Apesar da semana do Carnaval ser reduzida para o mercado brasileiro, com somente dois dias e meio de negociações, tivemos divulgação de duas informações relevantes para a consideração do cenário econômico de curto prazo. Nos EUA, a minuta da última reunião do FOMC reforçou nossa perspectiva de que o Fed vê com preocupação o alívio recente das condições financeiras. Por outro lado, o IPCA-15 de janeiro registrou leitura acima do esperado e destaca a dificuldade de convergência da inflação para a meta.
Em relação à minuta do FOMC, o highlight de destaque aponta para que alguns participantes preferissem uma elevação da taxa de juros em 50 pontos base (em vez de 25 como implementado).
As projeções do corpo técnico mostram tanto uma taxa de crescimento de PIB maior, como uma taxa de desemprego menor do que a antecipada na reunião de dezembro. Como esperado, o cenário destaca o enfraquecimento na absorção doméstica em contraposição a pouca perspectiva de que a recomposição de estoques possa ser sustentada. Por outro lado, nota-se que a inflação medida pelo PCE (headline e subjacente) é projetada abaixo do antevisto na reunião de dezembro.
A discussão dos participantes merece, como de costume, maior destaque. Por um lado, o comitê aponta para a perda de ímpeto na demanda agregada, notadamente em setores sensíveis ao patamar de juros (housing). Antecipa-se manutenção da queda no consumo das famílias durante o ano, impacto tanto das condições financeiras mais apertadas, como da perda gerada pela inflação.
Em relação aos juros, nota-se que houve defesa por parte de alguns participantes de uma nova elevação da taxa em 50 pontos base em vez dos 25 efetivamente implementados. A discussão indica, no entanto, mais uma perspectiva de chegar rapidamente ao patamar terminal do que possível elevação deste nível terminal. Quanto a isso, destaca-se evidentemente também que o comitê antevê a necessidade de juros em patamar restritivo durante período prolongado de forma a garantir a convergência da inflação.
Aqui no Brasil, o IPCA-15 de fevereiro registrou alta de 0,76%, acima da mediana do mercado (0,72%) e das nossas expectativas (0,65%).
Todos os grupos registraram variação positiva, com exceção de vestuário (-0,05%), cuja queda é meramente residual. Alimentação e bebidas arrefeceram de 0,55% para 0,39%, mas ainda estão acima de nossa estimativa original de 0,24%. Por dentro do índice, o aumento foi equânime, com Alimentação no Domicílio registrando alta de 0,38% e Alimentação Fora do Domicílio avançando 0,40%. Também constituindo uma surpresa inflacionária temos Comunicação variando 0,78% vis a vis nossa prior de 0,06%, sugerindo uma maior resistência de Combo de telefonia, internet e TV por assinatura.
A leitura traz aspectos tanto positivos como negativos. Por um lado, parte da pressão inflacionária tem caráter temporário, sendo apenas um sintoma da sazonalidade de Educação. Por outro, o headline estressado em antecipação a reoneração de impostos, traça um primeiro trimestre preocupante, em especial quando o relatório Focus já apresenta não convergência da inflação à banda superior da meta, inclusive para 2026.
Em suma, tanto o ambiente externo como o ambiente doméstico sugerem que passaremos por um ciclo de juros mais extenso do que o que é precificado atualmente pelo mercado. Essa leitura está em linha com nossa projeção que antecipa a taxa Selic em 13,75% até o final do ano e a baixa possibilidade de corte da taxa de juros dos EUA durante este ano.