A CPI do Senado que trata do tema COVID acaba derivando por áreas extremamente sensíveis às interferências negacionistas na atenção à pandemia, e acaba por enfatizar eventuais desvios de conduta dos gestores governamentais, que respingam sobre a figura do Presidente da República e de membros das Forças Armadas que ocuparam espaços no Ministério da Saúde, o que promove um debate destemperado entre as partes envolvidas, criando um ambiente hostil extremamente desconfortante ao mercado financeiro, termômetro potencial do sentimento prevalecente no país.
Ocorre a percepção que inúmeros setores de governo e privados da sociedade brasileira passam a ter certo repúdio pela postura do governante maior, e isto já repercute nas pesquisas e nos riscos de reações mais incisivas que podem desestabilizar o país.
Incertezas sempre rondam o mercado financeiro, ainda que não existam razões técnicas sustentáveis, mas as psicológicas passam a interferir e os fundamentos concretos deixam de ter base sustentável e assumem diretriz emocional.
O ativo que sinaliza de imediato esta preocupação é o preço do dólar no nosso mercado doméstico, exatamente promovendo um efeito reversivo ao ambiente antecedente propício à apreciação do real, já que o COPOM com sinalizações fortes de prosseguimento da elevação da SELIC cria o antídoto técnico de impulsão da valorização da moeda nacional.
Afora este ambiente de forte conflito prevalecente, ainda perduram as preocupações com a pandemia do coronavírus no seu segundo ciclo e com novas variantes do vírus, que continuam sendo um fator de instabilidade para a retomada das atividades normais do país.
Intervenções do BC neste cenário contribuem e contribuiriam muito mais para a volatilidade, visto que, na prática, a autoridade estaria “enxugando gelo”, já que a ocorrência de pressão de alta na formação do preço da moeda americana nem sempre decorre de efetiva demanda.
Mas em ambiente tenso deve ser observada a volatilidade que pode promover movimentos alternativos de apreciação e depreciação contínuos, já que fica propício à especulação e ao “daytrade”.
O fluxo cambial financeiro permite a leitura desta sensibilização no câmbio e na atratividade do país ainda baixa para o investidor estrangeiro, já que em junho apresentou discreto saldo positivo de US$ 2,644 Bi e, em julho, em tão somente 2 dias com o clima de acirramento, já está negativo em US$ 1,195 Bi.
As perspectivas eram de que com a SELIC em alta e sua continuidade o capital estrangeiro, em especial especulativo, começasse a dar evidências de retomada de atratividade pelo país, mas o ambiente hostil e incerto no campo político parece estar neutralizando ou retardando a atitude dos investidores estrangeiros.
A Bovespa segue claudicante com discreto sinal de recuperação, mas na realidade está carente de maior aporte de investidores estrangeiros, e ocorre que as “blue chips” das commodities, que formam um núcleo limitado de papéis, já estão com os preços otimizados, sendo necessários novos IPO's que, contudo, ficam prejudicados pelo cenário político, principalmente, e o econômico, que já passa a sinalizar dificuldades para aprovação da dita reforma tributária e que pode estar pondo fora do radar a reforma administrativa.
Há certo silêncio acerca da crise hídrica que tem forte impacto inflacionário no país e poderá inibir o crescimento econômico visualizado sem sua consideração efetiva.
O Boletim FOCUS evê esta semana a SELIC de 5,50% para 6,63% e o IPCA de 6,07% para 6,11%, o PIB para 5,26% e o dólar para R$ 5,05 ao final do ano.
Acreditamos que a SELIC precisará ir além deste parâmetro, visto que a inflação sinaliza potencial para ir além dos 6,11%. O PIB em 5,26% sugere cautela, pois parece mitigar a crise hídrica, e o dólar a R$ 5,05 parece ser um patamar viável, podendo ser até menor se forem eliminadas as tensões políticas, o que parece improvável.