Amyr Klink estava ainda se preparando para o ousado projeto de ir da Namíbia até Salvador remando, quando decidiu bater um papo com José Carlos Furia, professor de engenharia naval pela Poli.
Klink passara anos estudando o percurso, esmiuçando as experiências de outros navegadores internacionais que haviam assumido desafios análogos ao que ele agora se propunha.
Em particular, a análise do histórico de seus pares o deixava bastante preocupado.
Vinte e dois navegadores que testaram travessias semelhantes pelo Atlântico Norte haviam morrido por um mesmo motivo: inevitavelmente, os barcos viravam.
Dentre tantas tempestades aleatórias ao longo do caminho, Klink encontraria ao menos uma capaz de fazer seu barco virar. E uma só tempestade bastaria.
Por isso, ele foi procurar José Carlos Furia com uma ideia fixa na cabeça: o projeto de um barco que nunca capotasse, qualquer que fosse o mau tempo.
Furia se apaixonou pela questão. Criava esboços e os rasgava com a mesma facilidade, tão logo identificasse fragilidades.
Como conceber a forma de uma embarcação que nunca capotasse?
Depois de meses sem deduzir qualquer resposta confiável, o professor teve uma epifania. Chamou Amyr para conversar uma vez mais, convencido de uma solução inteiramente diversa e original.
“Você, rapaz, está fugindo do problema. Se você quer chegar do outro lado do Atlântico, você tem que abraçar o problema.”
E começou a explicar para Klink como funcionaria seu sistema de lastros líquidos.
“Eu quero desenhar para você um barco feito para capotar. Você sairá da Namíbia e virá capotando que nem um alucinado até o Brasil.”
A cada vez que o barco de Klink virasse, os lastros líquidos acionariam um contrapeso suficiente para colocar o topo de novo acima da marca d'água.
Assim aconteceu, e Klink cumpriu uma travessia épica, hoje conhecida como os "cem dias entre céu e mar".
Lembro-me dessa pequena história toda vez que alguém reclama para mim que o fundo multimercado caiu, ou que a carteira diversificada tomou um tombo com esse lance do coronavírus.
Tomar tombos, definitivamente, não é o problema. A única certeza que temos é a de que vamos capotar.
Se quisermos montar uma estrutura de investimentos à prova de viradas, 100% segura, estaremos projetando um barco perigosíssimo, que acabará naufragando na primeira grande tormenta.
Em um janeiro no qual o Ibovespa caiu -1,63%, a Carteira Empiricus subiu +2,60%.
Capotamos como alucinados em janeiro, mas concluímos esta primeira viagem do ano melhores do que terminamos, muito acima da marca d'água.
Quer subir em nosso barco? Seja bem-vindo. Vamos juntos abraçar problemas.