Em uma economia saudável, as empresas podem tomar recursos de terceiros para financiar seu capital de giro ou seus investimentos, já que seus negócios conseguem gerar riqueza suficiente para pagar o custo desse capital, todas as despesas da empresa, todos os outros custos, e manter uma margem de rentabilidade adequada ao risco do seu produto e do mercado.
Por outro lado, conviver com uma taxa Selic (que é a referência maior para todas as taxas, e que estabelece os parâmetros para as outras taxas que são cobradas no mercado de crédito) na casa dos 10,5% ao ano é um duro exercício de sobrevivência para as empresas, e não deveria ser assim.
Visões distintas sobre o crescimento econômico
Sabemos que a saúde de uma economia tem como um dos seus principais pilares o setor empresarial. É lá que os empregos com maior qualificação e remuneração, os produtos com maior valor agregado, os serviços tecnológicos e a inovação são criados e a maior parcela do pagamento de tributos acontece.
Porém, não existe economia saudável só com o estímulo governamental. Por exemplo, as teorias desenvolvimentais (que enxergam maior necessidade de intervenção do Estado), podem e devem funcionar, transitoriamente, ou em momentos emergenciais, mas não como política empresarial de longo prazo, uma vez que aumentam a possibilidade de causarem sérias distorções na oferta e no nível de preços.
Diferente disso, um ambiente com taxas de juros baixas, com regulação que promova respeito aos contratos, condições praticáveis aos negócios e maior liberdade econômica, ajuda a explicar o porque, em muitos países, as economias são fortes e, aqui no Brasil, continuamos a ser um país grande, mas ainda pobre (em renda per capita). Somos grandes territorialmente, mas com uma economia que ainda claudica, em eternos voos de galinha. Não deslancha de vez.
As preferências do investidor
Na perspectiva do investidor, o que você prefere? Ficar assistindo aos jogos da Eurocopa e receber 6,4% ao ano de rentabilidade na sua carteira de títulos públicos livre de inflação (o que significa não perder o poder de compra e, ainda, leva uma rentabilidade de 6,4% a.a. com risco de governo, que em tese é o mais baixo que existe), caso dos títulos do Tesouro IPCA+, também conhecidos como NTN-B.
Ou você prefere ter um negócio, com margens incertas, enfrentar concorrência todos os dias comendo teu calcanhar, ter que se diferenciar o tempo todo para não ficar obsoleto, correr atrás de clientes, enfrentar a confusão fiscal do país, manter o time motivado, pagar salários e tributos sempre em dia e, ainda, volta e meia enfrentar alguma catástrofe, como a que os gaúchos tiveram que lidar poucos dias atrás.
Estudos da Economática declaram que a margem líquida média das empresas foi 11,5% em 2021 e 6,4% em 2022. Vemos que empreender no Brasil é realmente para aqueles muito, mas muito corajosos… ou meio malucos.
Enquanto nosso empresariado está aí, tentando se safar nesse momento difícil da economia, os investidores da renda fixa, estão tranquilíssimos.
O que concluímos sobre o perfil da dívida pública e dos investidores no tesouro?
Dados do Tesouro Direto, programa bem sucedido que facilita a compra de títulos públicos por pessoas físicas, mostram um crescimento brutal no estoque de investimento e na quantidade de novos investidores. Já são R$ 139,6 bilhões de reais investidos por mais de 2.600.000 investidores ativos, dados mais recentes de maio de 2024.
Com base nessas informações, quando olhamos para o total da dívida pública, descobrimos quem está se beneficiando enormemente dessa situação. Do total da dívida pública, sabem quem são os seus principais detentores?
Fundos de Investimento e Previdência possuem 46,5% do estoque, enquanto os bancos detêm 29,5% do total. Assim, mais de 75% da dívida pública estão nas mãos do mercado financeiro, que não compra títulos públicos via Tesouro Direto. Sim, é fato que o montante nas mãos dos fundos também beneficia várias pessoas físicas. Mas não a todas (menos de 6,5% dos detentores). Fica claro que uma taxa de juros alta é realmente democrática, pois a maior parte da população perde.
Por esses motivos, se você quiser criar um negócio no Brasil neste momento, pense duas vezes. Não sabemos quanto tempo ainda a taxa ficará em níveis elevados. Se alguém disser que sabe, está mentindo. E tampouco adianta baixá-la na marretada, como em 2012. Vimos o que aconteceu em 2015 e 2016, com o PIB caindo mais de 7% no biênio, e sem pandemia.
Então aguarde um pouco, veja se não é melhor colocar seus recursos em títulos públicos e garantir uma rentabilidade livre de 6,4% ao ano. Rentabilidade esta, aliás, maior que a média das empresas americanas, atualmente na casa dos 5% (rentabilidade do índice Dow Jones neste ano).