Estava me preparando para comentar apenas sobre economia, mas não teve jeito. As escaramuças políticas e os fatos de Brasília continuam a nortear os movimentos dos mercados e nesta terça-feira não será diferente, ainda mais depois da “bomba Edson Fachin”, ministro da 2ª turma do STF e relator da Lava Jato. Ao fim da tarde desta segunda, ele anulou todas as acusações do juiz Sergio Moro e do MP de Curitiba contra o ex-presidente Lula da Silva.
Num movimento ousado, Edson Fachin anulou todos os processos contra o ex-presidente Lula em curso na 13ª Vara de Justiça do Paraná - triplex de Guarujá, sítio de Atibaia e Instituto Lula. Seu argumento foi de que estes fatos não estão relacionados com a Lava Jato (conluios entre empreiteiras e Petrobras (SA:PETR4)), objeto de investigação da força tarefa em Curitiba. Por isso, recomeça-se o jogo e todos estes contenciosos são avaliados, ainda em primeira instância, pela Vara em questão, em Brasília. Neste contexto, é bem possível, por tudo recomeçar, que Lula acabe beneficiado pela prescrição dos crimes.
Na verdade, num movimento antecipatório, ao anular tudo que partiu do MP de Curitiba, avaliado por Sergio Moro, Fachin tirou de parte da segunda turma a capacidade de julgar a parcialidade destes atores nestas investigações. Talvez, numa avaliação mais pragmática, isso tenha sido bom para a “task force” da Lava Jato, pois ficam preservadas outras investigações, que não foram “julgadas”. Corria-se o risco de tudo ingressar na nulidade pela acusação de parcialidade por parte de Sergio Moro e Deltan Dellaghnol. Isso evoluiu depois de escutadas as gravações da “Vaza Jato”, ilegalmente obtidas pelo The Intercept.
Com certeza. Se Fachin não tivesse se antecipado, talvez toda a Lava Jato estaria sob suspeita. Como Edson Fachin é relator da Lava Jato no STF, sua decisão é preponderante e não poderá ser revista. Agora Lula se torna “ficha limpa”, ganha elegibilidade e retorna ao “game eleitoral”. Alguns “nós”, no entanto, precisam ser desatados. Se havia alguma irregularidade, quase que administrativa, da vara de Curitiba não poder julgar os ilícitos de Lula da Silva, por não estar na sua jurisdição, por que isso não foi corrigido lá atrás? Além disso, outros delitos diversos, que não da Lava Jato, também acabaram julgados pelo MP de Curitiba. Ou seja, há sim a possibilidade da avalanche de recursos contra a Lava Jato nos próximos dias.
Impacto contra Sergio Moro
Claro que a 2ª turma, tendo Sergio Moro como alvo, não deve se deixar levar e tentará envolver o ex-juiz em outras decisões polêmicas. Nas gravações da Vaza Jato, até aqui divulgadas, não observamos ilícitos, mas apenas comentários depreciativos sobre os réus envolvidos. Não sabemos se Sergio Moro ainda tem alguma ambição política. Com certeza, ele é um dos personagens mais visados pela turma do Congresso, encalacrada pela Lava Jato. Para Artur Lira, presidente da casa, “Lula pode até merecer absolvição, Moro jamais”. Para bom entendor, meia palavra basta.
Impactos eleitorais
Achamos que o “jogo eleitoral” para 2022 ficou totalmente em aberto. Embaralhou tudo! Se alguns consideram que Bolsonaro acha bom este “desenlace”, pela possibilidade de polarizar com o desgastado petismo lulista, nós não nos posicionaríamos desta forma. Ainda precisamos saber se Lula sairá como candidato. Caso aceite o desafio, Bolsonaro terá que fazer um “freio de arrumação” considerável, abandonando desde já sua política fiscal mais austera e abrindo os cofres, por exemplo, para mais auxílio emergencial até o ano que vem. Terá, literalmente, que “comprar” o eleitorado mais humilde e mais exposto ao populismo de sempre. Usará à vontade a máquina pública. Junto, terá que pensar numa reviravolta no seu negacionismo frente à pandemia, esquecendo bobagens como não usar máscara, rejeitar o isolamento social, tratamentos alternativos, e correr atrás das vacinas.
No front das esquerdas, com Lula no “game”, Ciro Gomes terá que se movimentar com mais contundência para obter uma coalizão com a centro-esquerda ou mesmo centro-direita, como o PSDB, o DEM, Rodrigo Maia e outros. Não descartamos, embora consideremos remotas as chances, uma união entre as esquerdas e o PT, só havendo dúvidas sobre quem seria o vice. Se isso se confirmar, endurece o jogo para o outro lado do bolsonarismo.
Na verdade, o espectro a ser cortejado é o centro. Podemos pensar na migração de Ciro, ou mesmo alternativas como Luciano Hulck, Mandetta, Eduardo Leite ou João Dória. Claro que mantida, a polarização Lula x Bolsonaro, este deve perder espaço. Mas será que é o que quer a sociedade como um todo? Moro deve apoiar um destes candidatos e esperar pela indicação do STF caso consiga que o seu candidato seja eleito. Não acreditamos que ele ingresse na disputa.
Enfim. Nossa leitura é que cresce um movimento pelo equilíbrio, pelo bom senso, por uma “terceira via”. Acreditamos que há um cansaço pelos extremismos de esquerda ou de direita até aqui praticados.
Comportamento dos ativos
Bolsa no Brasil em forte queda e NY em tendência de alta, diante da acomodação dos “yelds” dos Treasuries norte-americanos. O pacote Biden, votado no Congresso, mas muitos consideram haver ajustes necessários. Uma readequação deve acabar acontecendo. Neste cenário, nos EUA o dólar segue oscilando (o real perdendo valor), a inclinação do juro acontecendo e a inflação “rondando”. No Brasil, o mesmo acontece, com a inclinação dos juros de curto e longo prazos segue. Aguardemos a reunião do Copom na semana que vem.
Bons negócios a todos!