Ontem o mercado ficou novamente tenso, ou podemos dizer que continuou na defensiva. Enquanto por aqui não houver a reforma fiscal, não resolvermos o impasse dos precatórios e ficarmos com cenário instável, existe uma grande chance de caminharmos para estagflação. Vou esclarecer aqui o é isso. Esse fenômeno ocorre quando juntamos os dois fatores: inflação alta e baixo crescimento. O IPCA já encostou em dois dígitos nos últimos 12 meses, muito acima do teto da meta para o ano. Junto a isso, as previsões para o PIB no terceiro trimestre ficam perto de zero. Se o próximo trimestre o PIB for negativo, já entramos em estagflação técnica, já que a inflação está alta. A atividade econômica dos próximos meses mostrará o cenário para 2022. As menores previsões do boletim focus apontam para uma alta de 0,5% no PIB de 2022 com IPCA chegando a 5,34%, ou seja, atividade estagnada e inflação acima do teto da meta, que para o próximo ano é de 5%.
Nossa principal âncora fiscal esta em xeque, porque não conseguimos andar com as reformas estruturais e esbarramos nos precatórios. O Congresso Nacional aprovou na segunda-feira o Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) que cria as bases para a instituição do novo programa social em substituição ao Bolsa Família, o que elevou a cautela dos mercados em meio a dúvidas crescentes sobre a capacidade do governo de respeitar seu teto fiscal. Ontem o secretário do tesouro nacional indicou que o tesouro é contra a renovação do auxilio emergencial via crédito extraordinário. Ainda falando em problemas fiscais, o programa Bolsa Família consiste em uma despesa de caráter continuado, e para torná-lo maior o governo precisa indicar uma compensação para conseguir o financiamento para isso, o que seria feito pela tributação de dividendos na reforma do IR, além de encontrar espaço, sob a regra do teto, para acomodá-lo, o que viria com a PEC dos Precatórios.
Ontem na Ata do Copom o Banco Central ponderou subir os juros para além do ajuste de 1 ponto que acabou adotando, mas chegou à conclusão que, considerando o cenário de incertezas sobre os choques na inflação, era melhor aumentar o ciclo de aperto na Selic para patamar "significativamente contracionista”, ou seja, que atua no sentido de esfriar a economia. O Copom concluiu que, neste momento, a manutenção do atual ritmo de ajuste associada ao aumento da magnitude do ciclo de ajuste da política monetária para patamar significativamente contracionista é a estratégia mais apropriada para assegurar a convergência da inflação para as metas de 2022 e 2023. O Comitê ponderou que os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta nas projeções. Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de estímulo monetário. Se por um lado a Selic mais alta reduz a quantidade de dinheiro na economia para puxar os preços para baixo, de outro, freia o ritmo da atividade, já prejudicado pela pandemia.
Com juros mais altos o real tende a valorizar refletindo a melhora para investidores estrangeiros e a maior entrada de dólares no país, mas isso não tem acontecido devido à instabilidade política e fiscal por aqui. Isso tem afastado investidores e o mercado fica descrente nas soluções para as reformas.
Hoje teremos mais um leilão de oferta de swap, aquela mesma que não segurou o câmbio segunda feira. Veremos hoje. A tentativa é atender a demanda do overhedge, mas esse é apenas um dos fatores de pressão sobre o real.
Lá fora o ambiente para os emergentes vai se tornando menos favorável, com o dólar se fortalecendo na contagem regressiva do tapering, apesar de, gradualmente o fluxo de dinheiro para cá, já começa a ser atingido. O exportador tem evitado internalizar os recursos devido a tantas incertezas.
Olhando para os EUA, a secretária do tesouro, Yellen, adverte que o país pode entrar em default pela primeira vez na história e enfrentar uma crise financeira e recessão se o teto da dívida não for elevado pelo Congresso.
Na zona do euro, os juros não subirão tão já. Pelo menos até que a inflação atinja a meta de 2% de forma sustentada. Por lá a inflação esta sendo considerada temporária.
Para dar mais um componente a volatilidade, amanhã é dia de Ptax (taxa de câmbio calculado pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de derivativos). Em dia de Ptax, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes as suas posições.
Ontem o dólar fechou no maior patamar em quase cinco meses, ficando acima de 5,40 reais, após registrar a maior alta diária em quase três semanas, com uma onda de compras da moeda norte-americana lastreada num ambiente externo conturbado e em persistente cautela doméstica. Os fatores que impulsionaram o dólar foram, nos EUA, temores de que a inflação mais alta antecipe um movimento de aperto monetário. Por aqui, novos comentários sobre a política de preços da Petrobras (SA:PETR4) e incertezas sobre o comprometimento fiscal do governo nos esforços para colocar em prática o novo Bolsa Família. O dólar à vista fechou em alta de 0,89%, a R$ 5,427. No exterior, o índice do dólar frente a uma cesta de rivais subiu para máximas desde novembro de 2020.