O presidente Bolsonaro anda muito silente, acabaram aqueles encontros na saída e volta do trabalho do presidente com apoiadores na porta de casa, sempre motivo de algum estresse pela postura beligerante do mandatário. Aparentemente, o presidente foi convencido por seu ministro das Comunicações de evitar tais declarações, sempre aproveitada com grande estardalhaço pela imprensa. Convenhamos, o presidente não precisava falar tanto e todos os dias.
Com isso, foi possível notar maior interação entre os três poderes, o que certamente evita ruídos, más interpretações, e certamente facilita o trâmite das questões de Estado e aprovação de medidas absolutamente essenciais. O Brasil certamente ganha com isso e, nossa torcida, é para que esse estado das coisas continue por longo tempo.
Ainda que isso tenha contribuído para acalmar a situação no país, o governo ainda precisa formatar e consolidar sua base de apoio no Congresso Nacional e com isso, acelerar entendimento e aprovação de medidas. A aproximação do presidente com membros do “centrão” é outra situação positiva para se chegar ao entendimento. O problema reside exatamente no próprio centrão, com partidos como o DEM e MDB querendo voltar ao protagonismo, e a própria característica fluída do centrão que na Câmara é um e no Senado é outro. Bom, mas aparentemente até isso melhorou.
O governo ainda vai passar por alguns estresses no curto prazo, com as discussões sobre vetos presidenciais na desoneração da folha de pagamentos e também sobre permanência por maior prazo dos auxílios emergenciais, que o governo até aceita estender, porém, com valores mais reduzidos. Em outra vertente, a equipe econômica também cria uma força tarefa para evitar a gastança e perenidade de medidas que são emergenciais, que não vão ao encontro com a necessidade de ajustes na economia.
Com razão, a reforma tributária vai incorporar muitos ruídos e lobbies em Brasília, mas no final vai acabar acontecendo. Como sempre, colocaram o “bode na sala” com alíquotas elevadas, e depois é só reduzir. A CBS (Contribuição Sobre Bens e Serviços) vai encolher previsivelmente e acabar passando, mas vai ficar sempre aquele ranço de se ajustar a economia pelo lado das receitas (arrecadação), e não pela necessária contenção de gastos. Até a reforma administrativa, também super importante, acabará se ajustando no tempo. A conta que se faz é que nos próximos 15 anos cerca de 219 mil servidores estarão se aposentando, e essa será a janela para ajustar salários e benefícios dos novos entrantes.
O Brasil precisa urgentemente ser mais claro no que pretende em termos de ajustes e dar as diretrizes maiores de longo prazo para o país. Só assim conseguiremos atrair investidores locais e estrangeiros para investimentos de longo prazo, concessões e privatizações; reduzindo o tamanho do Estado e evitando investimentos públicos ineficientes e a corrupção em maior escala.
Parece que o Brasil também acordou para a urgência de se alinhar com a diretriz global de preservação do meio ambiente e políticas claras para essa área. Cada vez mais os grandes investidores globais (e até locais) caminham para abandonar países que não tenham políticas de preservação bem desenvolvidas. O vice-presidente Mourão parece ter abraçado essa causa e não vai deixar passar “bois e boiadas”.
Isso nos deixa bem animados como processos a serem assimilados, apesar de não existirem mudanças bruscas no curto prazo. Mas para o desenvolvimento dos mercados, basta que as sinalizações estejam dadas.
Alvaro Bandeira é sócio e economista-chefe do banco digital modalmais