Nesta época do ano, é comum recebermos perguntas aqui sobre as habilidades necessárias à formação de um investidor de ações, seja em nível profissional ou pessoal.
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Por que essas perguntas se tornam mais frequentes entre novembro e fevereiro? Não sei, talvez por conta das resoluções de ano novo.
Aproveitando o calendário, escolhi tratá-las desde já, por meio de uma resposta resumida, mas com alguma (mínima) profundidade epistemológica.
Na minha forma de entender as coisas, o bom investidor de ações deve tentar desenvolver dois conjuntos básicos de habilidades.
O primeiro conjunto, mais óbvio, remete ao léxico de como funcionam as engrenagens do mercado e apela à resolução de problemas lógicos.
Esse é um corpo de estudos particularmente convidativo aos economistas e engenheiros, acostumados com exercícios de valuation. Via de regra, porém, a álgebra usada aqui é absolutamente trivial, e não deveria representar qualquer desafio a um aluno regular de matemática do ensino médio.
Portanto, o domínio das ferramentas lógicas se coloca mais como condição necessária do que suficiente, e raramente implica um diferencial competitivo no mercado financeiro.
Sem surpresas, basta notar que os principais financistas em atividade não são gênios da matemática, nem precisam resolver equações diferenciais de cabeça. Sua notoriedade deriva de outros atributos, provavelmente associados a um segundo conjunto de habilidades.
Então, está na hora de fazermos a passagem do primeiro ao segundo conjunto; para isso, gosto de usar uma metáfora entre carros e trânsito.
A maioria dos engenheiros adora estudar o funcionamento dos automóveis, incluindo todas as suas nuances mecânicas e elétricas. Porém, isso pouco os ajuda a compreender as interações no trânsito de uma grande cidade.
Você não será um melhor motorista por ler a Quatro Rodas e decorar a ficha técnica da Fiat Strada Volcano.
E os melhores motoristas são (surpreendentemente?) pouco correlacionados com aqueles que se orgulham de fazer balizas perfeitas.
Entre fazer uma baliza perfeita e saber o momento mais seguro de trocar de faixa na Marginal, eu escolheria facilmente a segunda habilidade; e assim é também no mundo dos investimentos.
Você precisa entender como uma empresa funciona, e precisa saber como trocar de faixa a tempo de pegar a via expressa, sem derrubar os motoboys.
Usar o celular no trânsito para ver cotações é perigoso, assim como acelerar no sinal vermelho.
Parar no sinal verde também parece uma má ideia àqueles que desejam pegar carona no rali de fim de ano.