A inflação nos EUA desacelerou em julho mais do que o esperado, refletindo os preços mais baixos da energia, o que pode tirar alguma pressão do Federal Reserve para continuar a aumentar agressivamente as taxas de juros.
O índice de preços ao consumidor (CPI na sigla em inglês) atingiu 8,5% em relação ao ano anterior, diminuindo em relação ao avanço de 9,1% de junho, que foi o maior em quatro décadas, segundo dados do Departamento do Trabalho.
O chamado núcleo do CPI, que exclui os componentes mais voláteis de alimentos e energia, subiu 0,3% em relação a junho e 5,9% em relação ao ano anterior. As medidas básicas e gerais ficaram abaixo da previsão.
Fonte: Investing.com
Os preços da gasolina caíram 7,7% em julho, o maior desde abril de 2020, depois de subir 11,2% um mês antes. A queda trouxe os preços médios no varejo nos EUA abaixo de $4 dólares por galão, o nível mais baixo desde o início de março.
Até agora, neste verão, uma queda no preço do petróleo e uma demanda abaixo do esperado pelo combustível ajudaram a reduzir os preços nos EUA.
Fonte: Bloomberg e AAA
Os estoques de gasolina dos EUA estão subindo exatamente no momento em que normalmente começam a cair, provocando excesso de oferta em três continentes.
Fonte: U.S. Energy Information Administation
Já os preços dos serviços públicos caíram 3,6% em relação a junho, o maior desde maio de 2009. Os custos dos alimentos, no entanto, subiram 10,9% em relação ao ano anterior, o maior desde 1979. Os preços dos carros usados caíram.
Os custos com habitação - que são o maior componente dos serviços e representam cerca de um terço do índice geral do CPI - aumentaram 0,5% em relação a junho e 5,7% em relação ao ano passado, o maior desde 1991. Isso refletiu um salto de 0,7% no aluguel residencial. Já os hotéis caíram 3,2%.
Embora uma queda nos preços da gasolina seja uma boa notícia para os americanos, seu custo de vida ainda é dolorosamente alto, forçando muitos a usar cartões de crédito e economizar. Depois que os dados da semana passada mostraram uma demanda por trabalho ainda robusta e um crescimento salarial mais firme (segundo os dados do payroll), uma desaceleração adicional na inflação pode tirar um pouco da urgência do FED de continuar os aumentos agressivos das taxas de juros.
Fonte: Bloomberg
Ainda não temos claros sinais de que chegamos ao pico de inflação nas economias desenvolvidas. Entretanto, ao observarmos o desempenho das commodities nas últimas semanas, podemos especular de que ele esteja próximo.
Fonte: TradingView
O jogo de xadrez que a economia vem disputando com os investidores é árduo. As incertezas continuam e a matriz de possibilidades futura permanece bem ampla.
Os mercados agora estão precificando a probabilidade de um aumento de 50 pontos base em setembro, em vez de 75 pontos base, e menos de 100 pontos base de aumentos nas próximas duas reuniões.
Fonte: CME Group
O mercado segue dividido sobre se o crescimento mais lento dos preços ao consumidor nos EUA em julho significa que o Federal Reserve pode aliviar seu programa agressivo de aumento de juros, tornando os movimentos de 75 pontos-base menos definitivos. Até o momento, o mercado precifica um aumento de 50 bps na reunião de setembro.
Os dados podem dar ao FED algum espaço para respirar, e o arrefecimento dos preços da gasolina, assim como dos carros usados, oferece alívio aos consumidores. Mas a inflação anual continua alta em mais de 8% e os custos dos alimentos continuam subindo, proporcionando pouco alívio para o presidente Joe Biden e os democratas antes das eleições de meio de mandato.
Embora os preços estejam mostrando sinais de moderação, há vários fatores que correm o risco de manter a inflação alta. Os custos de habitação são grandes, assim como choques inesperados de oferta. E os salários ainda estão subindo em ritmo historicamente acelerado, preocupando alguns economistas da chamada espiral salário-preço.
Outro ponto que continua sendo foco de preocupação é a inversão da curva de juros. Apesar dos dados positivos do payroll e de inflação, a inversão continua aumentando. Chegando a níveis inferiores aos da crise de 2008 (subprime) e próximo de 2000 (bolha pontocom).
Fonte: TradingView e Hub do Investidor