A Rússia é um mercado extremamente importante e estratégico, que mantém, há anos, relações bilaterais com o Brasil. No caso da pecuária nacional, o país é um importante demandante das carnes suína, bovina e de frango. Nos últimos anos, a Rússia se consolidou como a maior compradora de carne suína do Brasil e atualmente é a quinta maior de bovina – chegou a ser a maior compradora desta proteína em 2014. Somente em 2017 (até outubro), a Rússia foi destino de quase 40% da carne suína exportada pelo Brasil e 11% da de boi.
De toda a carne bovina adquirida pela Rússia em 2016, por sua vez, quase metade saiu do Brasil (48%). O segundo maior fornecedor da Rússia é o Paraguai, que, no ano passado, foi responsável por 28% da carne bovina adquirida pelo país do leste europeu. O Paraguai já se estabeleceu como importante player no comércio internacional, apresentando potencial de crescimento e de abertura de novos mercados. No entanto, ainda que 63% da produção paraguaia seja voltada ao mercado externo, o limitado rebanho daquele país (de 13,8 milhões de cabeças de gado, de acordo com estimativas do Senacsa, ou seja, cerca de 6,3% do rebanho brasileiro) impede que o Paraguai se posicione, pelo menos no curto prazo, como o maior fornecedor russo.
No caso do suíno, a representação brasileira é ainda maior – o Brasil forneceu 93% de toda carne adquirida pela Rússia em 2016.
Isso mostra que a dependência da Rússia pelo produto brasileiro é significativa e que o país não teria muita facilidade de encontrar fornecedores num curtíssimo prazo. No caso da carne suína, ainda há a opção de alguns países europeus que vêm registrando incremento na produção – que, por sua vez, dependeriam de grãos importados do Brasil. No entanto, para esses países europeus aumentarem a produção e ocupar o lugar do Brasil na carne suína, poderia haver também problemas ambientais, já vistos no passado na Holanda e na Alemanha – nestes países, a concentração excessiva de rebanhos suínos levou a contaminação do lençol freático, resultando em problemas de saúde à população. No Brasil, a ocorrência desse tipo de evento é praticamente impossível no Centro-Oeste, por características de clima, ambiente e solo.
A Rússia também tem mostrado forte intenção de aumentar a produção interna de proteínas, dentre elas a carne suína. Para isso, o país precisaria criar uma estrutura de produção rentável, tendo em vista os elevados custos de produção com importação de grãos e estruturas para enfrentar invernos rigorosos.
Diante disso, a recente notícia de que a Rússia vai embargar as carnes brasileiras de suíno e de boi a partir de 1º de dezembro preocupa o setor nacional; porém, nem tanto. O fato de a notícia não deixar o setor alarmado também está relacionado à “tradição” de o país russo impor embargos temporários às carnes nacionais.
Além disso, outro fato importante é que tipicamente, as exportações de carne ao país russo caem nesta época do ano, devido a questões climáticas. O inverno no Hemisfério Norte neste período do ano congela boa parte dos canais da Rússia e dificulta a entrada de navios nos portos. Ou seja, de qualquer forma, as carnes brasileiras (ou qualquer outra mercadoria) teriam dificuldade em chegar ao país nesta época do ano.
Em 2016, de novembro a dezembro, os embarques de carne suína à Rússia diminuíram 43% e, no mesmo período de 2015, fortes 47,3%. No caso do boi, as reduções nos embarques são verificadas com força de outubro para novembro; em 2016 houve queda de 30% e em 2015, de 58,4%.
Os embargos russos mais recentes foram impostos temporariamente, por motivos diversos e a um, a vários ou a todos os frigoríficos nacionais. Desta vez, o serviço veterinário e fitossanitário da Rússia, Rosselkhoznadzor anunciou, no dia 20 de novembro, a suspensão das compras totais das carnes suína e bovina, tendo como alegação a presença de ractopamina em amostras da carne suína enviadas àquele país.
A substância – que promove o desenvolvimento de massa muscular do animal, que é permitida no Brasil e em outros destinos da carne brasileira e é utilizada na produção de suíno – ainda é proibida na Rússia. Vale ressaltar que a substância é legalizada em países considerados extremamente exigentes no quesito sanitário, tais como Estados Unidos e Canadá. Além disso, não há comprovação de possíveis malefícios do consumo da carne com essa substância. Alguns analistas especulam que o embargo seria uma certa pressão russa para liberar a entrada de trigo e de outros produtos daquele país no Brasil.
FUTURO – Colaboradores do Cepea são unânimes. Todos acreditam que o embargo será suspenso em pouco tempo. Há, ainda, um certo otimismo do setor nacional quanto às futuras vendas da carne àquele país. Em 2018, a Rússia sediará a Copa do Mundo, evento que pode elevar ainda mais a demanda por carne.
SINAIS DE RECUPERAÇÃO – Após a crise nos últimos anos, a Rússia vem dando sinais de recuperação. Dados do Banco Mundial indicam que o PIB russo deve crescer cerca de 1,4% neste ano, percentual pequeno, mas bastante significativo para uma economia que, em 2015, teve queda de 2,8% no PIB.