomendando, mas o filme me fez lembrar meus passeios pela Itália, lembrando que quão zona é aquele lugar, mas ao mesmo tempo, lindo e com pessoas maravilhosas. Lembra muito o Brasil nesse sentido.
Não por acaso, após a zona política que foi instaurada por lá, o mercado italiano se recupera bem do referendo e como o novo primeiro ministro. É tipo um “acabou a crise”. Não obstante a notícia de capitalização de alguns bancos por lá também animou o mercado. O FTSE MIB vem performando bem, dá uma olhada:
E o CDS italiano dá uma folga.
Outro desdobramento bem relevante é o próprio desempenho da economia europeia que tem mostrado alguns dados melhores que o esperado. Dá uma olhada:
PMI Industrial veio em 54.9 ante os 53.7 esperados:
Último dado de PIB também surpreendeu positivamente com crescimento de 1,7% ante os 1,6% esperados.
Inflação. Importante também, tem sido a manutenção de uma inflação, o que no caso europeu é super bem vindo. Esse foi o maior avanço desde abril de 2014, o CPI subiu 0,6% em novembro na zona do euro, depois de uma alta de 0,5% em outubro. O resultado é uma prévia, e veio em linha com a expectativa do mercado. O núcleo do CPI subiu 0,8%. Ainda tímido, mas importante pois afasta o risco da temida deflação.
Emprego. Fundamental para sair da estagnação é a melhora do mercado de trabalho por lá. Último dado de desemprego surpreendeu positivamente com uma taxa ainda alta de 9,8% em outubro ante 10% de projeção. Veja que a ocupação na zona do euro está alcançando os níveis de final de 2008/09. A migração de espanhóis, portugueses e italianos parece dar resultado. Uma pena que muitos jovens com bom nível de escolaridade está tendo que lavar pratos na Irlanda, Inglaterra e Alemanha... c’est la vie.
Agora o desdobramento mais importante para Europa tem sido a dinâmica da moeda.
EUROxDOL. Esse movimento de alta da treasurie e de “love US” que o mercado está fazendo jogou a relação Euro X Dol para patamares BEEMMM baixos e caminhando para paridade 1×1! Será que se sustenta? Sendo honesto, não vejo NADA no radar que possa mudar essa dinâmica. Para piorar ainda tem um monte de eleição em 2017 que promete afetar em cheio a estabilidade política da região. Abaixo gráfico mensal desde 2008.
Se por um lado denota certa fraqueza do bloco, por outro, é bem recebido por alguns mercados acionários. Veja que os últimos 45 dias têm sido bem positivo para as bolsas europeias. (Alemanha = cinza; França = azul; Espanha = amarelo; Inglaterra = vermelho)
MAS NEM TUDO SÃO FLORES. Ou bons vinhos franceses, jamon ibérico, tomates napolitanos e por aí vai.
GRÉCIA. Pra ajudar os gregos aprovaram uma espécie de bônus aos pensionistas. Obviamente os credores não gostaram nada dessa história e os bonds gregos voltaram ao radar.
CONCLUSÃO
Não quero aqui passar uma visão mega otimista com Europa, só chamar atenção que aquele lugar comum de apresentação de macroeconomista falando que Europa não cresce e está estagnada não é tão verdade assim. Nós como emergentes tomamos -8% de PIB em 2 anos e um decrescimento na formação bruta de k fixo de 20% nos últimos anos. Já a “tartaruga” europeia deve fechar o ano com um crescimento de 1,5% ? 1,7%? Quem sabe 2%? Parece pouco, mas partindo de um nível MTO mais elevado que nós, está longe de ser desprezível! A tartaruga segue lentamente, mas segue.
Pra ano que vem tem muita coisa que pode afetar, destaco as eleições e tensões geo-políticas existentes. Não será fácil manter a Europa unida. Pelo lado da bolsa a alta recente está muito vinculada a fraqueza do Euro o que é bom pra exportadoras, além de uma recuperação de alguns mercados que vão fechar muito perto do zero a zero no ano (Euro Stoxx 50 está com -0,4% no ano)…
Questão é que isso é consenso. O short em Europa é um consenso. Todo mundo fala, todo mundo crê. Será que já não está no preço? Será que não existe espaço pra Europa se recuperar? Será que não é uma boa hora pra ir contra a maré?