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Estamos Mesmo Praticando Economia Circular?

Publicado 01.07.2022, 11:44
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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A melhor definição reduzida que conheço para Economia Circular (EC) é aquela que afirma que devemos buscar a geração de resíduo/lixo zero. De fato, a redução na emissão de poluentes precisa ser buscada, afinal, hoje somos 8 bilhões de habitantes - 4 vezes mais pessoas do que há 100 anos atrás, em um planeta que segue nos oferecendo os mesmos recursos. Ora, se a oferta permanece a mesma e a demanda aumenta (principalmente no caso dos recursos não renováveis), não precisamos explicar as consequências promovidas por esse fenômeno.

Se, por um lado, hoje já vemos algumas iniciativas interessantes em andamento por parte de organizações para permitir uso mais eficiente dos recursos, incluindo designs inteligentes, matérias primas renováveis e não poluentes, vidas úteis de produtos estendidas, servitização, reutilização de produtos e materiais etc. – e uma devolutiva positiva por parte do mercado consumidor, cada vez mais consciente e exigente, duas preocupações permanecem grandes e representam um desafio ainda longe de ser superado: o greenwashing e a visão limitada da cadeia completa de valor / suprimentos.

Para o primeiro, a maior dificuldade é conseguirmos identificar quais os reais benefícios que determinada organização está gerando ao afirmar que pratica economia circular. A ausência de indicadores oficiais e validadas para cada tipo de indústria / segmento - os padrões ainda se encontram em desenvolvimento (ISO/CD 59004), somada à popularidade que EC ganhou nos últimos anos, abre portas para práticas no mínimo questionáveis mas que, infelizmente são encontradas com certa facilidade.

Para o segundo, a preocupação ainda é maior, pois a ausência da visão de toda a cadeia pode gerar uma visão distorcida de algumas práticas que, em um determinado elo da cadeia pode representar a aplicação correta de EC, mas pode gerar o efeito oposto nos elos anteriores. Vamos a alguns exemplos:

  1. Uso de serviços de streaming, principalmente de música: para quem consome é notório que ouvir músicas neste modelo reduz o consumo direto de plástico das mídias físicas (CD, embalagem) sem falar em todo processo logístico para o produto chegar ao consumidor final e outros mais. Por outro lado, a facilidade no acesso aos serviços de streaming tem permitido maior consumo. Dado que, para consumir esses serviços é necessária infraestrutura tecnológica com alta disponibilidade, data centers, máquinas que precisam ser mantidas e resfriadas, recursos humanos, internet etc. etc., em qual dos dois cenários ocorre menor consumo de recursos e danos ao meio ambiente, quando se avalia a cadeia completa de suprimentos?

  2. Sacolas plásticas de supermercado retornáveis x tradicionais: quanto de plástico é necessário para se produzir uma sacola retornável e qual a sua vida útil? Além disso, as sacolas tradicionais quase sempre têm um segundo uso (por exemplo, como sacos de lixo). Os consumidores que aboliram o uso de sacolas tradicionais utilizam que recurso para acomodar seu lixo? Passaram a comprar sacolas de lixo?

De forma alguma a ideia é criticar essas práticas, mas, sim, chamar a atenção de que a visão do todo é importante. É bem provável que estudos comprovem que essas mudanças recentes de hábitos dos consumidores estejam trazendo, sim, benefícios no que se refere a EC, mas os estudos precisam ser feitos e confirmados.

Já há tecnologia disponível que permite que seja possível rastrear de forma segura e confiável o caminho completo do processo desde a extração e transformação de matérias primas até os produtos finais. Com isso, o conhecimento da cadeia completa fica mais acessível. É o Blockchain. Ao comprar uma camisa de algodão, por exemplo, é possível saber a origem do algodão e todo o processo fabril / logístico / comercial até chegar na loja.

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