Todos sabem que há mais retóricas do que efetivas intenções de acordo em torno dos inúmeros desacordos existentes nas relações entre China e Estados Unidos, cujos efeitos danosos aos mesmos e fortemente colaterais nas principais economias do mundo provocam efeitos devastadores, colocando economias importantes em estado de alerta quanto a eventual possibilidade de recessão, e os “satélites emergentes” em contínua pressão.
Mas, ante tanto desalento, qualquer sinal de eventual melhora é massivamente alavancado e exaustivamente e, digamos até irresponsavelmente, comemorado pelos principais mercados financeiros do mundo que acabam por contaminar também os menores, e assim ocorre a euforia, na realidade sem se saber efetivamente o “porquê”, já que não há dados concretos e nem pautas sugestivas de avanços.
O desapontamento possível, antes mesmo que o fato motivador do entusiasmo se concretize, não é fato que possa ser considerado imprevisto, e então, da euforia à depressão a trajetória é curta.
Este tem sido e deve persistir por um bom tempo o contexto global, que deixa cada vez “suas vítimas” e chega à conclusão de que ao final não haverá ganhadores, mas já com a convicção de que a globalização tem dado passos relevantes de retrocesso e há uma larga “avenida” para o protecionismo nefasto ter progresso.
Até quando? Esta é a resposta que ninguém ousa, mas todos sabem que a solução não está perto, ainda mais quando o principal líder deste caos global, o Presidente norte-americano Trump, declara que não aceitará acordos parciais, somente total e definitivo, e tendo em vista a grandeza dos pontos conflitantes não se pode nutrir verdadeiramente expectativas de curto prazo.
A “gigante” Alemanha perde força e é a principal economia da União Europeia e a Inglaterra ainda não encontrou o modelo exato de saída da União Europeia, então afora o embate entre Estados Unidos e China, há muitos danos de difícil recuperação em todas as economias.
E, o Brasil que estava no “fundo do poço” com a sua crise fiscal e econômica já não é tão mal visto por ter perspectiva de, no quadro nefasto com o qual convive internamente, crescer, agora já não tão somente 0,80%, que de menos já passa a ser visto como mais.
O fato é que o Brasil, num mundo de juro zero ou negativo no afã de recuperação econômica das atividades debilitadas das principais economias, já não é tão repudiado em sua atratividade externa e já desperta curiosidade o fato de ter pela vez primeira inflação baixíssima, juro baixo, CDS baixo em torno de 130 pontos, mas podendo ir um pouco além para melhor, ainda sem ser “grau de investimento” já que precisa se ordenar melhor para superação da crise fiscal, mas que evolui, ainda que de forma pouco articulada, nas reformas imprescindíveis pode ser uma alternativa para aporte de investimentos, desde que dê tratamento de urgência às privatizações e projetos de infraestrutura fundamentais.
O Brasil tem reservas cambiais confortáveis e um déficit em transações correntes não preocupante, e como, já dissemos, um CDS bom, e o BC tem instrumentos operacionais adequados para ratificar o não risco de crise cambial, já dando evidências de que não há constrangimentos em utilizá-las se e quando necessário para irrigar a liquidez do mercado de câmbio.
O conflito global poderá oferecer excelentes oportunidades para os países que são potências como o Brasil na área de commodities de todas as naturezas, e, então não é descartável a possibilidade de, não como o boom de 10 anos atrás, ocorrer demanda motivada pelos conflitos presentes nas relações comerciais mundiais.
A economia brasileira tem entraves para desenvolver-se a partir da atividade focada no mercado interno, mas é possível que possa ganhar tração a partir da atividade focada no mercado externo. Afinal, nos últimos 12 meses o fluxo cambial comercial de exportações decaiu algo como US$ 26,0 Bi, parte quantitativo e parte por queda de preços, agora o contexto poderá corrigir os dois fatores.
A crise mundial poderá trazer benefícios ao Brasil, tornando as perspectivas menos pessimistas e dando um alento temporal para a retomada, pois se o mercado externo engrenar haverá renda e consequente consumo, que poderão, então, incrementar e motivar o mercado interno, na mesma linha.
Para isto, o dólar com preço aviltado é um fator importante, num contexto atual em que cada país, cada economia, utiliza os trunfos que dispõe para buscar a recuperação, pois remunera melhor os exportadores e dá-lhes maior competitividade, se bem que grande parte das commodities têm seus preços formados em bolsas.
Estaria o BC ao intervir pontualmente no mercado a vista com oferta de dólares das reservas cambiais com o intuito de prover a liquidez necessária, que sugere ser a medida assertiva e única, combinando-a com a oferta casada de swaps cambiais reversos com o intuito de dar sustentação a preço aviltado da moeda americana com este intuito não declarado de incentivar melhor remuneração aos exportadores?
Se não for este, acreditamos que o BC devesse interromper a oferta de swaps cambiais reversos e limitar-se a suprir compensatoriamente a queda do fluxo cambial que desequilibra a oferta no mercado à vista, que pode ocasionar reflexos no mercado de cupom cambiais, e assim permitir que o preço da moeda americana retomasse os seus parâmetros mais sinérgicos com o contexto atual, algo em torno de R$ 4,00, com viés de baixa.
O Brasil precisa intensificar o foco nas oportunidades que surgem a partir dos conflitos e não detidamente no conflito, afinal, ensinam os experientes, é nas crises que se ganha!