Recentemente tivemos um assunto que tem chamado a atenção dos investidores sobre um acordo entre o Brasil e a China para que suas transações bilaterais não precisem passar necessariamente pelo dólar, sendo as negociações realizadas diretamente entre real e iuan, excluindo totalmente o dólar das operações.
Apesar de ser algo recente, o acordo gerou muitas dúvidas sobre como serão as relações comerciais entre os dois países e com razão, pois a China é o principal parceiro comercial do Brasil e é um player extremamente relevante para todo o mundo.
Por um lado, essa medida entre as moedas real e iuan tem sido vista com bons olhos, pois pode proporcionar uma agilidade somada a redução de custos nas operações, já que um dos principais objetivos do acordo é eliminar intermediários possivelmente. Mas de outro lado, temos que considerar que o iuan é uma moeda exótica e possui uma volatilidade muito maior do que o dólar, o que traz uma insegurança maior nas negociações entre importadores e exportadores.
Porém, essa medida não é uma lei e sim um acordo comercial que ainda não está vigente, o que tira as preocupações imediatas de importadores e exportadores. Outro ponto interessante de comentarmos é que esse acordo não prevê uma obrigatoriedade em negócios entre real e iuan, mas sim, dar uma opção entre às partes de negociar entre as duas moedas sendo que atualmente já é possível atuar assim no mercado hoje.
Atualmente, qualquer empresa pode fechar um câmbio em moedas distintas do que consta em seus documentos. É totalmente possível possuir uma declaração de importação em dólar e fechar o câmbio em iuan. Se a moeda for conversível, não existem problemas em fazer neste modo.
A avaliação do exportador que precisa ser levada em consideração é qual opção seria a melhor alternativa: receber suas vendas em uma moeda forte (dólar) ou ficar exposto nas oscilações de moedas exóticas como o real e o iuan, que são muito mais voláteis que o dólar. Sendo este o ponto principal para as negociações.
Avaliando o mercado de câmbio como um todo, se compararmos as principais moedas do mercado de forex – que são o dólar americano e o euro – concluímos que por ser uma moeda exótica, o iuan tende a ter uma liquidez menor e também um spread maior que irá prejudicar a margem dos exportadores e importadores.
Sob um outro ponto de vista, se tivermos um cenário onde as transações com o iuan aumentem, é totalmente possível que a liquidez aumente, os spreads diminuam e consequentemente a moeda deixará de ser exótica, porém, ainda assim, é algo que pode demorar anos e pode ser muito complicado convencer um exportador a receber em iuan, uma moeda exótica até então, principalmente se for um player que atua diretamente nos mercados tradicionais de commodities, como Chicago ou Londres, que são cotados em dólar americano e libra esterlina, respectivamente.
Atualmente se sabe que a China já realiza negócios não dolarizados com 25 países, sendo os principais deles: Alemanha, Austrália, Canadá, Catar e França, segundo um relatório que foi divulgado no ano passado pelo People’s Bank of China (PboC – Banco Central da China). Na América do Sul, os negócios atualmente ocorrem com a Argentina e o Chile, que também são dois importantes players na comercialização com a China.
Um fato importantíssmo a ser levado em consideração é que o iuan tem crescido muito nas reservas de alguns Bancos Centrais, como o de Israel e também sendo a segunda maior moeda utilizada pelo BCB (Banco Central do Brasil), com cerca de 5%, superando inclusive o Euro, que possui 4,7% de participação na reserva e que até 2018 não tinham nada de iuan nas reservas. A moeda predominante ainda é o dólar americano representando cerca de 80% na cesta de moedas estrangeiras do BC.
Outrossim, a dependência do dólar no mercado internacional tem diminuído cada vez mais, apesar de ser um processo que pode levar bastante tempo ainda para se concretizar. 88% de todas as transações globais ainda são em dólar americano e em iuan são apenas 7%, por enquanto, segundo dados do Bank for International Settlements (BIS).
Portanto, tudo indica que estamos em um ponto chave sobre o início de uma nova perspectiva global de negociações no mercado de câmbio. Não sabemos o quanto tempo isso demorará para acontecer, mas é fato que acontecerá, visto que já tem alguns bons anos que ouvimos dizer que a economia da China ultrapassará a qualquer momento a grande potência que atualmente os EUA são, considerando além desta questão do iuan trazidas neste texto, como também as questões de que a China detém a maior quantidade de dólares americanos do mundo e os chineses continuam querendo dominar o mercado imobiliário nos EUA.
Será um bom momento para repensarmos sobre a dolarização de carteiras de investimentos antecipando um cenário que aparentemente tem tudo para acontecer?