A foto do fechamento do mercado financeiro ontem, quando o Ibovespa resistiu à queda em Nova York, dá pistas da dinâmica dos negócios locais. O índice de ações não apenas fechou em alta, como também renovou máximas históricas - do dia e de fechamento. O movimento ocorreu apesar do salto de mais de 1% do dólar.
A moeda norte-americana voltou a se aproximar da faixa de R$ 5,50, subindo quase R$ 0,10 em um único dia. Já a curva de juros futuros retirou prêmios da parte curta e incorporou no trecho longo. Ou seja, os investidores acreditam na tendência de alta da taxa Selic no futuro - porém, não tão próximo, por exemplo, em setembro.
Na legenda da foto poderia estar a mensagem de que a percepção de risco - fiscal (?) - no Brasil aumentou, o que se refletiu nos DIs e no câmbio. Mas, aí, como se explica os novos recordes da bolsa brasileira pelo segundo pregão consecutivo? O cenário doméstico dos ativos de risco está embaçado.
À espera de um ajuste
Em algum momento, será preciso enquadrar os preços, alinhando-os à conjuntura externa. Aliás, a ata da reunião de julho do Federal Reserve, que sai à tarde (15h), prepara o terreno para o discurso de Jerome Powell em Jackson Hole. A expectativa é de que ele repita na sexta-feira (23) o conteúdo do documento a ser divulgado hoje.
Seja como for, os mercados globais seguem embalados pelo tão aguardado corte nos juros dos Estados Unidos. A previsão é de que a reunião do mês que vem dê início a um ciclo de alívio - o primeiro por lá em mais de quatro anos - afastando a taxa dos maiores níveis deste século.
Com isso, o fluxo de capital estrangeiro tende a se mover em direção aos emergentes. A propósito, o saldo parcial de investimentos externos na B3 (BVMF:B3SA3) em agosto está positivo em quase R$ 6,5 bilhões. No ano, porém, a conta segue no vermelho, em cerca de R$ 30 bilhões. Portanto, não são os gringos que estão aplicados no IPCA+ 6%. Ao contrário, eles estão se afastando dos rendimentos robustos pagos pelas Treasuries há mais de um ano.