A ideia de ficar rico é um desejo comum a muitas pessoas em todo o mundo, incluindo no Brasil. No entanto, alcançar esse objetivo pode parecer difícil ou até mesmo impossível para muitos. A boa notícia é que existem estratégias e práticas legais que podem ajudar a aumentar o patrimônio líquido de forma consistente e sustentável.
Neste contexto, este artigo explorará algumas das principais estratégias que podem ser implementadas para alcançar um patrimônio líquido superior a US$ 100 milhões no Brasil, sem violar a lei ou recorrer a práticas ilícitas. Aprender sobre finanças pessoais, investimentos, empreendedorismo e planejamento de longo prazo são algumas das principais chaves para alcançar o sucesso financeiro.
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"Comprar alqueires de terra e vendê-los em metros quadrados" é uma estratégia comum
Existem estratégias arcaicas e pouco sofisticadas, como a de "comprar alqueires de terra e vendê-la em metros quadrados", que visam a valorização disruptiva de bens imobiliários. Embora essa estratégia possa estar esgotada nos dias de hoje, ela ainda explica a riqueza de uma parcela significativa dos brasileiros, e por isso merece ser mencionada aqui. Por exemplo, quando se adquire uma fazenda em uma área rural e essa propriedade é posteriormente incorporada à área urbana da cidade mais próxima, o preço do imóvel pode sofrer uma drástica apreciação, chegando a aumentar em até 100 vezes ou mais.
Assim como a conversão de fazendas em condomínios de luxo com campos de golfe ou bairros residenciais de alto padrão resultou em uma grande valorização, terrenos localizados em áreas litorâneas, como foi o caso de terras litorâneas nas décadas de 1970 e 1980, também demonstraram uma enorme valorização. Um outro aprendizado é onde se encontra os surfistas que são os primeiros a identificar as praias que se tornam moda e pontos turísticos. “Primeiro vêm os surfistas, que são os desbravadores, depois as meninas que se interessam por eles, até que tudo evolui para a chegada das grandes redes hoteleiras internacionais e dos condomínios de alto padrão”.
Abordando a temática da valorização imobiliária disruptiva, é importante mencionar o grande potencial dos chamados ativos imobiliários distressed. A principal razão pela qual um imóvel pode ser classificado como distressed é a falta de clareza sobre quem é o verdadeiro proprietário, seja por inventários pendentes, disputas de fronteira ou propriedade, ou remanescentes de desapropriações. Outro problema que contribui para essa condição é a carga tributária sobre o imóvel, incluindo impostos de transmissão e propriedade.
Questões de crédito relacionadas aos vendedores também podem dificultar a venda, especialmente se o imóvel estiver comprometido com dívidas superiores ao seu valor. Outros problemas que podem afetar a valorização incluem restrições ambientais, históricas e urbanísticas, bem como o regime de aforamento de imóveis sujeitos às marés ou margens de rios navegáveis, fortificações militares, ou aqueles em que o governo é proprietário do terreno, mas o particular detém a posse da superfície. Por fim, é importante mencionar a existência de imóveis e construções que só existem na realidade, mas não estão registrados oficialmente. Em resumo, os ativos imobiliários distressed são aqueles com diversos obstáculos que afetam sua liquidez e valorização.
Há algum tempo, Warren Buffett revelou que uma de suas estratégias de investimento favoritas era comprar imóveis residenciais em dificuldades e alugá-los por cinco anos. Ele escolheu essa estratégia porque o preço desses imóveis nos Estados Unidos havia caído, em alguns casos, mais de 50% abaixo dos custos de reposição. Como resultado, os aluguéis proporcionavam uma renda estável e atraente em comparação com os preços reduzidos das casas. Além disso, esses imóveis tinham um grande potencial de valorização à medida que eram regularizados e a demanda por novas casas crescia devido ao grande número de jovens casados ainda vivendo com seus pais.
No entanto, é importante destacar que investir em imóveis em dificuldades não resultará em um patrimônio de US$ 100 milhões, a menos que se comece com um capital inicial significativo. O objetivo deste artigo não é alcançar esse valor de patrimônio, mas sim mostrar como é possível acumular essa quantia com um investimento inicial próximo de zero ou insignificante.
Embora as propriedades em dificuldades possam gerar retornos disruptivos, geralmente na ordem de 10x em um período de cerca de 7 anos ou mais, elas não geram retornos de 100x, como é o caso de fazendas cercadas por áreas urbanas ou vastos terrenos em áreas costeiras que se tornam centros turísticos, mas que exigem um período de permanência mais longo, de até 30 anos.
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A estratégia mais clássica de enriquecimento em todo o mundo é empreender de forma alavancada, mas infelizmente, essa prática é pouco vista em terras brasileiras
A forma mais tradicional de acumular riqueza é através do empreendedorismo alavancado, utilizando capital de terceiros, geralmente dívida bancária, para investir em ativos com retornos superiores ao custo de capital de terceiros. Essa estratégia pode gerar retornos sobre o capital próprio próximos a "infinito", especialmente quando não é necessário utilizar capital próprio para empreender.
Grandes bancos americanos, como J.P. Morgan e Goldman Sachs (NYSE:GS), foram criados para financiar empreendedores e inventores. John Pierpont Morgan reorganizou várias ferrovias, chegando a controlar 8.000 km em 1902, além de financiar consolidações industriais que resultaram em grupos como a United States Steel, International Harvester e General Electric (NYSE:GE). Marcus Goldman financiou a expansão de diversas empresas resultantes das 1.093 patentes do inventor e empresário Thomas Edison, incluindo a lâmpada elétrica incandescente, o fonógrafo, o cinescópio, o ditafone e o microfone.
Os grandes industriais americanos do século XIX, como John Jacob Astor, Leland Stanford e Cornelius Vanderbilt, conhecidos como barões ou, de forma pejorativa, robber barons, tiveram grande sucesso graças ao suporte financeiro de grandes financistas e seus bancos, como John D. Rockefeller (Standard Oil), Andrew Carnegie (conhecido como o "rei do aço", que começou como catador de rua) e Cornelius Vanderbilt (conhecido como "O Comodoro", que criou a Accessory Transit Company).
Porém, no Brasil, essa "forma clássica" de enriquecimento não é tão frequente, já que nunca houve disponibilidade de capital de risco ou financiamento bancário a preços razoáveis para empresários. Diferentemente dos Estados Unidos, não há conexão entre o sucesso de nossos empreendedores e a capacidade de fornecimento de financiamento pelos nossos banqueiros. De maneira peculiar, nossos grandes bancos não são conhecidos por terem financiado nossos empresários.
Em um governo altamente endividado e, portanto, disposto a pagar juros elevados para refinanciar sua dívida (ou emitir novas dívidas), os bancos brasileiros se voltaram para o financiamento da dívida pública e nunca demonstraram interesse, tecnologia ou capacidade para apoiar a iniciativa privada. Sem linhas de crédito "interessantes" e com um mercado de capital limitado, ou seja, sem capital de risco, o empresário nacional cresceu de forma peculiar.
É importante ressaltar que uma maneira comum de enriquecer é tomar empréstimos a uma taxa de juros de 2% ao ano para investir em ativos que possam gerar um retorno de 15% ao ano, e embolsar a diferença após pagar os juros ao credor, que deve ser priorizado. Pesquisas indicam que uma empresa de sucesso é aquela que consegue manter um retorno sobre ativos (ROA) de 15% a 20% por um longo período. Retornos de 50%, 100%, 150% ao ano são extremos e não devem ser buscados como metas viáveis.
Além disso, o que fazer quando o custo do capital de terceiros excede o retorno das empresas de sucesso? No Brasil, em julho de 2022, o custo de algumas linhas de crédito, como o capital de giro para empresas de tamanho médio (faturamento anual em torno de R$ 500 milhões), é de cerca de 30% ao ano (nominal, com uma inflação de 7%). Isso sem considerar os riscos associados a uma startup.
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Adquirir ou aprimorar (tanto a nível pessoal quanto empresarial) uma habilidade, tecnologia, produto ou conhecimento com potencial de escalabilidade significativo ou que possa causar disrupção no mercado
Para começar, vamos explicar de forma resumida o que significa algo altamente escalável: é simplesmente um produto, habilidade ou tecnologia que, depois de desenvolvido - o que requer um investimento inicial - está pronto para ser oferecido (vendido ou consumido) para um grande e crescente número de consumidores ou clientes, sem a necessidade de significativos investimentos adicionais. Podemos dizer que algo que cresce a um custo marginal baixo (ou nulo) é escalável. Um exemplo de algo que não é escalável é uma rede de restaurantes, pois cada unidade cresce até um certo ponto e, em seguida, para continuar a crescer, é necessário investir em uma nova unidade (investimento significativo) de forma contínua (ou seja, o custo marginal de expansão é alto ou significativo). Já um exemplo de algo escalável é um software (desde que não tenha altos custos de customização e implementação, como é o caso de ERPs como o SAP), um jogo, um conteúdo ou habilidade capaz de entreter, como um filme ou a habilidade de jogar futebol ou cantar, ou ainda uma patente tecnológica (que recebe royalties).
No Brasil, não temos muitos exemplos (e não sei se há um único) de enriquecimentos (individuais ou empresariais) através do licenciamento ou exploração de uma tecnologia. Isso ocorre porque, mais uma vez, não temos capital de risco no nosso país e, há cerca de 50 anos, todos os avanços tecnológicos são produzidos por grandes grupos (ou big science, como se diz nos EUA), e não por indivíduos (como ocorria nos séculos passados), o que implica em dizer que eles exigem um capital considerável para o seu desenvolvimento. No entanto, somos um dos países que mais produzem atletas e artistas, que são pessoas que possuem características altamente escaláveis, como a capacidade de entreter.
Através de um estudo apresentado pelos acionistas da Hicks Muse Capital Partners, quando estavam planejando a construção de um estádio para o Corinthians, descobri que somos um verdadeiro centro de produção de atletas e artistas. Um dos negócios que interessava a esse grupo era estabelecer um multi-family office especializado na gestão da riqueza de atletas e artistas no Brasil.
Os acionistas da empresa de private equity texana argumentavam que atletas e artistas enfrentam os maiores desafios para a gestão de recursos, pois recebem em diversas moedas, têm "vida útil" relativamente curta, gastam muito, enfrentam problemas de sucessão familiar, são intensivos em apoio jurídico para proteger seus direitos em licenciamentos de produtos e da marca e normalmente sofrem com o baixo nível educacional e somos um dos países que mais gera artistas e atletas de repercussão internacional, mas não temos nenhuma estrutura de gestão de riqueza especializada nesse segmento. Vários fatos e números foram apresentados para comprovar esse argumento.
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Investimentos de longo prazo em ações com alto potencial de valorização, incluindo empresas estatais a serem privatizadas, instituições financeiras e mais
Na década de 1970, as ações da Telebrás eram comercializadas a uma média de 10 centavos de dólar. Na privatização em 29 de julho de 1998, elas atingiram o valor de US$ 300 por ação. Isso significa que cada US$ 100 mil investidos se transformaram em US$ 300 milhões. Cinco indivíduos no Brasil, que mantiveram essas ações por 30 anos, investiram nelas porque acreditavam que a NTT DoCoMo japonesa era a empresa mais valiosa do mercado na década de 1970, enquanto a Telebrás valia menos do que seus imóveis. Esses investidores visionários chegaram até a estabelecer lojas que vendiam telefones em troca de ações ou a pendurar cartazes no corpo e caminhar pelo centro de São Paulo, indicando que compravam essas ações. Mas, afinal, por que estudar a riqueza desses cinco homens? Eles exemplificam bem esse fenômeno, mas não são os únicos.
Quem investiu em ações da Brahma ou, posteriormente, da Ambev (BVMF:ABEV3) (quando a empresa foi fundada em 1999) também colheu benefícios disruptivos. A empresa de bebidas produziu "mais do que algumas dezenas" de executivos com patrimônio líquido superior a US$ 100 milhões, apesar dos baixos salários e única e exclusivamente por causa da valorização das ações que foram "obrigados" a comprar alavancados ou com empréstimos "Disciplina da Dívida", um dos conceitos mais importantes em finanças, que obriga o empresário ou indivíduo a investir apenas em projetos que gerem retornos acima do custo de capital.
As ações da Embraer (BVMF:EMBR3) também se valorizaram muito ao longo de muitos anos após a privatização em 1994 por R$ 154 milhões e uma mudança liderada por Júlio Bozano, um dos homens mais ricos do mundo, que também obteve êxito nas privatizações da Usiminas (BVMF:USIM5), Companhia Siderúrgica Tubarão, Cosipa e Banco Meridional. Muitas outras ações brasileiras também tiveram uma valorização disruptiva, embora nenhuma delas tenha ocorrido em menos de 20 anos.
Existem muitas pessoas que se tornaram ricas trabalhando em bancos de investimentos, principalmente no Garantia, Pactual e Bozano, através de bônus, mesmo sem a valorização significativa das ações dessas instituições. No entanto, não é exato que esses sejam exemplos viáveis ou replicáveis para alcançar a riqueza, pois esses indivíduos operaram em um mercado altamente desequilibrado e em desenvolvimento, o que não ocorre mais.
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Causas excepcionais para formação de riqueza de empresários nacionais além das quatro estratégias convencionais
Para começar, em busca de estratégias para enriquecer com um investimento inicial irrisório, excluindo a parcela de empresários nacionais de sucesso que já partiram de uma base de capital própria relevante.
Além disso, há uma parcela significativa de empresários nacionais que cresceram graças a subsídios do governo, como os “Campeões Nacionais” do BNDES, SUDENE, SUDAM, subsídios fiscais, incluindo Zona Franca e indústrias incentivadas pelos governos militares por serem estratégicas, entre outros.
Também há aqueles que obtiveram do governo determinadas concessões, como de rádio e TV, ou patentes, como licenças bancárias. No entanto, esses modelos não são interessantes, já que não são passíveis de serem repetidos.
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Ressalvas
Devido ao mercado de capitais pouco desenvolvido e a inexistência do capital de risco no Brasil, bem como o baixo interesse dos bancos nacionais em fornecer linhas de financiamento para empresas privadas, os brasileiros ficam sem acesso às formas mais comuns de enriquecimento no mundo. Restam poucas opções, como ter uma visão única sobre ações que se prove correta depois de décadas, empreender com conceitos tecnológicos altamente escaláveis ou especular em imóveis.
No entanto, é importante ressaltar que nenhum país enriqueceu ou prosperou sem o mercado de capitais e sem que o Estado atue como grande ente empreendedor. Infelizmente, no Brasil, o ambiente para enriquecer licitamente é um dos mais inóspitos, com a capacidade de lobby junto ao Estado sendo uma das qualidades mais valorizadas pelos empresários por muitas décadas.
Portanto, é improvável que Warren Buffett compraria ações brasileiras, já que se quisesse, ele já teria comprado. O método de seleção de ações de Buffett não funcionaria 100% no âmbito doméstico e sem diversificação e exposição em outros mercados alternativos e tradicionais, assim a primeira coisa que ele faria seria tomar um avião de volta para os EUA.