Publicado originalmente em inglês em 12/01/2021
Investir em ações do setor imobiliário tem sido bastante desafiador desde o aparecimento da pandemia de Covid-19 em março do ano passado. Enquanto o setor comercial flertava com o colapso, os preços residenciais disparavam para a máxima histórica nos EUA, com as pessoas confinadas buscando casas maiores e um estilo de vida interiorano.
Esse contraste fez com que as ações de operadoras de hotéis, estabelecimentos de varejo e escritórios despencassem, ao mesmo tempo em que construtoras e imobiliárias residenciais dispararam. Mas essa equação mudou no último trimestre, quando os investidores, de olho na recuperação econômica pós-Covid, passaram a comprar as castigadas ações de operadoras de shoppings e redes mundiais de hotéis.
As ações do Simon Property Group (NYSE:SPG) (SA:SIMN34), maior operador de shoppings dos EUA, dispararam mais de 40% desde a aprovação das vacinas emergenciais no país. Da mesma forma, a Marriott International (NASDAQ:MAR) (SA:M1TT34) saltou mais de 30% nos últimos três meses.
Se bem que as ações dessas empresas ainda registrem queda de mais de 10% em comparação com seus níveis pré-pandemia, sua rápida recuperação sugere que alguns investidores acreditam que o pior para esses setores já passou, na medida em que a rápida implementação das vacinas pode destravar a enorme demanda reprimida de compras e viagens.
Um longo caminho pela frente
Apesar dessa forte recuperação de curto prazo, não consideramos que essas duas categorias do mercado imobiliário já estejam fora de perigo. Alguns executivos de hotéis alertaram que seus negócios podem não se recuperar completamente até pelo menos 2023, mesmo que a pandemia seja controlada. Outros executivos, como o cofundador da Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34), Bill Gates, sugeriram que as viagens comerciais possivelmente não voltarão a ser o que eram.
“Teremos um longo caminho pela frente, mas essa crise uma hora vai acabar, e acredito que as viagens vão se recuperar rapidamente”, declarou Arne Sorenson, CEO da Marriott, aos investidores em novembro. Mas ele disse ainda que o momento da plena recuperação continua “imprevisível”.
Para os grandes operadores de shoppings nos EUA, o futuro não parece tão promissor, como sugere o repique das ações. De acordo com uma reportagem recente da Bloomberg, a inadimplência com aluguéis continua em cerca de US$ 52 bilhões desde abril.
“Acredito que muitas bolhas vão acontecer no ano que vem ou até mesmo no quarto trimestre", afirmou Andy Graiser, copresidente da consultoria imobiliária A&G Real Estate Partners. “Não tenho certeza de que os inquilinos conseguirão quitar essas dívidas e ainda arcar com os aluguéis atuais”.
A falta de pagamento de aluguéis foi o principal fator para a falência da CBL & Associates Properties (OTC:CBLEQ) e da Pennsylvania RE Investment Trust (NYSE:PEI) em novembro. A Simon, gigante dos shoppings, parece estar em melhor posição, já que recolheu 85% dos aluguéis no terceiro trimestre, uma alta em relação aos 72% do trimestre anterior. A Brookfield Property Partners (NASDAQ:BPY) afirmou que recolheu cerca de 75% de aluguéis devidos de inquilinos de shoppings durante o mesmo período.
Resumo
O cenário misto desse segmento arriscado do mercado imobiliário mostra que apostar em grandes operadoras de imóveis comerciais não é uma boa ideia, principalmente no momento em que os casos de coronavírus nos EUA não param de crescer, novas variantes estão surgindo e a campanha de vacinação continua gerando desafios para as autoridades de saúde.