Por Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
Os investidores estão vendendo euros desde o início do mês. Como só tivemos seis dias de negociação até agora em fevereiro, a consistência é preocupante. A queda do EUR/USD fez com que o par atingisse seu nível mais fraco em quatro meses; cabe ressaltar, no entanto, que a mínima de setembro também é a mínima de dois anos e meio. O problema para o euro é que a perspectiva econômica da região está começando a piorar. Os números de {{eel-135|produção industrial}} e {{eel-138|vendas de varejo}} na Alemanha, divulgados na semana passada, foram péssimos, sem falar que ainda não incluem o impacto do coronavírus. Nesta semana, vamos saber os dados da Zona do Euro, juntamente com o PIB da {{eel-131|Alemanha}} e da {{eel-120|região}} para o quarto trimestre. A expectativa é que nenhum desses números seja bom e, se esse for o caso, o EUR/USD pode facilmente deslizar e perder a mínima de setembro a 1,0879. No início deste mês, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, expressou preocupação com a inflação baixa. Ontem, Ignazio Visco, membro do BCE e governador do Banco Central da Itália, alertou para os riscos à frágil economia do país neste ano. Os investidores estão preocupados com o fato de que a Europa possa ser duramente afetada pelo crescimento mais fraco na China e pelo rompimento dos laços com o Reino Unido em 2020. O cenário de recessão não está sobre a mesa (ainda), mas a maior queda da indústria alemã em décadas reaviva a preocupação de que o banco central precisará intensificar sua política monetária ou convencer governos individuais a fornecer estímulo fiscal.
A questão que não sai da cabeça de todos é se o euro pode cair ainda mais. Preocupação e medo podem desencadear fortes fluxos cambiais. A economia norte-americana é menos vulnerável ao coronavírus do que a Europa, mas, se houver um enfraquecimento nos EUA, isso ocorreria a partir de um patamar mais alto. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) fará um depoimento ao congresso no fim desta semana. Se ele mantiver uma perspectiva positiva e minimizar o impacto do vírus, o dólar estadunidense deve ampliar seus ganhos, fazendo com que o EUR/USD atinja 1,08. Isso ocorreria se os números do {{eel-120|PIB da Zona do Euro}} vierem mais fracos. Mas se Powell também acreditar que há riscos significativos pela frente e levantar a possibilidade de um novo afrouxamento, o EUR/USD vai disparar, apesar da perspectiva decepcionante para a região. Com base nos últimos comentários dos presidentes do Federal Reserve, os formuladores da política monetária dos EUA não querem ser rápidos demais no julgamento do impacto do vírus.
Para a moeda americana, os investidores devem acompanhar os comentários de Powell, bem como os números de {{eel-256|vendas de varejo}} e o índice de preços ao consumidor ({{eel-69|IPC}}). O dólar vem ganhando força, subindo contra todas as principais moedas, graças, em parte, à renovação da alta das ações norte-americanas. Na sexta-feira, a queda provocou preocupações com o pico nas ações, mas ontem os investidores não pensavam em outra coisa a não ser em novas máximas. Embora a Amazon (NASDAQ:AMZN) esteja subindo bem, notícias de que apenas 10% da Foxconn, uma das maiores fornecedoras da Apple (NASDAQ:AAPL), retornou ao trabalho está gerando preocupação também com outros grandes nomes da tecnologia. Como observou nosso colega Boris Schlossberg: “Mesmo que a taxa de infecção mundial permaneça baixa, o prejuízo à China tem sido enorme com a interrupção das cadeias de fornecimento globais, embora aqui os investidores estejam adotando a visão panglossiana de que as autoridades chinesas serão capazes de conter o vírus e fazer com que a metade da população do país em quarentena volte a trabalhar no início de março. Se esse for o caso, o argumento altista de que as autoridades chinesas inundarão o mercado com um enorme estímulo para retomar a economia e compensar a produção perdida pode tomar conta dos investidores". Vamos ver até quando isso vai durar.
A libra esterlina está em foco na terça-feira, com a divulgação do {{eel-121|PIB do quarto trimestre}}, juntamente com os números de {{eel-284|comércio}} e {{eel-158|produção industrial}}. Assim como o euro, a libra vem se desvalorizando neste mês, mas encontrou suporte na média móvel de 100 dias, na segunda-feira. A expectativa é que os números do PIB do 4º tri venham mais fracos, mas os economistas esperam que a produção industrial se recupere em dezembro. Dependendo da fraqueza dos gastos do consumidor no fim do ano, o risco é que o relatório mostre uma queda na terça-feira.
Enquanto isso, o dólar australiano teve um repique, ao passo que os dólares canadense e neozelandês se desvalorizaram um pouco. A Austrália e a Nova Zelândia são os países mais vulneráveis a uma desaceleração na China, e os dados de {{eel-217|confiança das empresas da NAB}}, na segunda-feira, pode nos dar uma visão geral das preocupações locais. O banco central da Nova Zelândia se reunirá no fim desta semana e, apesar de dados melhores no fim do ano, a expectativa é que o tom seja de cautela. O USD/CAD atingiu a máxima intradiária de quatro meses, enquanto os preços do petróleo perderam o patamar de US$ 50 por barril pela primeira vez em mais de um ano.