Publicado originalmente em inglês em 10/09/2020
O euro disparou acima de 1,19 na esteira do anúncio de política monetária do Banco Central Europeu (BCE). O BCE foi menos dovish do que se pensava, mas a moeda única não conseguiu segurar seus ganhos frente à elevação dos riscos envolvendo o Brexit e à reversão inicial das ações americanas. A presidente da instituição, Christine Lagarde, foi muito menos enfática do que os investidores temiam, pedindo que o mercado não exagerasse na reação à valorização do euro. Ela admitiu que houve uma discussão sobre a moeda europeia, mas ressaltou que o banco não interfere na taxa de câmbio, somente acompanha seus efeitos sobre a inflação.
O BCE também elevou suas previsões de PIB para 2020, 2021 e 2022 e aumentou sua perspectiva de inflação para 2021. Após a mínima recorde no índice de preços ao consumidor (IPC) deste mês, os investidores temiam que o BCE reduzisse suas projeções de inflação, mas essas atualizações são um reflexo da sua confiança na economia. De fato, Lagarde afirmou que os dados sugerem um forte repique, com a atividade industrial subindo e a demanda doméstica se recuperando significativamente. Ela admitiu que a incerteza continua e que ainda é necessário um amplo estímulo, mas a principal mensagem do BCE é que o banco está muito menos preocupado com a perspectiva econômica do que previam os operadores do euro. Ainda que seja possível defender que a reversão na moeda única reflita o ceticismo do mercado, o movimento pode ter mais a ver com a aversão ao risco e com as preocupações com a eclosão do Brexit na Europa. Com isso em mente, nossa expectativa é que o euro tenha um desempenho superior ao da libra esterlina, se enfraqueça frente ao iene japonês e busque uma direção contra o dólar.
Ao contrário do euro, que acabou terminando o dia em alta frente à moeda americana, a libra esterlina caiu forte. Nos últimos sete dias, o par GBP/USD recuou quase 600 pontos, enquanto o EUR/GBP subiu mais de 300. Está ficando cada vez mais patente que o primeiro-ministro Boris Johnson pressionará por um “Hard Brexit”, isto é, uma saída sem acordo. O governo se recusa a revogar sua lei de mercado interno, que a União Europeia alega violar o acordo. O bloco deu a Johnson até o fim do mês para emendar a lei. A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, alertou que seu país não apoiaria um acordo comercial entre americanos e britânicos se o Reino Unido violasse o acordo de saída com a União Europeia. A situação está piorando ao grau máximo com a alta de novos casos de vírus e as dificuldades da recuperação econômica. É provável que a libra sofra uma desvalorização maior, à medida que os investidores observam o desenrolar do drama. Não esperamos que os relatórios de produção industrial e balança comercial previstos para hoje causem qualquer distração em relação ao cenário mais amplo.
Enquanto isso, apesar dos preços ao produtor mais fortes do que o esperado e outra semana de pedidos de seguro-desemprego abaixo de 900.000, o dólar teve um desempenho misto. A moeda americana ficou estável perante o iene japonês e o dólar australiano, recuou frente ao euro e o franco suíço e se valorizou contra a libra esterlina e os dólares da Nova Zelândia e do Canadá. Os comentários das autoridades do Banco do Canadá não tiveram um impacto duradouro no loonie, moeda do país. Diante da nova estratégia de inflação do Fed, muitas pessoas se perguntavam se o banco central canadense também faria ajustes. O governador da instituição, Tiff Macklem, não esclareceu muito sobre a questão, mas disse que seu programa de flexibilização quantitativa tem por objetivo cumprir sua meta de inflação. O calendário também prevê a divulgação dos números de PMI industrial da Nova Zelândia.