Você conhece o termo “Estagflação”? Imagine que você é um médico e está tratando de um jovem paciente. Esse paciente está doente, e o seu principal sintoma é uma febre elevada. Para tratá-lo e arrefecer a febre, você precisa utilizar um medicamento.
Acontece que esse medicamento possui um efeito colateral que pode afetar o crescimento do jovem paciente: quanto maior a dosagem, mais o seu crescimento é atrasado.
Até que chega em um momento em que você, médico, chega a uma encruzilhada, pois a febre está cada vez mais alta, mas você já está na dosagem máximo do remédio, e se você exagerar nessa dosagem pode prejudicar o paciente por anos, talvez até por uma década…
E agora, o que o pobre médico pode fazer? Será que existe alguma alternativa? Que pesadelo, não é?
Agora permita-me traduzir minha história: os “pacientes” são as economias, e a “febre” é a inflação. Para tratá-la, os “médicos” são os bancos centrais e o “remédio” para contê-la é o aumento nas taxas de juros, porém com o “efeito colateral” de retardar o crescimento da economia.
Meu objetivo com essa pequena história é tornar fácil para você, leitor, a compreensão do momento desafiador que as economias ao redor do mundo estão vivendo. E esse desafio tem nome: se chama estagflação.
O QUE É ESTAGFLAÇÃO?
Embora pareça complicado, o nome surge de uma combinação bastante amarga: junte um crescimento econômico estagnado a uma inflação elevada e um desemprego alto. Da mesma forma que o hipotético caso que criei acima seria um pesadelo para qualquer médico, a estagflação é o grande pesadelo de qualquer economia, e parece ter retornado com toda força. Não é à toa que a busca por seu significado cresceu abruptamente no Google.
E não é à toa. Provavelmente estamos lidando com o grande inimigo da economia mundial no pós-pandemia. E esse inimigo trará um verdadeiro desafio para todos os governos.
Ou seja, se você pensa que somente o Brasil está sofrendo com a alta dos preços ao mesmo tempo que patina para voltar a crescer, saiba que (infelizmente) não estamos sozinhos nessa. Nos próprios EUA, a inflação dos últimos 3 meses bateu a caso dos 5%, algo bastante elevado para os padrões americanos.
Além disso, de forma geral a escassez nos suprimentos deve persistir até o próximo ano, já que a variante delta do coronavírus está impedindo o retorno à normalidade, e as economias mais pobres ainda estão com pouco acesso às vacinas.
E os sinais mais recentes que ligam o alerta de uma estagflação global estão em verdadeiros choques de preços em duas importantes fontes de energia: o petróleo e o gás natural.
O preço do petróleo alcançou sua maior alta em sete anos, ou seja, já está muito acima dos preços do período pré-pandemia.
Além do petróleo, o preço do gás natural disparou mais de 500%, principalmente por conta do aumento da demanda devido à retomada econômica, porém com baixos estoques devido a um inverno mais rigoroso no ano anterior, e uma menor oferta de produção na Europa.
Com a escalada nos preços das commodities de energia, principalmente do petróleo, é impossível deixar de comparar (e se preocupar) com o que aconteceu na década de 70.
Depois de duas décadas de prosperidade e estabilidade após a Segunda Guerra Mundial, o mundo se viu em meio a uma série de acontecimentos que desencadearam uma disparada nos preços e aumento do desemprego, o que levou a economia a uma recessão.
E tal comparação não foi feita por qualquer um: podemos incluir nessa lista Larry Summers e Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard e Mohamed El-Erian da Universidade de Cambridge.
SERÁ MESMO QUE É TUDO ISSO?
Depois de visualizar esse quadro preocupante, é natural que você deva estar se perguntando: existe alguma saída para esse problema? Será que é tudo isso?
Segundo Jean Boivin, do BlackRock, “não estamos lidando com inflação de demanda. O que realmente estamos passando agora é um enorme choque de oferta ”, e “a maneira de lidar com isso não é tão simples quanto lidar com a inflação”.
Em outras palavras, o que precisamos observar para concluir se estamos em um cenário de estagflação é se o aumento nos preços será momentâneo ou persistente, se as expectativas permanecerão ancoradas e se os salários começarão a subir em espiral.
E, para os investidores, os termos “proteção do poder de compra” e “reserva de valor” nunca foram tão importantes. Não é por acaso que os títulos atrelados à inflação vêm sendo cada vez mais procurados, e algumas das ditas reservas de valor, como o ouro e o bitcoin, vêm se valorizando nas últimas semanas.
A hora da verdade se aproxima, e esperamos que o “paciente” economia se livre logo dessa “febre alta” chamada inflação, pois o que está em jogo é a sua saúde não só para esse ano, mas também para a próxima década.
E você, o que acha? Estamos vivendo um cenário de estagflação ou esse momento é temporário? Me conte nos comentários!