A ideia de que a gestão com base no conceito ASG (Ambiental, Social e Governança) – há quem prefira a sigla em inglês ESG – é apenas marketing e teria como resultado o aumento de custos das companhias está caindo fortemente por terra a cada dia que passa. As razões para os executivos e acionistas de todos os lugares do planeta demorarem para absorver esse conceito são compreensíveis. A definição de sustentabilidade propriamente dita surgiu em 1987, na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU, e somente em 2004 a sigla ASG apareceu como base para investimentos. Ou seja, é algo relativamente novo.
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Mais recentemente, porém, os executivos começam a entender que ASG é justamente o contrário. Trata-se de um investimento cujo retorno é mensurável. No curto prazo pode, por exemplo, parecer caro instalar placas fotovoltaicas para gerar energia. Mas ao longo dos anos, o quanto uma empresa consegue economizar em sua conta energética sem contar a segurança de não sofrer com oscilações da rede tradicional ou mesmo com o risco de apagões? E, tão importante quanto, os benefícios ambientais são imensos (energia elétrica, carvão, diesel, entre outras, causam enormes danos à natureza).
Não podemos esquecer do “S”, de Social, que compõe todo o conceito ASG. Empresas privadas ou públicas, com fins lucrativos ou não, podem e devem adotar processos mais transparentes de gestão de pessoas (seleção, contratação, retenção, treinamentos, políticas de remuneração, inclusão, diversidade e por aí vai). É amplamente reconhecido que empresas com times mais adaptados geram melhores resultados financeiros e sociais.
Em outras palavras, embora os fatores ASG às vezes sejam chamados de não financeiros, a forma como uma empresa os gerencia, sem dúvida, tem consequências financeiras mensuráveis. ASG cria valor porque contribui com o crescimento da receita e da rentabilidade ao aumentar a confiança e fidelidade dos clientes, atrair novos consumidores, gerar diferenciais de mercado, além de reduzir custos, aumentar a eficiência operacional e buscar a melhoria contínua dos processos, entre outros pontos que envolvem as boas práticas de gestão.
Outra consequência tão importante quanto é que a implantação de uma gestão nos moldes ASG possibilita a continuidade dos negócios, na medida em que há gerenciamento de riscos, melhoria no relacionamento com todas as partes interessadas, licença social para operar, retenção e atração de funcionários. Aqui estamos falando do “G”.
Ao considerar todos esses pontos o empresário, executivo ou acionista passa a enxergar que ASG é uma forma de produzir e lucrar mitigando consequências negativas no ecossistema e na sociedade ao passo que, simultaneamente, melhora os resultados financeiros.
Por outro lado, a implantação de um modelo ASG exige o uso de métricas adequadas. Uma grande dificuldade é que, geralmente, as companhias mais preocupadas em adotar esse tipo de gestão, criavam os próprios parâmetros, pois não há um padrão a ser seguido. Isso torna difícil avaliar o grau de comprometimento de cada uma delas, pois, dentro de seus conceitos todas elas estariam totalmente engajadas. Mas não é por aí e, por essa razão, há movimentos para criação de métricas que possam ser adotadas pela sociedade em geral.
Dessa forma, fica mais fácil para as empresas iniciarem ou melhorarem a implantação de um modelo de governança corporativa com foco na sustentabilidade. Uma metodologia única, aplicável a todas as companhias, permite ao gestor do negócio saber se realmente está no caminho certo e ao mercado conhecer o estágio em que a companhia se encontra. Temos um enorme desafio nesse processo de padronização ou diretrizes mais organizadas.
Enfim, o surgimento de ferramentas mais assertivas na avaliação das gestões com base no modelo ASG, chegam para atender uma necessidade do mercado e para transformar em realidade um modelo econômico verdadeiramente sustentável.