O governo sinaliza que terá um nome para o Ministério da Fazenda até o dia 15 de novembro, e, naturalmente com isto protela a divulgação do seu programa macroeconômico, que se espera novo, e a partir dai devem surgir as novas diretrizes.
Enquanto isto, parece estar procurando ganhar tempo, ficando cada vez mais evidente que quando a Presidente Dilma transformou o Ministro Guido Mantega em ex-Ministro da Fazenda em atividade ainda não tinha um nome para substituí-lo, situação que continua prevalecendo até o momento, tendo sido à época certamente mais uma atitude de natureza política eleitoral, visto que havia um clamor a partir do mercado financeiro e setores produtivos pela mudança do titular da pasta e a Presidenta então sinalizou que o faria se fosse reeleita.
Não há muitos nomes disponíveis e mesmo entre os que estão nesta situação parece haver relativa relutância, tendo em vista que o desafio é grandioso e de difícil execução, pois implicará em absoluta reversão da política macroeconômica até então praticada e que conduziu o país a uma situação bastante critica e sem perspectiva de que pudesse recompor-se na linha do crescimento.
Este fato cria um hiato nas expectativas do mercado financeiro e do setor produtivo da economia, que até o momento demonstram certa tolerância, embora com predominância do descrédito sobre a capacidade e efetiva determinação do governo em promover a mudança de gestão requerida pelo “status quo” atual do país.
O preço do dólar demonstra um comportamento atípico e descolado da realidade, sugerindo que embora prevaleça a visão de um ambiente prospectivo negativo para a formação do preço, está havendo tolerância aos fatores adversos dando um tempo.
O fluxo cambial foi positivo na semana pré eleição e não é possível descartar que tenha sido uma ocorrência pontual sincronizada para o período eleitoral, embora a taxa cambial que se manteve extremamente elevada possa ter estimulado o volume ingressado.
Na semana o fluxo cambial foi positivo em US$ 3,697 Bi, bastante atípico, sendo US$ 3,296 Bi de origem financeira e US$ 401,0 M de origem comercial. No mês o fluxo cambial está positivo em US$. 3,032 Bi, sendo US$ 2,433 Bi de origem comercial e US$ 599,0 M de origem financeira.
Com estes dados o fluxo cambial do ano até o dia 24 último está positivo em US$ 4,375 Bi, sendo US$ 5,921 Bi de origem comercial positivo e US$ 1,546 Bi de origem financeira negativo. Os bancos suportam posições vendidas utilizadas para geração de liquidez no mercado à vista de US$ 12,788 Bi, equivalente a 3,39% das reservas cambiais brasileira de US$ 377,175 Bi.
O retardamento na definição da nova equipe gestora e o programa macroeconômico poderá transformar a tolerância atual em inquietação, e, então pode ocorrer movimento de saída de recursos externos aqui investidos, principalmente em renda variável, já estando a Bovespa dando sinais neste sentido ao recolocar-se em baixa.
Previdentemente, poderá também motivar a saída de recursos externos aplicados em renda fixa, pois frente a incertezas a escolha pode ser pela segurança e não pela rentabilidade.
Da mesma forma os investidores em conta de capital no Brasil, os chamados IED´s, poderão protelar decisões até que haja definição de nomes, programa macroeconômico e entendimento de viabilidade para tornar o país atrativo e capaz de recuperar credibilidade.
Estes poderão ser movimentos de impacto de apreciação do preço da moeda americana, devendo ser considerado ainda a possibilidade de movimentos de saída de recursos decorrentes de decisão do FED americano sobre a política monetária americana que alterará o juro, o que não aconteceu na que se encerrou ontem, e, também à efetiva percepção de que a economia mundial crescerá menos o que pode induzir a deslocamento de recursos para o mercado americano em busca de segurança, provocando a valorização da moeda americana de forma mais abrangente.
O FED (FOMC) decidiu pelo encerramento do QE3 na sua reunião de ontem e postergará a decisão de alteração do juro mantendo-o inalterado e sem previsão exata para a mudança, porém há um claro anseio para que isto ocorra, tanto é que há indicativos de que os principais bancos americanos colocam em seus relatórios a perspectiva da mudança retardada, mas atuam considerando a mudança no curto prazo.
E, na margem, não se pode desconsiderar que o país está sob forte observação das agências de rating, e que a ocorrência de um downgrade atrapalharia de forma relevante o país.
Urge então que o governo reeleito agilize tudo que precisa ser feito inicialmente, e que se acreditava tivesse pronto para ser divulgado imediatamente após a divulgação do resultado eleitoral, visto que não o foi ao longo da campanha.
Eventual argumento de que o governo reeleito somente tem a obrigação a partir de janeiro não é convincente, visto tratar-se um governo que já está no poder e que até destituiu o seu Ministro da Fazenda antes do término, já tendo com isto dado inicio às sinalizações das mudanças.
O inicio e expectativas em torno do governo reeleito começou na ultima segunda feira, não há como patinar na largada procurando ganhar tempo.
Na nossa visão a tendência do preço da moeda americana é de apreciação gradual atingindo R$ 2,60 ao final do ano.
A decisão do COPOM elevando a taxa SELIC de 11,00% para 11,25% surpreendeu totalmente o mercado que a estava prevendo para janeiro de 2015. A única justificativa plausível para o ato pode ser o de tentar poupar que o governo reeleito comece o seu novo período tendo que adotar uma medida de impacto negativo, considerando que pouco reflexo terá sobre a inflação nos dois últimos meses do ano.