Não estamos ainda a frente de uma solução para os problemas na zona do euro mas, ao que tudo indica, a possibilidade de ruptura com a saída de um ou mais países está ficando pra trás. De acordo com o próprio autor da frase título da carta do mês anterior, Luis Stuhlberger (gestor da Credit Suisse Hedging-Griffo), parece que o mercado está cada vez mais apostando num cenário de ‘horror sem fim’ do que no de um ‘fim horroroso’. A diminuição da incerteza trouxe um pouco mais de esperança aos investidores e fez com que o mês de agosto fosse um pouco mais tranquilo para os mercados. Esperança de que a tempestade passe sem maiores estragos, mas ainda sem previsão de ‘bonança’.
Após o discurso do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, no fim de julho e especialmente com a definição de algumas das promessas em seguida, os mercados entraram em uma espécie de trégua. Isto foi caracterizado, entre outras coisas, por alguns dos principais termômetros dessa crise: os juros menores pagos por Itália e Espanha em seus títulos de dívida e suas bolsas de valores que tiveram uma bela recuperação.
É fato que a crise chegou e perdura no mundo real. As taxas de crescimento das maiores economias continuam comprometidas e sem sinais efetivos de melhora, o desemprego e a inadimplência nos bancos (principalmente os espanhóis) em taxas historicamente altas e o consumo em baixa. Entretanto, como bem sabemos, o mercado costuma antecipar os fatos e, levando isso em conta podemos começar a é possível vislumbrar que o fim pode não ser tão doloroso quanto parecia algum tempo atrás.
Outra notícia bem recebida pelos mercados foram os discursos de Ben Bernanke, presidente do Banco Central dos EUA, que defendeu as tais ‘políticas não convencionais’ para impulsionar a economia, ou seja, uma nova rodada de estímulos econômicos conhecida no mercado como QE (quantitative easying). A tempos o mercado vem esperando por isso e a discussão ficava por conta da data em que aconteceria. Ao que tudo indica, caso seja necessário, isto deve ocorrer logo após as eleições presidenciais desse ano.
Do oriente, poucas novidades concretas. Alguns sinais do governo Chinês de estímulo monetário e medidas que visam impulsionar o consumo doméstico, aliados à promessa de que o PIB deve ficar em torno de 7,5% em 2012.
No Brasil, mais um recorde de patamar na taxa de juros. Encerramos o mês com Banco Central cortando pela nona vez a taxa SELIC, atingindo 7,5% ao ano e deixando aberta a possibilidade de maiores quedas. O mercado, por sua vez, já acredita que este ciclo está no fim – o consenso é que a SELIC termine o ano a 7,25%. Também foi recebido bem pelo mercado o plano de infraestrutura anunciado pela Presidente Dilma Rousseff. Ao contrário das anteriores, desta vez as medidas têm impacto direto em gargalos que impediam o crescimento sustentável no longo prazo.
O dólar diminuiu ainda mais a volatilidade durante o mês, não ultrapassando a faixa entre R$ 2,00 e R$ 2,05. Mais do que isso, esse patamar foi ditado pelo próprio mercado, já que não vimos grandes intervenções do Banco Central em defesa de preço da moeda norte americana.
Em relação aos investimentos, o cenário de taxa de juros reduzida e inflação na meta representam mais um achatamento dos juros reais. Com a taxa atual, os investimentos mais tradicionais como poupança e CDB apenas defendem o patrimônio da inflação. Investimentos em bolsa de valores, apesar da ideia de que o perigo ficou para trás, ainda oferecem um risco muito elevado já que não temos uma tendência bem definida.
Aos investidores mais conservadores, a saída é abrir mão da liquidez em função da rentabilidade, optando por Letras de Credito (sendo as mais comuns as imobiliárias – LCIs), ou aceitar um pouco mais de risco investindo em fundos que têm em sua composição títulos de crédito de empresas privadas. Aos investidores mais arrojados, continuamos acreditando nos fundos multimercados sem correlação à índices e que busquem retorno real, tais como os Equity Hedge e com estratégia Macro.
Aparentemente, os investidores brasileiros estão em um caminho sem volta onde, para poder obter ganho real de capital, terão que aprimorar seus conhecimentos ou buscar ajuda de profissionais especializados (de preferência as duas coisas). Na verdade, até mesmo para identificar bons profissionais é importante estudo por parte do investidor. E não esqueça, o mínimo que se exige de um profissional qualificado é a devida certificação para exercício de sua função.
Alexandre Amorim é Analista de Investimentos com certificação CNPI-T, Consultor de Valores Mobiliários certificado pela CVM e sócio da Par Mais Planejamento Financeiro.