Segundo o dito popular, o papel aceita tudo. Verdade. Mas ao contrário de um acordo feito de boca, cujos sons das palavras são lançados ao vento, o que é escrito fica registrado. Por essa razão, a produção e divulgação de relatórios como os de sustentabilidade, da administração, de demonstrações financeiras e informes trimestrais, entre outros, é muito mais do que mera formalidade.
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É a maneira de uma corporação informar tudo sobre suas atividades, estratégias e situação financeira de forma transparente. Mais ainda, é uma garantia de comprometimento com a verdade ao passo que aquilo que está escrito e assinado pode ser posteriormente verificado e confirmado (ou não) por meio de auditorias.
Por isso é espantoso saber que apenas 44% das empresas brasileiras de capital aberto divulgam para o mercado seus relatórios de sustentabilidade. E das que divulgam, somente 8% submetem seus relatórios à auditoria de uma entidade independente. É o que mostrou um estudo, divulgado no final de maio, feito pela agência nacional de rating e governança, BR Rating, em parceria com a empresa internacional de auditoria, Grant Thornton, envolvendo 329 empresas de 27 setores da economia.
Os setores de Energia (18%), Transporte e Logística (16%) e o de Saneamento (10%) são os mais comprometidos com a divulgação de seus relatórios. Seguros e Indústria Química (3% cada) estão entre os menos comprometidos. Mas outro ponto chama a atenção. Do total de empresas que fazem a divulgação, apenas 48% tornam públicas as metodologias ou padrões usados em seus relatórios. E desses, 31% divulgam os temas materiais, sendo que 8% informam as metas relacionadas a esses temas.
O estudo é bem aprofundado e seria necessário muito espaço para citar todos os dados. Mas as informações acima já são suficientes para percebermos que as empresas nacionais, em sua maioria, ainda não estão maduras para implantar uma política dentro dos conceitos ESG. Fazendo um paralelo deste estudo com os inúmeros artigos e análises publicados na mídia em geral nos últimos dois anos, pode-se concluir que há uma longa jornada a ser percorrida para divulgar, de forma padronizada, as boas práticas ambientais e sociais, integradas com a Governança Corporativa, sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, visando preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo.
Claro que esta jornada para melhor divulgar os temas materiais, metas e resultados auditáveis do ESG está em constante evolução. O problema é que ela anda muito lentamente no Brasil. E precisa ser mais rápida em razão do dinamismo do mercado. As boas práticas deveriam ser implantadas em uma velocidade bem maior do que a criação de leis e regulamentos.
Uma empresa verdadeiramente comprometida estipula suas metas de sustentabilidade e como pretende atingi-las. Coloca todos os avanços e todas as falhas no Relatório de Sustentabilidade e o submete a uma auditoria mostrando a seriedade do processo. E divulga, permitindo que partes interessadas possam acompanhar a veracidade da informação. É uma questão de comprometimento com a sociedade, de provar que a política ESG da companhia é uma realidade e não mero marketing.