No artigo da semana passada fiz observações referentes aos dois primeiros conceitos que julgo relevantes na análise de empresas pagadoras de dividendos, e hoje falarei dos últimos dois.
Para recapitular, os tópicos são:
- Os lucros são suficientes para cobrir o dividendos?
- Os lucros são estáveis o suficiente para cobrir os dividendos em meio a variações de curto prazo? Caso não, a empresa tem acesso a outros recursos para financiar o dividendo?
- Os lucros são duráveis o suficiente para cobrir os dividendos num futuro previsível?
- A diretoria, além de ter a capacidade, tem o desejo de manter o pagamento dos dividendos quando a situação aperta?
3. Os lucros são duráveis o suficiente para cobrir os dividendos num futuro previsível?
Como discutido anteriormente, a estabilidade dos lucros de uma ano para o outro certamente é relevante quando o assunto é segurança do pagamento dos dividendos, especialmente para companhias que operam com níveis elevados de dívida.
Mas se estabilidade é relevante para a segurança do dividendo, durabilidade – que é a capacidade dos lucros médios cobrirem os dividendos no longo prazo – é muito mais.
Durabilidade implica que a empresa pode “apanhar” financeiramente em um ano e no ano seguinte “devolver” com um bom resultado.
Durabilidade implica numa corrente de lucros que, se não for previsível em um ano, pode ser confiável durante uma série de anos, nos quais as variações de curto prazo são excluídas da média.
Os itens a serem checados para a durabilidade são menos quantitativos e mais qualitativos do que os trabalhados ao analisar a estabilidade.
O primeiro é uma vantagem competitiva sustentável, também conhecida no mundo do value investing como “moat”.
Os moats permitem que uma empresa gere altos retornos sobre o patrimônio líquido, superiores ao custo do capital, ao longo dos anos.
Ao mesmo tempo, a vantagem competitiva blinda os lucros da companhia contra a pressão dos concorrentes.
No longo prazo, uma competição acirrada ameaça o fluxo de dividendos que antes parecia razoável, por isso ao escolher empresas pagadoras de dividendos, procure uma vantagem competitiva sustentável.
O segundo é uma demanda de longo prazo. Mesmo com a economia crescendo com o passar dos anos, algumas indústrias não participam dessa evolução e seus produtos podem se tornar obsoletos.
Um exemplo é o setor de telefonia, no início usavam-se telefones com fio, depois migraram para telefonia móvel, hoje em dia existem serviços variados de internet.
Mesmo o moat as vezes não deixando de existir, a demanda em queda resulta numa diminuição de lucros.
O terceiro é a liquidez. A liquidez de uma empresa – que é todo o dinheiro que ela tem, acrescido de todo o dinheiro que ela pode ter acesso a – é sempre relevante no pagamento de dividendos.
Lucro e fluxo de caixa vão flutuar de período em período, e acesso fácil a um montante de dinheiro ou acesso facilitado a crédito, ajudam a suavizar as variações.
4. A diretoria tem o desejo de manter o pagamento dos dividendos?
Por fim, um alinhamento de interesses no pagamento de dividendos deve existir com relação à diretoria da companhia.
As decisões tomadas, num nível hierárquico dentro da empresa, devem ser analisadas numa profundidade que evidencie a falta ou a existência de alinhamento com a distribuição de lucros.
Esteja sempre de olho no payout histórico da companhia e a possíveis mudanças na administração de um negócio.
Se sem um motivo compreensível, que se encaixe em alguns dos quesitos que foram abordados nos tópicos anteriores, a empresa decidir diminuir a porcentagem dos lucros que é distribuída, fique alerta.
Preste atenção a sinais de perigo que podem ser evidenciados pela diretoria.
Fontes de lucro não sustentáveis, débito excessivo, problemas legais, ou sucumbência a pressão interna ou externa.
O investidor, ao se empenhar e aplicar os quatro tópicos na análise de uma empresa pagadora de dividendos, desfrutará de uma decisão mais assertiva do que aquele que olha apenas o Dividend Yield.