Como tomar decisões de investimento em um cenário repleto de incertezas? Como enfrentar pressões, insatisfações e dúvidas em um ambiente que parece à beira do caos?
A racionalidade, há tempos, deixou de ser a norma. Observamos, em diferentes mercados, a prevalência da disfuncionalidade. A capacidade de lidar com a tensão se dissipa, a paciência se esgota, o ânimo nos abandona. A pressa e a ansiedade minam nossa capacidade de tomar as melhores decisões.
Nesse contexto, o estoicismo pode oferecer respostas valiosas. Essa escola de pensamento, com mais de 2.300 anos, foi defendida por filósofos como Zenão de Cítio, Sêneca, Marco Aurélio e Epicteto. Em sua essência, o estoicismo prega o controle sobre o que está ao nosso alcance e a aceitação do que não podemos mudar.
Epicteto sintetizou esse conceito ao afirmar:
"Todas as coisas existentes se dividem em duas categorias: as que estão sob o nosso poder e as que não estão. Em nosso poder estão o pensamento, o impulso, a vontade de adquirir e a vontade de evitar, resumidamente, tudo que resulta de nossas ações. Já o corpo, a propriedade, a reputação, o cargo e, resumidamente, tudo aquilo que não resulta de nossas ações estão fora do nosso controle. Tal distinção é o alicerce do estoicismo."
E os investimentos?
No universo dos investimentos, o controle está em compreender as empresas: seus mercados, executivos, conselhos, estratégias e resultados. Com base nisso, podemos calcular o valor intrínseco de um ativo. No entanto, o comportamento do mercado em relação a essas empresas – o que determina os preços no curto prazo – foge ao nosso controle. Em algum momento, preço e valor convergirão.
Os estoicos ilustram essa dinâmica com a Analogia do Arqueiro. Para acertar um alvo, o arqueiro controla diversos fatores: treina a pontaria, escolhe o arco e a flecha, define a tensão da corda, o momento do disparo. Até o instante em que a flecha deixa o arco, tudo depende de suas ações. Mas será que isso garante o acerto?
Não. Podem surgir rajadas de vento, o alvo pode se mover, ou um obstáculo pode surgir entre a flecha e o alvo. O arqueiro estoico, porém, aceita todos os desfechos possíveis com serenidade. Ele sabe que fez o seu melhor e que o restante depende da natureza.
A mesma lógica se aplica ao investidor. Ele realiza análises detalhadas e posiciona-se no mercado. Contudo, eventos imprevisíveis – “rajadas de vento” – podem interferir nos resultados no curto prazo. Mesmo assim, o investidor estoico sabe que há outras oportunidades, outras “flechas na aljava”. Assim, mantém a calma e confia no encontro inevitável entre preço e valor.
O estoicismo, mais do que um método, é uma prática para tempos difíceis. Ele nos ensina a focar no que podemos controlar, aceitar o que foge ao nosso alcance e seguir adiante com disciplina e resiliência. No caos dos mercados, essa postura é um porto seguro para o investidor.