O grande evento do segundo semestre para a economia brasileira teve o seu primeiro ato concluído no domingo. O primeiro turno da eleição, amplamente coberto pela mídia, não trouxe de cara a vitória para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme esperado por alguns institutos de pesquisa. Já a pesquisa do instituto Futura Inteligência, contratada pelo Banco Modal (BVMF:MODL11), mostrou, na última sexta-feira, uma diferença de cerca de três pontos percentuais a favor do ex-presidente Lula. Portanto, o resultado do pleito ficou absolutamente dentro de nossa margem de erro.
Como muito divulgado também, vimos ampla vitória dos candidatos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições subnacionais e no legislativo. A conclusão inicial do mercado neste sentido é que, mesmo com uma possível vitória em segundo turno do ex-presidente Lula, sua capacidade de avançar políticas que impliquem em aumento de gastos permanentes acaba por ficar mais limitada.
Este ponto de análise é fundamental, reforçando o argumento que colocamos anteriormente sobre a centralidade da questão fiscal para o desempenho dos mercados independentemente de quem saísse vitorioso da eleição presidencial. Na prática, o mercado reagiu com redução dos juros futuros, apreciação do real e avanço da Bolsa.
O cenário para o segundo turno é incerto. Por um lado, o precedente argumenta que o vitorioso no primeiro turno tende a repetir o resultado no segundo. A diferença entre ambos os candidatos também parece razoavelmente grande. Por outro, a melhora de indicadores econômicos, principalmente do mercado de trabalho em conjunto com o momento positivo pelo desempenho do presidente Bolsonaro nas urnas, sugere algumas possibilidades para que a diferença diminua.
De fato, a primeira pesquisa da Futura Inteligência contratada pelo Banco Modal sugere que a diferença entre ambos os candidatos está próxima de três pontos percentuais nos votos totais. Ou seja, estamos em uma situação de empate técnico por conta das margens de erro. Outro fator interessante é que a abstenção, que não é medida diretamente e costuma subir do primeiro para o segundo turno, poderia cair neste ano. Se de fato ocorrer, isso somente reforçaria o quão atípico é este ciclo eleitoral se comparado aos anteriores.
De toda forma, permanecem os alertas em relação à situação dos mercados. Nossa posição fiscal segue ensejando cautela, o que é reforçado pelas promessas eleitorais. Já a atividade econômica, que mantém perspectiva positiva para o ano (apesar das leituras negativas da produção industrial e das vendas no varejo desta semana) deve começar a desacelerar pelo impacto dos juros em patamar restritivo. Finalmente, temos que o cenário externo segue muito delicado. Juros em ascensão nos EUA raramente se traduzem em um momento positivo para economias emergentes. Ou seja, independentemente do segundo turno, persistem várias preocupações para a conjuntura macro e, consequentemente, para o desempenho dos mercados.