A piora do humor fez com que várias empresas desistissem de fazer a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) neste ano. Já são mais de 20 companhias que postergaram os planos de abrir capital até aqui.
Em meio a condições consideradas desfavoráveis de mercado, com a alta da inflação e o aumento da incerteza fiscal, as empresas vêm testando o otimismo dos investidores para um novo IPO… mas só em 2023.
Medindo a temperatura antes de pular na piscina
A Havan, do empresário Luciano Hang, tentou abrir capital na B3 (SA:B3SA3) duas vezes, mas sem sucesso. Só que, neste ano, diferentemente do que aconteceu em agosto do ano passado, a oferta de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) atraiu a atenção de investidores do setor financeiro.
Com a alta demanda, a rede varejista levantou 500 milhões de reais em certificados de recebíveis imobiliários, pagando como remuneração um prêmio de 1,50 por cento sobre o CDI. A oferta foi lançada com taxa de até 1,70 por cento. Os papéis, que têm isenção de Imposto de Renda, foram adquiridos majoritariamente por pessoas físicas de alta renda, mas alocações foram feitas também em tesourarias de bancos e entre gestoras.
A oferta pode ser vista como um termômetro para indicar o comportamento do mercado em uma Oferta Pública de Ações (IPO). No caso da Havan, a oferta foi tão bem-sucedida que teve o custo da operação reduzido — a demanda superou o montante oferecido.
Possível “janela” para IPOs
O mercado de ações brasileiro começou a sinalizar possíveis janelas (melhores) para IPOs em 2023.
É factível porque o cenário no Brasil e nos Estados Unidos é de alta de juros e, por mais que por aqui estejamos mais adiantados, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) está se preparando para um movimento de aperto monetário. Como já se sabe mais ou menos o que o Fed vai fazer, os mercados já precificam a alta de juros este ano. Mas, para 2023, o cenário pode melhorar com os juros normalizando, inflação caindo e bolsa podendo retomar as altas. Nesse sentido, as empresas começam a testar uma janela boa de mercado.
Depois do CRI, vem o CRA
Outra empresa que cancelou os planos de IPO foi a rede de restaurantes Madero. Eles optaram pela emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) em mais uma tentativa de socorrer os negócios das dívidas e levantaram 500 milhões de reais, dando um novo fôlego ao restaurante.
Esse é um título tipicamente vendido para pessoas físicas, que mostraram resistência por causa dos riscos em meio às notícias de endividamento alto do grupo paranaense.