Desde o início da pandemia a renda do brasileiro despencou com a disparada do dólar e as dificuldades econômicas impostas pela pandemia. Isso influenciou o aumento do endividamento das famílias que, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) chegou a impressionantes 76% em Janeiro. Ou seja, 3 em cada 4 famílias brasileiras estão endividadas atualmente e a inflação segue pressionando ainda mais seu poder de compra.
As perspectivas para 2022 são preocupantes, visto que já temos uma taxa SELIC de 2 dígitos que possivelmente deve chegar a 12% nos próximos meses, fato que deve encarecer ainda mais o crédito disponibilizado para as famílias, principalmente as que têm menor poder aquisitivo.
Mesmo com um grande aperto monetário de juros feito pelo Banco Central em 2021, o IPCA de Janeiro nos mostra que a inflação está longe de estar controlada, subindo 0,54%. O grande vilão da economia brasileira no ano passado continua sendo a principal preocupação para 2022, podendo se agravar com as medidas “pauta bomba” do governo federal como a PEC Kamikaze e as incertezas do cenário internacional.
É fato que a alta dos preços vem afetando os brasileiros de todas as classes sociais em escalas e proporções diferentes. No entanto, o INPC (Índice que mensura a inflação dos mais pobres que recebem até 5 salários mínimos) trouxe notícias ainda mais desagradáveis com uma alta mais expressiva de 0,67%.
O grande vilão da inflação em janeiro foi o item alimentos com uma alta de 1,11%, já a alimentação em domicílio passou de uma alta de 0,79% em dezembro para 1,44% em Janeiro. A alta do preço dos alimentos deve pressionar o índice no decorrer do ano, já que poderemos ter um novo “boom” de preços das commodities agrícolas.
Essa é uma das principais perversidades da inflação. Ela penaliza muito mais quem menos tem recursos e meios para se proteger dela. É fato que inflação passada não implica necessariamente em inflação futura, no entanto o fato de estarmos em um ano eleitoral aumenta ainda mais a incerteza da estabilidade dos preços, pois à medida que a eleição for se aproximando o governo pode ficar desesperado e recorrer a práticas populistas para melhorar sua popularidade, agravando ainda mais a situação fiscal do país.
Além das instabilidades políticas internas, teremos o início da alta da taxa de juros da economia americana a partir de março, fato que deve fortalecer o dólar e pressionar ainda mais a alta dos preços por aqui, afinal tudo o que consumimos do pão à gasolina são commodities que são cotadas em dólar. Uma apreciação do dólar significa aumento de preços para mercados emergentes como o brasileiro.
Se as medidas populistas prevalecerem veremos de primeiro momento uma queda dos preços, no entanto eles devem ganhar força a médio e longo prazo e penalizar ainda mais justamente quem menos tem condições para se proteger. E é justamente isso que pode decidir a eleição daqui a 8 meses.