Todo investidor que acompanhou, ainda que distante, o mercado financeiro do primeiro semestre de 2017 em algum momento se deparou com notícias sobre bitcoin e outras moedas digitais. Apontado como um dos principais investimentos no ano com ganhos de mais de 150% desde janeiro, o bitcoin ainda é uma grande incógnita para a maioria dos investidores – sim, até mesmo os mais experientes.
Com esse pouco conhecimento e o grande interesse que o bitcoin desperta, o Investing.com Brasil preparou um especial para abordar desde o básico de o que é uma moeda digital até como investir e pagar por produtos e serviços com o bitcoin. Aproveite hoje o primeiro texto do especial e não deixe de retornar nas próximas semanas para entender melhor o que o mundo das criptomoedas e as raízes da criptomania que atingiu o mercado em 2017.
Moeda sem banco central
O bitcoin nada mais é do que uma moeda que pode ser usada para pagar por produtos e serviços. O que a diferencia das divisas que estamos acostumados, como dólar, real ou euro, é ser uma moeda virtual, cuja emissão e transferência entre pessoas e empresas independe de qualquer autoridade ou banco central.
O bitcoin faz parte de um conjunto de moedas virtuais – que incluem o ethereum, ripple, litecoin, entre muitas outras – também conhecidas como criptomoedas, nome derivado de sua arquitetura digital de funcionamento. Como não há um formato físico – cédulas ou moedas –, a existência de cada bitcoin ou carteira virtual é um código matemático único, cuja validade depende de conjunto de regras que são verificadas por uma rede de computadores conectados que checam e rechecam cada transação – em uma solução chamada de blockchain (veja aqui as o fluxo de informações da blockchain)
“O bitcoin roda em cima da tecnologia blockchain, que através de criptografia diminui infinitesimalmente o risco de fraude e duplicidade na transação. Caso você seja o detentor da chave privada, estará 100% no controle de seus bitcoins. A mesma tecnologia de blockchain agora está sendo aplicada por bancos e bolsas mundo a fora em diferentes contextos e versões”, explica o fundador da FlowBTC, Marcelo Miranda.
É essa rede descentralizada, sem o controle central de nenhum país ou empresa, que mantém as criptomoedas funcionando. Na prática é uma rede formada por servidores, que processam os cálculos matemáticos para verificar a validade das operações e que mantêm históricos de transações, que permite rastrear o fluxo das operações na etapa de validação, sem a necessidade de identificação do dono da moeda.
“É importante destacar que o bitcoin é uma tecnologia revolucionária, assim como foi a internet. Nunca houve a possibilidade de existir uma moeda, sem emissor central, de forma totalmente autocontrolada e sem nenhuma possibilidade de fraude nas transações”, explica Guto Chiavon, o sócio fundador e COO da corretora Foxbit, que preparou um glossário para ajudar os iniciantes e desmistificar o bitcoin, ao reforçar os conceitos de segurança e liberdade para os usuários por meio da transparência (veja no fim do texto).
Esses princípios vêm desde a concepção do bitcoin em 2008, com a publicação de um artigo que propunha a criação de um sistema monetário eletrônico ponto a ponto (peer-to-peer ou p2p). A idealização foi assinada por Satoshi Nakamoto, um pseudônimo utilizado por algum uma pessoa ou grupo, que nunca foi oficialmente identificado.
Supervalorização em 2017
O bitcoin – e as demais criptomoedas – passou a figurar no mercado financeiro neste ano quando a intensa valorização despertou o interesse dos operadores e investidores. A moeda saltou impulsionada pela grande demanda asiática, especialmente Japão, Índia e também da China, quando o banco central local retirou as restrições às moedas digitais. Tratamos desse tema na semana passada e traçamos um cenário para o segundo semestre.
A criptomania elevou os preços do bitcoin, que, apesar de seus quase 200% de ganhos no primeiro semestre, figura entre os piores desempenhos das moedas digitais. Veja abaixo a comparação com o ethereum, que surfou mais de 4.000% de ganhos com a expectativa de que a moeda poderia superar o bitcoin como a principal e mais capitalizada blockchain global.
Emissão de moedas – Mineração
Entre os diversos termos usados pelo mercado de bitcoin a mineração chama a atenção tanto dos que querem investir, quanto daqueles que desconhecem a moeda virtual e se intrigam com a analogia a uma atividade tão real.
O trabalho de mineração é a atividade de computadores de validação de operações na blockchain, que é remunerada com novos bitcoins que surgem e são incorporados ao sistema.
O nome mineração faz uma analogia ao mundo real ao replicar a escassez e a maior dificuldade de retirar minérios com o passar do tempo. No mundo virtual, a cada 210 mil blocos de códigos – o histórico que contém as verificações de transações – adicionados ao sistema, o número de bitcoins gerados a cada bloco cai pela metade, em evento chamado de block halving.
A última vez que isso ocorreu foi em 9 de julho de 2015, quando o número de bitcoins gerados a cada bloco de operações caiu de 25 para 12,5. No lançamento da blockchain, o retorno era de 50 bitcoins por bloco. É possível acompanhar quando o próximo block halving irá ocorrer.
Essa lógica foi desenvolvida para colocar a moeda em circulação e estimular a criação de uma rede de computadores dedicados a operacionalizar o sistema descentralizado, privilegiando as primeiras pessoas que mineraram bitcoins e, ao mesmo tempo, fazer com que a oferta de novos bitcoins por meio de mineração não representasse uma força inflacionária, desvalorizando a moeda.
“Bitcoin tem uma característica de reserva de valor. A oferta vai diminuindo a cada quatro anos, até o limite de 21 milhões de bitcoins”, explica o fundador e editor do Bitcoin News Brasil, Paulo Fiorio.
Segurança KYC
Apesar de ser uma moeda virtual, o valor e utilidades do bitcoin são bastante reais. Na cotação de ontem de US$ 2.315, há US$ 38 bilhões em bitcoins no mundo.
“[Com bitcoin] uma pessoa pode pagar outra diretamente, de forma segura, rápida e barata, sem precisar de intermediários. Isso tudo permite que pessoas possam comprar mercadorias e serviços por sites em todo o mundo, tomar café, fazer academia e muito mais nos mais de 300 estabelecimentos que já aceitam bitcoin no Brasil”, destaca o CEO da casa de câmbio digital Mercado Bitcoin, Rodrigo Batista.
O executivo ressalta que na transação direta (p2p) entre pessoas ou com lojistas, não é necessário pagar taxas e as operações são irreversíveis. “Reduz o risco de fraudes para lojistas. E enviar ou receber bitcoins é tão simples e fácil quanto enviar um e-mail”, afirma.
Se por um lado a facilidade, descentralização e anonimato facilita a vida do usuário, essas características também estão por trás da má fama que ronda a criptomoedas nos últimos anos, com a atração de mercados ilegais interessados no pouco controle oficial sobre a moeda.
Em 2013, o FBI desarticulou uma rede de venda de drogas com o pagamento por bitcoin, chamando a atenção do público sobre o tema.
A resposta das corretoras foi desenvolver um protocolo chamado de know your customer (KYC) e evitar que usuários possam se beneficiar dos princípios do bitcoin para descumprir as leis. “É fundamental que se conheça quem está realizando a venda e se é uma pessoa de confiança, porque uma vez enviado os bitcoins, a transação é irreversível”, ressalta Marcelo Miranda, que complementa que o melhor lugar para comprar e vender bitcoins são nas corretoras de criptomoedas, chamadas de exchanges.
Glossário
BITCOIN – Moeda digital criada em 2008 que pode ser utilizada para transferência entre pessoas e pagamento de produtos e serviços.
BLOCKCHAIN – (cadeia de blocos, em inglês) é um banco de dados público que mantém os saldos e transações de bitcoin
BLOCK EXPLORER – Um block explorer ou blockchain browser, é um site ou programa de computador que permite você visualizar e navegar pelo blockchain do bitcoin e de outras criptomoedas. Os block explorer mostram, de forma amigável e legível ao ser humano, todas as transações, endereços, blocos e outras informações do blockchain.
BTC – Abreviação da unidade monetária do bitcoin.
CARTEIRA – conjunto de dados para se fazer transações com bitcoin, contendo as credenciais digitais para movimentar seus fundos.
CHAVE PRIVADA – Código de letras e números que equivalente a uma senha utilizada para realizar transações, contendo 51 ou 52 caracteres.
CHAVE PÚBLICA – Código público utilizado para receber pagamentos.
ENDEREÇO BITCOIN – Identificação de remetente e destinatário das operações.
EXCHANGE – Local utilizado para troca entre moedas e outros ativos. Exchange de bitcoins são utilizadas para trocar bitcoin por moedas FIAT ou outras criptomoedas.
KYC – Sigla de Know Your Customer, em português, Conheça seu Cliente, são políticas que instituições governamentais impõe a empresas para assegurar quem conhecem com quem estão fazendo negócios, ou seja, possuem dados e documentos de seus clientes.
MINERAR – Ato de gerar novos bitcoins resolvendo problemas criptográficos com um computador ou hardware específico.
NÓ – Dispositivo conectado à rede bitcoin que utiliza um programa de computador para retransmitir transações para outros nós, criando uma rede descentralizada.
SATOSHI NAKAMOTO – Pseudônimo usado pelo criador do bitcoin.
Fonte: FoxBit
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