Agentes do setor sucroenergético consultados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, iniciaram o ano otimistas, esperando um cenário promissor para o consumo de etanol na temporada 2020/21 e animados com o Renovabio. No entanto, a safra 2020/21 foi marcada por muitas incertezas, devido à pandemia de covid-19, que acabou limitando a demanda por etanol e resultando em queda de preços na maior parte do ano, mesmo diante da menor produção do biocombustível.
Tomando-se como base os Indicadores CEPEA/ESALQ mensais do etanol hidratado, a média da safra 2020/21 (de abril/20 a dezembro/20) foi de R$ 1,9147/litro, contra R$ 2,2321/litro em igual período da temporada anterior, baixa real de 14,2% (valores deflacionados pelo IGP-M de dezembro/20). O etanol anidro teve média de R$ 2,10,29/litro, recuo de 14% na mesma comparação, em termos reais.
Já a produção de etanol, segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) somou 28,9 bilhões de litros na parcial da safra 2020/21 (até o final de novembro), queda de 9% frente ao mesmo período da temporada anterior.
Já em março, o avanço da pandemia no Brasil e no mundo fez com que os preços internacionais do petróleo caíssem de forma expressiva, visto que o consumo de gasolina em países da Europa e nos Estados Unidos diminuiu, devido à menor mobilidade da população como estratégia para conter a disseminação do coronavírus. Conflitos políticos entre Arábia Saudita e Rússia também influenciaram a desvalorização global do petróleo.
No Brasil, as restrições de mobilidade foram impostas no final de março por governos estaduais e municipais, e o setor sucroenergético precisou se ajustar. O mix de produção das usinas, previamente definido, foi alterado, e uma maior quantidade de cana-de-açúcar foi direcionada à fabricação de açúcar em detrimento do biocombustível.
Em abril e maio, a demanda por etanol para produção de álcool em gel e outros produtos de higiene aumentou expressivamente, o que amenizou o acúmulo de estoques nas usinas. Além disso, com o dólar favorável às exportações e a firme demanda internacional por etanol outros fins, unidades produtoras exportaram volume elevado em 2020 – inclusive, usinas que há algumas safras não fechavam negócios internacionais retornaram a esse mercado.
No acumulado parcial da safra 2020/21 (de abril/20 a novembro/20), o volume total de etanol embarcado pelo Brasil foi de 2,22 bilhões de litros, alta de 50,24% em relação ao mesmo período da temporada anterior (1,48 bilhão de litros), de acordo com dados da Secex. A receita somou US$ 943,98 milhões, 25,85% superior à do mesmo período de 2019/20 (US$ 750,1 milhões). Os principais destinos do etanol brasileiro foram os Estados Unidos e a Coreia do Sul.
O ano também foi marcado pela estiagem, que resultou em poucas interrupções de moagem nas unidades produtoras. Parte das usinas, inclusive, antecipou o fim da safra, e, em alguns momentos específicos, verificou-se aumento significativo da oferta de etanol, devido à necessidade de liberar espaço nos tanques, especialmente do hidratado.
Dados do Cepea mostram que, mesmo com a retomada gradual da demanda por etanol hidratado, o volume vendido no estado de São Paulo entre abril e novembro foi 29,62% inferior ao de igual período da temporada anterior. Já de etanol anidro, o volume comercializado na modalidade spot teve crescimento de 27,37%, refletindo a diminuição do percentual de contratos exigido pela ANP (Agência Nacional de Petróleo).
Na parcial da temporada (de abril/20 a novembro/20), as vendas totais de hidratado (para os mercados interno e externo) das usinas do Centro-Sul somaram 13,78 bilhões de litros, volume 17,79% inferior ao do mesmo período de 2019 (de 16,23 bilhões de litros), segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
NORDESTE – A safra 2020/21 na região Nordeste, como já vem ocorrendo há algumas temporadas, se iniciou a partir da segunda quinzena de julho na Paraíba, enquanto que em Pernambuco e Alagoas, o ritmo de produção e comercialização de etanol foi um pouco mais lento, uma vez que algumas usinas, principalmente alagoanas, realizaram vendas antecipadas em setembro (com retiradas estendidas) para levantar recursos no início da safra nova.
Na parcial da temporada 2020/21 (de agosto/20 a dezembro/20), o preço do hidratado em Pernambuco ficou 4,87% inferior ao do mesmo período da safra anterior, em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-M de dezembro/2020). Para o anidro, verifica-se alta de 1,43% na mesma comparação. Em Alagoas, a média do hidratado caiu 6,81%, enquanto a do anidro subiu 2,03%. Na Paraíba, o valor do etanol hidratado caiu 7,41% e para o anidro os preços mantiveram-se estáveis (+0,05%), na mesma comparação.
Com o enfraquecimento da demanda por combustível em todo o Brasil a partir de março, em função da pandemia de covid-19, algumas usinas do Nordeste alteraram o mix, aumentando a produção de açúcar VHP, visando maior remuneração com a exportação do adoçante.
Em 31 de agosto, a medida governamental que permitia a importação de etanol sem taxas (de 750 milhões de litros no período de um ano) terminou. No início de setembro, o governo renovou, pelos três meses seguintes, a isenção de taxas para importação de até 187,5 milhões litros. Com essa limitação, a demanda pelo produto nacional com origem no Nordeste e/ou nos estados do Centro-Sul aumentou, especialmente por etanol anidro.
Assim, as importações de etanol na safra 2020/21 (de abril a novembro de 2020) somavam 307,13 milhões de litros, forte queda de 64,95% frente às do mesmo período da temporada anterior (876,39 milhões de litros), sendo os Estados Unidos e o Paraguai os principais fornecedores. Do volume importado, 53,79% foram recebidos nos portos do Norte e do Nordeste e 47,03%, nos do Centro-Sul, ainda segundo a Secex.