A segunda onda da pandemia do coronavírus volta a se alastrar pelas principais economias do mundo e isto impacta negativamente nas perspectivas imediatas de retomada sustentável da atividade econômica, tendo em vista que impõe a volta de restrições as mais diversas.
E no Brasil, ainda que os sinais estejam mesclados entre a saída da 1ª fase e ingresso na 2ª fase ainda discreta e os números não sejam tão drásticos, as preocupações não devem ser diferentes, e digamos, até maiores, pois se o governo federal sequer encontra solução para interromper os programas assistenciais às classes menos favorecidas, seria altamente preocupante se voltasse a ser exigido, visto que sabidamente não há recursos e nem fontes de financiamentos e o país convive com uma severíssima crise fiscal, que o imobiliza.
O que se observa é um comportamento absolutamente bipolar, repercutindo perspectivas futuras que agregam esperanças, tais como o novo governo do Presidente americano eleito Joe Biden e os anúncios de avanços concretos na formulação de vacinas contra o coronavírus, e, em movimento contínuo e imediato acentuando reversivamente o ambiente ao atentar para o “status quo” presente da gravíssima crise da pandemia que retorna em sua 2ª rodada, ameaçando os sinais de recuperações de atividades de importantes economias.
A sensação é de “stop and go” constante ou mesmo de que o “day trade” prevalece favorecido pela inconsistência que afeta a convicção de superação da problemática do coronavírus e todas suas mazelas.
Em realidade, o coronavírus tem mais força de contração do otimismo enquanto as vacinas não forem efetivamente disponibilizadas à população para imunização universal, e as perspectivas com o novo governo americano de Joe Biden ainda forem somente perspectivas.
O fato é que os “players” dos mercados não querem perder o “timming” e assim antecipam movimentos fundados nas perspectivas, mas, de repente, são afrontados pelos problemas presentes.
A Europa e os Estados Unidos deverão implementar novos programas envolvendo cifras milionárias para dar suporte às suas economias e às suas populações, e, em outros tempos esta perspectiva seria alvissareira para o Brasil como destino natural da liquidez consequente no mercado internacional.
Mas, os tempos mudaram, estima-se que já haja algo como US$ 3 trilhões de recursos buscando rentabilidade no mundo, até sujeitos agora a assumir maior risco, mas ainda não é possível ver o Brasil novamente no “radar” desta enorme liquidez, tendo o Presidente do BC destacado que o risco fiscal inibe este fluxo.
Na renda fixa o Brasil perdeu atratividade dada a desconformidade do juro praticado “vis-a-vis” sua realidade de país emergente, embora esta dicotomia provoque a valorização excessiva do preço do dólar que favorece a conversão.
A renda variável ainda tem muitos senões por falta de homogeneidade nos sinais de recuperação da atividade econômica, e, ainda não se ter clareza sobre o quanto os recursos do governo injetados via programas assistenciais contribuíram para o desempenho de ações do varejo, em especial, mas, até de forma surpreendente, há um fluxo de recursos estrangeiros em torno de US$ 3,0 Bi este mês, o que tem dado sustentação à Bovespa com alguns papéis pontuais, tipo Vale (SA:VALE3), e repercutido positivamente no fluxo cambial.
Sabidamente o país convive com um “corner” já que precisa amparar a parcela da sociedade menos favorecida e assim precisaria dar continuidade aos programas assistenciais e, sabidamente, não tem recursos para tanto, o que tem propagado o receio de rompimento do teto orçamentário.
A pressão que é exercida pelo mercado financeiro sobre o BC/TN para a rolagem da Dívida Pública, exigindo encurtamento de prazos e alta dos juros, seguramente não passa despercebida dos investidores estrangeiros e pode impor precauções quanto a capacidade de pagamento do país, a despeito de sabidamente saber-se que o país tem reservas cambiais suficientes e que o tornam, na atualidade, credor líquido em moeda estrangeira, o que de certa forma ameniza o seu CDS, mesmo com a crise fiscal preocupante.
É notória a atuação do BC/TN no mercado financeiro, sob a batuta do Ministério da Economia, mais como “trader”, o que é um erro, do que como órgão regulador e fiscalizador que baliza as disfuncionalidades que ocorram de forma pontual.
Temos em nossos posts repetidamente pontuado que o BC deve manter ação profilática e prudencial de oferta de novos contratos de swaps cambiais buscando conter focos de pressão, até especulativa, e buscar harmonizar melhor a formação do preço da moeda americana com a realidade efetiva dos fatores formadores de preços, contendo a volatilidade que tem se revelado intensa e duradoura.
Agora, tardiamente, surgem ruídos de que poderá fazer oferta de contratos de swaps novos para atenuar pressões com as operações de “overhedge” dos bancos previstas para dezembro, quando na realidade terá oportunidade de vender, isto sim, moeda efetivamente à vista das reservas cambiais.
Para se ter ideia da eficácia da medida prudencial que se especula, a venda de contratos de swaps novos, o impacto da expectativa foi extremamente relevante no preço da moeda americana no nosso mercado, depreciando-o de forma intensa frente ao real, sem qualquer correlação com outras moedas emergentes, de forma pontual expurgando o conteúdo especulativo.
Por outro lado, embora o ambiente permita devido à inércia até recentemente da atividade econômica, não parece adequada a manutenção de um juro SELIC que afeta a formação do preço do câmbio, ao não manter a simetria racional que recomenda a boa técnica.
A estratégia do “câmbio alto e juro baixo” beneficiou o setor do agronegócio em suas exportações, aliviando os impactos do custo Brasil e provendo de competitividade os produtos brasileiros num momento em que o mercado internacional tem sido franco comprador.
Contudo, provocou efeitos extremamente nefastos nos preços da economia, principalmente da cadeia alimentar, e gerando inflação captada fortemente pelo IGP-M e nem tanto pelo IPCA, gerando uma disfuncionalidade redutora de renda dos assalariados que pagam serviços reajustados pelo IGP-M e têm salários reajustados pelo IPCA.
Enfim, a rigor, a Bovespa tem tido movimentos de euforismo pois após longo período de ausência ocorre um volume de ingresso de investidores estrangeiros, mas nada impede que “perca o bonde” dos fluxos internacionais e sua sinalização de recuperação seja tão somente um espasmo, o Brasil precisa fazer mais por si próprio, como quebrar a disfuncionalidade entre juro e câmbio e refomentar canais de fluxo de recursos externos que permitam ao BC/TN posição mais confortável para rolagem da Dívida Pública.
O dólar tende a ter o preço depreciado no Brasil como consequência da queda da moeda americana no mercado internacional, em especial contra as emergentes ligadas a commodities, e não por méritos do real, e seria importante que, com a melhor equalização juro x câmbio, ocorresse movimento do real efetivamente conquistando apreciação ante o dólar.
O inesperado fluxo de investidores estrangeiros para a Bovespa precisa de melhor entendimento, se especulativo sem ser duradouro ou aumento do apetite por risco em oportunidades pontuais, para se ter compreensão se pode ser efetivamente colaborativo na apreciação do real.
Contudo, é inegável que uma atuação do BC de forma contumaz ofertando swaps cambiais novos colaboraria muito para um comportamento mais estável e efetivo do preço da moeda americana no nosso mercado e poderia inibir a forte volatilidade que voltou a se acentuar.