O aparecimento frequente de ESG nas conversas cotidianas é um desenvolvimento bem-vindo. No entanto, é muito importante esclarecer o que é ESG (e o que não é) e empregar esse termo frequentemente usado em seu devido contexto. ESG, abreviação de Fatores Ambientais, Sociais e de Governança, está em ascensão. Embora o conceito já exista há algum tempo, as menções a "investimentos ESG, fundos ESG, estratégias ESG" parecem ter aumentado na mídia e nos provedores de dados nos últimos meses.
O termo "investimento ESG" é frequentemente usado para sustentabilidade ou investimento de impacto para o planeta. Comentários como "Investir em energia renovável é uma parte fundamental de nossa estratégia em ESG" são ouvidos com frequência. Em suma, acredita-se que investir em ESG requer a busca de impacto positivo ou boas ações – para o planeta ou para quem precisa, este não é o caso.
ESG não é fazer o bem, nem é uma estratégia de investimento em si. ESG é apenas uma estrutura que pode e acreditamos que deve ser aplicada a todos os processos de due diligence de investimentos. A due diligence em ESG visa identificar e mitigar os riscos econômicos, sociais e de governança que podem enfraquecer ou prejudicar os investimentos. Por exemplo, em caso de acidente, uma empresa com controles ambientais insuficientes pode causar danos à sua receita, lucratividade, reputação e valorização. Investidores que não seguem um processo que lhes permita identificar as deficiências ambientais da empresa antes de decidir investir seu dinheiro podem sofrer.
Não é preciso ser um benfeitor para ver o quanto a fraqueza ESG pode afetar os retornos dos investimentos. Ao pensar em ESG, a maioria das pessoas se concentra mais na parte ambiental, provavelmente porque os perigos são mais óbvios e potencialmente catastróficos. Temos como exemplo um derramamento de óleo. No entanto, os riscos sociais e de governança são igualmente importantes. Os riscos sociais surgem quando as comunidades são comprometidas de maneiras que não estão relacionadas ao meio ambiente. Exemplo disso é o caso de empreiteiras como a Odebrecht e suas obras inacabadas e super faturamento apontados pela operação Lava-jato.
Quando se trata de governança, a mídia financeira está cheia de histórias de má conduta gerencial, desde contabilidade fraudulenta até má supervisão do conselho. A JBS (BVMF:JBSS3) por exemplo, passou por um problema semelhante em 2017 em grande parte devido a procedimentos de governança deficientes.
Porém devemos sempre considerar estes riscos ao avaliar oportunidades. No entanto, eles não podem ser agrupados em categorias distintas de ESG ou ter uma política ou processo formal de investimento ESG em vigor. Acredito que ter um porto seguro em ESG forte para conter esses riscos de maneira coesa é valioso. Um foco ESG robusto incorporado em todas as etapas do processo de investimento, desde a subscrição à execução e monitoramento, está rapidamente se tornando o requisito básico para qualquer organização de investimento séria.
No entanto considerar apenas os fatores ESG, não será suficiente em um mundo sofisticado onde os proprietários de ativos e as partes interessadas estão profundamente conscientes dos riscos que desejam evitar. Mas como isso se traduz em ação? Uma política ESG não é confiável se permanecer apenas no papel. Para que tenha impacto todo a equipe de investimento precisa ser treinado e esse treinamento deve ser atualizado periodicamente.
Assim os processos ESG sólidos é definido no topo das organizações e, como tal, um membro sênior da equipe de investimento deve ser o líder do processo ESG. A equipe de investimento treinada deve então discutir proativamente os riscos ESG durante o processo de investimento e não abordá-los como uma reflexão tardia. O teste final é se um investimento de outra forma atraente é rejeitado porque o risco ESG não pode ser mitigado.
Também é importante reconhecer que o ESG não é um instrumento sólido e contundente. Há problemas em variar o nível de intensidade ESG. Um investimento na fabricação de produtos químicos exigirá maior consideração dos riscos ambientais do que um investimento no setor de software. As práticas de vendas de um negócio focado no setor público podem exigir um nível diferente do que aquele de um negócio direto ao consumidor por exemplo.
Com isso não existe investimento ESG, mas existe algo como empregar uma estrutura ESG para avaliar os méritos e riscos de um investimento. Acredito que com o tempo à medida que mais e mais pessoas, empresas, gestores e analistas colocarem essa estrutura em prática, isso será conhecido simplesmente como “investimento”, nada além do que isso.