Finalizamos julho focando muito mais e com maior rigor dados americanos e europeus, tanto econômicos quanto os decorrentes da pandemia do coronavírus, contudo, é imperativo que haja de nossa parte maior atenção com os dados brasileiros e a grandeza dos desafios postos ao país no curto prazo, o que, a rigor, até impede que se tenham projeções com razoável sustentabilidade para o médio e longo prazo, somente anseios.
Observou-se a derrocada do PIB americano, europeu, pontualmente de alguns países europeus, sempre observando a China e até do México constatando a grandeza dos danos causados pela pandemia, mas por aqui o foco tem sido em projetar tão somente as estimativas otimistas para o nosso PIB anual, embora negativo, sem destacar, a exemplo do que ocorreu com a observação sobre as outras economias, de que o PIB brasileiro do 2º trimestre poderá ultrapassar queda de 12,0% ou mais.
Além disto, tem faltado ênfase na observação de que o déficit das contas públicas é atemorizador, podendo chegar ao final do ano entre 95% a 100% do PIB, algo como R$ 900,0 Bi quase equivalente a 6 vezes os déficits habituais mais recentes, e sem destacar que isto “deverá ser pago por todos os brasileiros”!
Este montante se configura demasiado para a capacidade do país que tem um volume de desempregados impressionante, com grande expansão da favelização e dependência financeira do governo da população carente, e ainda prevalece a percepção, embora se procure não se destacar com esta ênfase, no centro da crise da pandemia do coronavírus, que revela números crescentes de infectados e mortalidade, já havendo até sinais de uma segunda rodada, menos intensa, pontualmente em alguns Estados.
O auxílio magnânimo do governo com programas de assistenciais à população mais carente é finito e logo serão fortemente afetados nos volumes de recursos que vem injetando na economia, e as alterações de excepcionalidade nas regras trabalhistas deverão ser revistas, havendo uma clara tendência de mudança de hábitos e aumento do desemprego.
A inflação pelo IPCA é baixa, o juro é baixo, mas o crédito não flui para as pequenas e médias empresas por questões óbvias de risco comercial, e este é o fator que reajusta os salários, enquanto o IGP-M é dantesco, já atingiu 9,27% nos últimos 12 meses, mais do que o triplo da inflação e este é o índice que corrige os contratos e a maioria os serviços na economia.
Então, como se tudo fosse normal, ouvimos de membros do governo de que a retomada virá com o impulso da demanda reprimida.
E fica no ar a pergunta: “com que dinheiro?”.
Vamos aguardar os dados mais efetivos e recentes da indústria, varejo e serviços, este em especial, mas não podemos nos deixar empolgar com alguns números forjados a partir de bases fragilizadas e que, na maioria das vezes, se trata de reposição de estoques debilitados e consumo através de cartões de crédito, que impõe que se acompanhe a adimplência no setor.
Ocorrem movimentos eufóricos em torno de algumas marcas comerciais e empresariais, mas o que está fomentando a demanda nas mesmas é a concentração decorrente da perda da mobilidade dos consumidores, e muita pela facilidade do crédito, mas diretamente dos cartões de crédito
Enfim, urge que se tenha um choque efetivo de “realidade” no país!
A participação do investidor pessoa física na B3 subiu em julho de 24,2% para 27,0% e isto é decorre do juro baixo que desmotiva o investimento na renda fixa, mas se a sustentabilidade da B3 se mostrar frágil ou tendente a se revelar uma “bolha”, a debandada será geral na direção da tradicional poupança, onde se ganha pouco, mas nominalmente não se perde.
Observada com rigor a sustentabilidade do viés de alta da B3 ainda é muito frágil, por isso ocorre sempre a insinuação de que está convivendo com uma “bolha”
Há um grande número de IPO´s postos para realização, mas sem o investidor externo será difícil e as perspectivas não sinalizam que retornarão tão cedo ao mercado brasileiro, a despeito da excepcionalidade da liquidez global, pois há insegurança em relação ao Brasil e a principal advém da exuberância da questão fiscal com a grandeza do déficit, a despeito do CDS estar em patamar equilibrado dada a situação.
Atrair o interesse dos investidores estrangeiros nesses IPO´s é o grande desafio para a sustentabilidade de recuperação da B3.
O dólar “sinaliza” que o preço para o ano está “dado”, ajustado, no intervalo entre R$ 5,00 a R$ 5,50, tendendo ao meio R$ 5,25. Já não há receios de intensificação maior de saídas e remotas ainda de ingressos de recursos externos do país, depois da exuberância dos números negativos em 2019 e do acréscimo das retiradas financeiras este ano com mais US$ 42,953 Bi até o último dia 24, tendo algo em torno de US$. 5,0 Bi sidos em julho.
Sabidamente o “dólar alto” atende à política do governo para estimular a retomada da atratividade perdida do país e torná-lo “barato” para o capital estrangeiro, em especial para as privatizações e investimentos na infraestrutura demasiadamente carente do país.
O câmbio sofre da impertinente volatilidade que prejudica os negócios e ainda é significativa, embora já tenha sido maior, e que é atribuído ao “juro baixo”, o novo normal no Brasil e que pelo noviciado provoca efeitos ainda não bem identificados em suas causas, e está “sob observação” do BC.
Enfim, há um ou outro sinal na economia que estimula o otimismo, mas a sustentabilidade ainda é frágil e é preciso que haja visão mais cética a respeito para que não haja riscos de percepções errôneas quanto a economia e quanto a pandemia, e contrariamente ao anseio e necessidade de retomada das atividades, ocorra desapontamentos.
Os riscos em perspectivas são relevantes e precisam ser focados frontalmente.