A temporada de resultados do segundo trimestre de 2021 encerrou. Vimos a maioria dos balanços surpreendendo as expectativas do mercado e a bolsa caindo aproximadamente 6% nessas últimas 4 semanas. Qual a melhor estratégia em ações neste caso?
No longo prazo, os preços das ações tendem a seguir a trajetória dos resultados das empresas. Já no curto prazo, existem N outras situações que irão influenciar no rumo das cotações.
Minha experiência me mostrou que não tenho aptidão para avaliar o curto prazo. Respeito muito aqueles que conseguem, de fato, identificar o timing correto do mercado. Enfatizo o “de fato” porque uma coisa é dizer que sabe o momento correto para executar determinadas estratégias (depois que já aconteceu) e outra é efetivamente acertar a hora, com consistência.
Lembre-se que o profeta do acontecido nunca erra.
Voltando a minha inépcia com o curto prazo, essa característica faz com que eu dedique muito tempo avaliando movimentos em períodos maiores. Para exemplificar, prefiro gastar energia para entender se o crescimento do lucro de uma empresa é consistente, do que para imaginar se aquele número acima da expectativa fará a ação subir no dia seguinte.
Prefiro traçar cenários futuros, avaliar eventos anteriores, procurar aspectos que ainda podem não estar sendo devidamente considerados, elaborar estratégias, do que afirmar que sei para onde a bolsa ou determinada ação vai.
Ninguém sabe.
O que bons traders sabem é que a gestão de risco é fundamental para a sobrevivência nesse mercado. Que por mais que as métricas utilizadas indiquem com boa segurança determinado movimento de mercado, existem outros fatores, fora do nosso controle, que podem estragar toda a tese.
Mas, como já deixei bem claro, não sou trader. Respeito demais essa atividade, mas não é o meu chão.
Mas o que toda essa história tem a ver com os resultados do segundo trimestre do ano?
Bastante coisa.
Como citei no início, os resultados das empresas, na imensa maioria, superaram ou vieram acima das expectativas do mercado. O que é muito positivo. No entanto, a bolsa caiu.
Por que isso?
Hipóteses e justificativas não faltam, mas podemos destacar a volta dos temores com a situação fiscal do nosso país, bem como dados econômicos mais “fracos” e intervenções na China.
A primeira pode levar a um comprometimento sério da sustentabilidade econômica do nosso país nos próximos anos, o que é terrível. A segunda traz um impacto direto sobre os preços das commodities (batendo em cheio em grandes empresas brasileiras) e no crescimento potencial do mundo.
Além disso, não podemos esquecer da retomada do Talibã ao poder no Afeganistão e seus potenciais impactos geopolíticos, além do avanço da variante Delta da covid-19 no mundo.
Por tédio ninguém morre nesse mercado…
Escrevi alguns parágrafos sobre a minha incapacidade com o curto prazo e cá estou comentando esses eventos. A verdade é que os eventos acima nos ajudam a entender o porquê da reação negativa da bolsa mesmo com números positivos das empresas.
Mas o que os bons números das empresas nos indicaram?
- A recuperação, passado o pior momento da pandemia, tem vindo acima das projeções realizadas pelo mercado.
- Empresas “tradicionais”, sob uma ótica de P/L (preço da ação dividido pelo lucro por ação dos últimos 12 meses), estavam baratas e agora estão muito mais.
- P/L’s baixos são excelentes indicadores de potencial de valorização futura.
Por tradicional entenda aquelas empresas e setores que não se enquadram no pacote de disruptivas, techs e outros termos do momento. É aquela coisa meio “sem graça” mesmo: bancões, commodities, construção civil, energia elétrica, varejo físico.
Outra maneira de pensar é considerar aquelas empresas que não dependem do excesso de dinheiro disponível no mercado para crescer (lembre-se que o juro está subindo), que não precisam anunciar periodicamente uma aquisição minúscula e desconhecida para justificar seus preços atuais.
Em momentos de incerteza, lucro entregue é melhor que lucro imaginado.
Depois de tudo que foi escrito, posso resumir o artigo em três tópicos/dicas:
- O cenário é incerto e justifica as quedas que estamos vendo. Ter um pouco de cautela nesse momento não fará mal nenhum.
- Os resultados das empresas foram bons e deixaram os segmentos tradicionais ainda mais baratos.
- Evite empresas e teses que exijam muito crescimento para justificar os preços atuais.
Um abraço!