A representatividade do agronegócio no PIB brasileiro é crescente. No ano passado, o segmento alcançou participação de 27,4%, a maior desde 2004 (quando foi de 27,53%). Em 2020, o setor respondeu por 26,6% da economia brasileira e por 20,5% em 2019. Os dados são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). A manter a tendência atual, a perspectiva é de que o setor chegue, em pouco tempo, na casa dos 30% do PIB. No entanto, quando observamos a carteira dos investidores, o peso é bem diferente.
A destinação de parte dos investimentos às empresas do agro ainda é um fenômeno recente. Mas, ao mesmo tempo, é uma estratégia natural de diversificação que tende a se consolidar na medida em que começam a surgir produtos adequados para que tais investimentos sejam feitos. É preciso lembrar que a poupança é voltada para dar segurança no longo prazo. Portanto, o ideal é que haja uma pulverização e isso requer não só observar o tipo de ativo, seja renda fixa ou variável, mas também decidir aportar recursos em mais de um setor da economia.
Tal estratégia requer olhar para o longo prazo e ter paciência em ciclos adversos, de forma a balancear a carteira para evitar distorções. Assim, precisamos olhar para os investimentos sempre com criticidade ao observar a grande quantidade de informações disponíveis e a ampla gama de produtos.
No setor do agronegócio, existem boas companhias com faturamento de até R$ 1 bilhão que são consideradas pequenas para acessarem o mercado de capitais. Muitas destas empresas exibem necessidade de capital, tem uma estrutura sólida e baixo nível de risco. Desta forma, trazem consigo, boas oportunidades a investidores. A questão era: como conectar as duas pontas?
O grande diferencial de hoje, que não tínhamos há dois anos, são os novos produtos que permitiram o acesso de empresas aos investidores. Neste sentido, destacam-se os Fiagros - Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais, autorizados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em agosto do ano passado. Tais fundos surgiram justamente para preencher uma importante lacuna do mercado, ao possibilitar que o dinheiro das pessoas físicas passe a ser direcionado para empresas do agronegócio que estão demandando capital. Assim, há a democratização dos recursos das plataformas de investimentos através de uma gestão ativa, pulverizando os ativos.
O Fiagro é um caminho que o mercado vai seguir por muitos anos e que se consolida cada vez mais. Em termos de crédito, o setor do agronegócio ainda é dominado pelos bancos, mas estamos em pleno processo de desintermediação, intensificado pelo aumento da demanda por recursos por parte das empresas e pela busca de diversificação por parte dos investidores.
No primeiro semestre deste ano, os instrumentos de securitização relacionados ao agro se destacaram em crescimento. Os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) tiveram a maior alta em volume, de 53,9%, totalizando R$ 16,1 bilhões, enquanto os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) subiram 13,4%, com R$ 14,8 bilhões. Já as emissões de Fiagro movimentaram R$ 3 bilhões. Este parece ser o começo de uma longa jornada em que a desintermediação do mercado fará a diferença para o agronegócio.