Há um debate acadêmico em curso estimulado pelo Jornal "Valor" em que se discute o impacto da política monetária sobre a inflação. Finalmente voltamos aos velhos embates acadêmicos dos anos 70-80-90? Parece que sim; bastou o país mudar de mãos, que o debate volta à tona.
Artigos técnicos ou não, estão lá, André Lara Resende, Eduardo Loyo, Marcos Lisboa, Samuel Pessoa; hoje, temos um artigo de José Julio Senna.
Política monetária é causa ou efeito da inflação? Isto é, política monetária provoca ou é "provocada" pela inflação.
Tecnicismos à parte, passemos a olhar uma outra variável econômica, variável essa que, mais cedo ou mais tarde, acaba por interferir na teia que move e movimenta a política monetária.
Falamos do dólar. Antes de entrarmos definitivamente no seu universo, tratemos de refletir sobre os sinais vindo da nossa maior autoridade monetária, o Banco Central do Brasil.
Não estaria o Banco Central "falando demais" sobre a inflação, sobre o cenário futuro, sobre juros, sobre velocidade da política monetária? Ok. Muito boa a iniciativa, em face do que vimos no passado recente. Mas, de fato, vale tudo isso?
Estaria o BC tão confiante assim do cenário inflacionário ou macroeconômico que justificasse tantos "issos", "aquilos". Tantos sinais? O que quer o Banco Central?
No final de 2011, com uma inflação já pressionada, Dilma Rousseff não se intimidou com a teórica independência do Banco Central, e exigiu que os juros no Brasil, mais precisamente a SELIC, caíssem; não satisfeita, orientou que a velocidade fosse "n elevado a 3".
O que aconteceu com o dólar? Ele, tadinho, que estava ali quieto, mesmo com a turbulência europeia, decidiu acordar e disparou. Uma óbvia constatação de "desmonte de carry trades". Todos que se movimentavam posicionados em "juros" para financiar "n movimentos", desmontaram suas posições rapidamente a favor de "outros movimentos". E o dólar disparou. final de 2011-início de 2012.
No primeiro gráfico abaixo, mais evidente, temos "Dólar x Real, período 20 anos" No segundo gráfico abaixo, a trajetória da SELIC, período 2008-2017
Vamos introduzir outros ingredientes. Parece-me que o dólar engatou, e não agora, já há algum tempo, um movimento de "Bull-Market". E não estamos falando de um "Bull-Market" de 2-3 anos. Vejamos abaixo o gráfico do Índice Dólar (dólar contra uma cesta das principais moedas do mundo) num período de 40 anos para termos a ideia desse movimento
Dólar index, escala logarítmica, 40 anos
Olhado em retrospectiva, o que pode estar movendo o dólar nessa direção? Juros, historicamente, analisando o gráfico abaixo, a força do dólar está associada com a trajetória dos juros americanos. Em movimentos curtos ou não, rápidos ou prolongados, dólar e juros americanos andam na mesma direção. O que pode estar movendo o dólar para cima no mundo todo é uma reversão iminente na trajetória de juros de longo prazo americanos.
O primeiro gráfico abaixo é do Índice Dólar" ao longo de 40 anos. O segundo gráfico abaixo é da "curva dos títulos do tesouro americano de 10 anos" ao longo de 40 anos.
Os 2 quadros acima parecem nos auxiliar com o que temos hoje, ou seja, algumas condições pra lá de interessantes para uma força do dólar perante o real, nossa moeda.
Mas, espera aí! Mas o dólar não está despencando no Brasil? Sim e não. Obviamente, se olharmos o dólar em 2009, 2010, 2011, nem tanto. Foi de 1,80, 1,70, 1,60 para 2,00, depois 2,50, até 4,15, para depois iniciar uma queda até a faixa de 3,10, patamar atual. Se olharmos de um ano para cá, está caindo forte.
Então, há algo a se descobrir e testar. Por que não?
Vamos então a 2 gráficos. O primeiro me fala de volume. O que está acontecendo no volume do dólar x real. Vejam abaixo. Nos últimos meses, um volume crescente, mesmo diante da queda do dólar frente ao real. Isso pode ser visto, tanto no gráfico SEMANAL, como no diário.
Dólar x Real, SEMANAL, período 20 anos. Volume pode ser visto lá "embaixo"
Dólar x Real, diário. Volume pode ser visto lá "embaixo"
Agora, paremos para ver uma LTA Longa que vem lá do fundo de 2011, em escala logarítmica. Reparem que a LTA passa ali na faixa de 3,00 pelos próximos 30-60 dias.
Dólar x Real, SEMANAL, escala logarítmica, período 20 anos
- Uma vez tão confiante em sua política monetária como "controladora" da inflação, estaria o Banco Central, reconhecendo os riscos do impacto do dólar na inflação, empurrando o dólar para cima no longo prazo, para fazer dele um aliado na recuperação da economia, via exportação e na atração de capital para investimento?
- Por que motivo o volume em "dólar x real" tem aumentado fortemente nas últimas semanas?
- Estamos, de fato, num "bull-market secular" do dólar no mundo inteiro, de tal maneira que o que vimos até agora na dinâmica do "dólar x real", isto é, movimento interno, foi apenas uma correção dentro da tendência de alta "secular”?
- O Cenário calmo de hoje é consistente com o que poderemos ver ao longo da segunda metade do ano de 2017 e do ano de 2018, aqui e lá fora, de tal forma que o dólar será o único hedge possível?
Façam as suas apostas numa nova e forte perna de alta do dólar nos próximos 6-12 meses.