Publicado originalmente em inglês em 28/04/2021
O cobre está prestes a registrar seu segundo mês de valorização de dois dígitos, após atingir a máxima de 10 anos. Mas não é por isso que você está aqui. Você está lendo este artigo para saber se o metal ainda tem mais espaço para subir ou se a festa já está acabando – ou ainda, se você já está investido, para reafirmar sua posição.
Estou aqui para falar sobre essas três questões e mais: não seria uma má ideia aumentar a exposição ao cobre, já que o metal tem tudo para estar entre as cinco principais commodities vencedoras deste ano.
As negociações do mês de abril estão chegando ao fim, e o cobre à vista na Comex de Nova York e seu contrato futuro de três meses na Bolsa de Metais de Londres (LME) registram alta de 11%, após uma valorização de um pouco mais de 15% cada um em fevereiro.
Para o ano, o metal vermelho, como também é chamado, some mais de 25%.
Isso é suficiente para deixá-lo atrás de expoentes do mercado de energia, como a gasolina (44%), o petróleo norte-americano e o óleo diesel para calefação (ambos subindo 29%), ficando praticamente parelho com o Brent, referência do mercado petrolífero, que sobe um pouco mais de 26%.
Outras commodities também estão tendo desempenho excepcional, como o milho e a soja, que já subiram mais de 30% cada após uma tempestade perfeita formada pelo clima desfavorável e a demanda explosiva.
Nos metais, incluindo o ouro, o cobre é a maior aposta para posições compradas. A exceção é o estanho, que subiu 30% devido a um déficit crônico de oferta plurianual.
China e EUA lideram crescimento
Os fundamentos apontam que o cobre é uma sólida aposta com base no crescimento de duas grandes economias após a pandemia do coronavírus: a chinesa e a americana.
Enquanto a China se recompõe da devastação da pandemia, procura colocar de pé praticamente uma segunda versão do seu plano de infraestrutura de 2000, responsável por torná-la a maior consumidora de metais, principalmente cobre.
Mesmo antes da Covid-19, os EUA já estavam promovendo uma revolução verde que irá exigir uma quantidade enorme de cobre nos próximos anos para a eletrificação da maioria dos novos veículos vendidos e estações de carregamento. Isso não inclui o cobre necessário para cabeamento e condução de eletricidade em outras indústrias que querem deixar de emitir poluição por combustíveis fósseis.
Como se não bastasse, agora o governo Biden quer reduzir pela metade as emissões de todos os americanos até 2030.
As propostas ecológicas dos EUA incluem subsídios a proprietários privados de carros elétricos, a instalação de mais 500.000 novas estações de carregamento pelo país, além da conversão de 500.000 ônibus escolares e de toda a frota de transporte público para veículos com emissão zero.
Somente essas estações e esse volume de ônibus movidos à bateria exigiriam quase 200.000 toneladas de cobre, de acordo com uma estimativa do banco de investimento Jefferies. A energia renovável geralmente requer cerca de cinco vezes mais cobre do que as fontes convencionais.
Goldman Sachs: cobre pode atingir US$ 15.000 até 2025
A demanda combinada de China, UE e EUA pelo cobre é o que provavelmente levou o Goldman Sachs a prever, há duas semanas, que o metal poderia atingir US$ 15.000 por tonelada na LME até 2025, em comparação com sua cotação atual de US$ 9.000.
O cobre será essencial para a descarbonização e substituição do petróleo por fontes de energia renovável e, neste momento, o mercado está enfrentando uma escassez do produto, o que pode impulsionar seu preço em mais de 60% em quatro anos, na visão do Goldman.
Mas, até o fim da década, a demanda não dará trégua, disparando 900% daqui até 2030 e alcançando 8,7 milhões de toneladas, caso as tecnologias verdes sejam adotadas em massa, nas estimativas do banco americano. Mesmo que esse processo seja mais lento, a demanda pode atingir 5.4 milhões de toneladas, quase 600% maior do que atualmente, prossegue a instituição, chamando o cobre de “novo petróleo”.
Em uma atualização emitida na quarta-feira pela manhã, o Goldman previu isso por uma tonelada de cobre na LME:
“Atualizamos nossa perspectiva para o cobre para a média de US$ 9.675/t em 2021, US$ 11.875/t em 2022 e US$ 12.000/t em 2023 antes de uma alta substancial para US$ 14.000/t em 2024 e US$ 15.000/t em 2025. Nesse contexto, também atualizamos nosso alvo de 12 meses para US$ 11.000/t.”
Tirando a média de 2021, a previsão de preços foram todas mais altas do que o pico de US$ 9.964,25 atingido na LME na terça-feira, o mais alto desde fevereiro de 2011.
Por mais que eu esteja entusiasmado com o cobre, a eletrificação, novas energias e a promessa de um planeta com uma menor pegada de carbono, não posso deixar de notar tanta euforia dos bancos de investimento de Wall Street.
Não tenho posições no cobre, tampouco tenho a intenção de fazê-lo, pois adoto a política de não operar os ativos sobre os quais pesquiso e escrevo nos mercados de commodities. Mas, se tivesse que investir no cobre, restringiria meu horizonte a três ou cinco anos no máximo, sem deixar de atualizá-lo. É isso o que sugiro a você.
E se o impacto imediato e de curto prazo é mais relevante para você, os atuais distúrbios em minas no Chile, maior produtor mundial de cobre, oferecem mais um componente em favor da alta dos preços do metal.
Os últimos transtornos na oferta do cobre ocorreram na segunda-feira, depois que trabalhadores portuários chilenos entraram em greve em resposta à iniciativa do presidente Sebastián Piñera de bloquear uma lei que lhes permitiria fazer uma terceira rodada de retiradas antecipadas dos seus fundos de pensão.
“O risco de oferta ganhou impulso com a ameaça de interrupção de embarque do cobre por parte dos trabalhadores portuários do Chile, maior produtor do metal. Ao mesmo tempo, sinais de relação continuam aparecendo em todas as partes, gerando uma poderosa combinação de preços muito mais altos”, afirmou a TD Securities, ao comentar sobre os acontecimentos no país sul-americano, que produz um quarto do cobre oferecido no mundo.
O curioso é que a própria TD Securities admitiu que suas posições de venda a descoberto no cobre foram “stopadas” quando os preços atingiram as máximas de 10 anos. Não deixa de ser impressionante que um banco de investimentos dito especialista em metais estivesse vendido no cobre neste momento.
“Embora as taxas de frete global e os tempos de carregamento indiquem que os gargalos já estejam diminuindo, com as métricas bem abaixo das máximas de fevereiro, uma possível greve no Chile representa um risco substancial em vista dos mercados altamente concentrados no metal. Nesse contexto, até mesmo um pequeno transtorno é capaz de gerar impactos de grandes proporções nos preços”, afirmou Bart Melek, estrategista-chefe de commodities da TDS.
Do ponto de vista técnico, o cobre segue firme para registrar novas máximas no curto prazo, de acordo com o analista técnico Sunil Kumar Dixit, de Kolkata, Índia.
Gráficos: cortesia de SK Dixit Charting
Dixit baseia sua análise nas máximas de 10 anos do cobre na Comex a US$ 4,5250 por lb na terça-feira, dizendo:
“Após romper com sucesso o nível de 4,10 e 4,38, o cobre entrou na região de 4,50. Nosso alvo para a próxima pernada de alta é 4,65”.
Dixit, no entanto, afirma que o Índice de Força Relativa do cobre a 91,90/96,75 pode gerar uma reversão temporária de preços no curto prazo.
O contrato à vista em Nova York caía 6 centavos, ou 1,3%, a US$ 4,42 por lb no início do pregão desta quarta-feira.
“Se houver mais uma pausa, podemos ver uma consolidação nas áreas de suporte a de 4,38 a 4,10”, segundo Dixit. “É um topo baixista que pode durar até três dias antes de uma virada".
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.