Era uma vez um dragão chinês. Que um dia sonhou que era uma lagartixa. Subindo até Davos, na Suíça. Realizando assim o sonho de crescer mais que o esperado. Até que um dia a China se levantou, mas a desconfiança dos mercados com os números chineses acompanha os passos do gigante há décadas.
Por isso, os investidores não se animam com a alta de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês no quarto trimestre e no acumulado de 2023, conforme antecipado pelo primeiro-ministro Li Qiang nos alpes suíços. Apesar da aceleração da atividade e de superar a meta de Pequim, os mercados preferem ver os dados como os piores em 30 anos.
Tanto que as bolsas da Ásia fecharam em fortes perdas. Hong Kong tombou 4%, enquanto Xangai caiu a metade disso. No Japão, o índice Nikkei realizou lucros, após cravar o maior nível desde 1990. Já o sul-coreano Kospi cedeu 2,4%. Mas o que guia os ativos de risco no exterior nesta manhã é o sinal negativo vindo de Wall Street desde ontem.
Um conto não chinês
As bolsas de Nova York, enfim, deram início a uma correção nos preços, após um “rali de tudo” impulsionar as ações globais em novembro e em dezembro. O Ibovespa acompanhou o movimento de forma mais intensa, vindo abaixo dos 130 mil pontos na véspera. Mas a bolsa brasileira é apenas coadjuvante nessa história.
A narrativa de que o Federal Reserve iria reduzir a taxa de juros nos Estados Unidos mais cedo do que tarde e de forma agressiva vai se transformando em um conto - não chinês. Os fatos reais são mais duros e parecem revelar um alívio menor, que não deve começar tão breve e que, quando acabar, será com juros terminais mais altos do que o previsto.
Com isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve continuar cortando a taxa Selic ao ritmo de meio ponto percentual (pp), acomodando o juro básico mais perto dos dois dígitos ao final do ciclo. Ou seja, tanto aqui quanto lá, as esperanças em relação à política monetária eram apoiadas em sonhos impossíveis. Chegou a hora do mercado acordar!
Mas se ainda restam dúvidas, o calendário do dia reserva a fala de mais três dirigentes do Fed, que devem repetir nesta quarta-feira o que já foi dito ontem e também já há algum tempo. Dados de atividade no Brasil e nos EUA também estão em destaque. Juntos, essa agenda deve destituir o mito criado pelos mercados desde o fim do ano passado.